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Abortando responsabilidades

Vamos lá, você não tem coragem de dizer, mas eu tenho: o aborto não é questão de liberdade feminina, aborto é aborto e ponto. Isto é: essencialmente aborto é matar fetos humanos, sem demais alegorias retóricas, fantasias abstratícias e apegos emocionais; antes de se discutir problemas sociais, antes de trazer à tona o debate filosófico milenar sobre a liberdade e a robusta causa feminina, antes de tudo isso, abortar é matar um bebê humano. Digo isso porque a vida é o sustentáculo de tudo, o arrimo sem o qual todo o resto se torna dispensável; se não há vida, não há nada mais!

E não venha me falar sobre condições precárias de criação, pobreza, e demais situações análogas, como se elas justificassem o ato do aborto; obviamente que eu sei que existem tais aporias humanas, não obstante, se a morte de um feto for justificável por sua futura pobreza, o que nos impedirá de matar também a mendigos e demais indigentes agora mesmo? E o pior, se tal situação for questão de liberdade humana, então matar pobres seria algo classificável como “justiça social” ou “direitos humanos”? Hitler estaria orgulhoso de tal raciocínio eugênico, aliás.

Pois é, meu caro, cuidado com as ideias que você nutre e as defesas políticas que ardorosamente ostenta, você pode estar ao lado de Hitler mesmo que o critique no Facebook. Como nos recorda Richard Weaver, as ideias têm consequências.

 

Não adianta nada criticar o nazismo e defender o aborto:

Segundo John Powell, em seu livro Aborto: Holocausto silencioso, há cerca de 56 milhões de abortos induzidos ao ano; os dados são da OMS e do Instituto Guttmacher, referentes aos anos de 2010-2014. Ainda segundo os apontamentos da pesquisa, houve um aumento de aproximadamente 6 milhões de abortos desde os últimos levantamentos, de 1990-1994.

No entanto, para quem está neste debate há algum tempo, sabe que a OMS e o tal Instituto Guttmacher atuam como braços da IPPF (International Planned Parenthood Federation), a multinacional do aborto; por isso mesmo, meus caros, não se deixam enganar. Desta forma, é prudente duvidarmos dos números que eles nos oferecem; a tendência é que tais mostradores sejam ainda mais espantosos.

Para termos um panorama mais concreto — em números aproximados — 56 milhões de abortos ao ano significa 5 holocaustos e a metade do total de assassinatos causados por todos os regimes comunistas em 100 anos. Estima-se que o comunismo, desde 1917, tenha matado mais de 100 milhões de pessoas ao redor do globo — segundo os dados dos historiadores de O livro negro do comunismo —; apesar de aterrador, 100 milhões de mortos seria um número facilmente batido em apenas dois anos pela contagem oficial dos abortos induzidos (56 milhões ao ano). Ou seja, o que o comunismo assassinou em 100 anos, o aborto assassina em 2; a modernidade mata mais com abortos do que todos regimes totalitários do século XX juntos.

 

O contraceptivo dos já concebidos:

Não é razoável crer que, dos 56 milhões de abortos ao ano, 30% sejam em decorrência de estupros, anencefalia e demais complicações das gestações. Não existe um estudo mundial nos dando estimativas — sequer aproximativas — de tais números de abortos nesses referidos casos; todavia, pela lógica, julgamos ser números minoritários[1] frente àqueles abortos que são realizados unicamente a partir da vontade livre (ou não) da mãe[2].

O que nos resta é a conclusão de que as mulheres estão usando do aborto como “contraceptivo” de um feto já concebido. Eu sei, isso é ilógico, mas desde quando ser lógico importa na modernidade?

E veja, eu sei que tal resposta pode ser pesada e até mesmo agressiva para alguns, mas é uma conclusão evidente. Não podemos abonar um fato inconveniente, e nem adoçá-lo, em troca de risinhos e tapinhas nas costas, como dizia Jordan Peterson: “Use o seu juízo e proteja-se da compaixão e piedade totalmente desprovida de senso crítico” (PETERSON, 2018, p. 84). É sabido, por exemplo, que inúmeras clinicas de aborto nos Estados Unidos são estrategicamente colocadas em frente às universidades e escolas secundárias. Ora, por que será, não é mesmo? Respondo: é a lei do capital: “vá à demanda, não importa onde ela estiver”.

Não é raro encontrar jovens americanas que já realizaram quase uma dezena de abortos e hoje sofrem problemas fisiológicos e psicológicos incuráveis, muitas delas se suicidam ou desenvolvem patologias psíquicas vitalícias; é o que mostra o documentário de Lucky McKee, denominado: Blood Money (Dinheiro sangrento, em tradução livre).

 

O aborto da responsabilidade:

No entanto, tal método “contraceptivo” moderno não é exatamente uma maneira de se livrar — pura e simplesmente — do bebê, é antes um método contrarresposabilidade. Já percebeu que a era onde mais se fala em sexualidade e liberação sexual, transformando-os em programas em TV aberta, matéria escolar, pedagogia infantil, apostilas e brincadeiras de final de tarde, é a mesma época que tem horror à fertilidade feminina. Nos séculos onde a transa tornou-se método de “desestresse” e passatempo, são os mesmos séculos que lutam incessantemente para liberar o aborto com a suprema e delirante desculpa da “liberdade das mulheres”. Como se entre os bebês abortados não morressem um batalhão de meninas que tiveram suas vidas brutalmente interrompidas em nome de uma “liberdade feminina” que, infelizmente, não as contemplavam.

Tal lógica é o mesmo que dar uma bola de futebol para uma criança e dizer para ela: “você pode fazer de tudo com essa bola, menos jogar futebol”. Ou seja: o sexo, hoje, tem milhares de serventias, menos aquela para o qual naturalmente foi feita para ter — a gravidez. É o exato reluzir da patologia moderna, denominada por mim de “irresponsabilidade compulsiva”. Quando falo de “irresponsabilidade compulsiva”, trato justamente daqueles que querem constantemente se livrar das consequências naturais de seus atos impensados e eivados; a modernidade quer usufruir das benesses de tudo que a cerca, sem nenhum autocontrole, trava moral ou julgamento das decorrências de suas práticas. Querem plantar mandioca e colher morangos; querem agir com estupidez, sem, todavia, se responsabilizarem pelas consequências de suas escolhas.

Em suma, querem transar loucamente, no entanto, sem arcarem com as consequências naturais — e quando digo “naturais” são NATURAIS mesmo — do sexo. Na era em que o sexo é algo banal, o aborto tornou-se solução para a gravidez. Eis o paradoxo de uma realidade demente.

Sem falar, meus caros leitores, que o aborto é um negócio extremamente lucrativo; não entrarei em detalhes sobre este submundo econômico que gira entorno da IPPF e outras instituições apoiadores da causa abortista; mas a nós basta saber que o aborto é um verdadeiro “toque de Midas”. Sempre haverá quem queira se livrar de uma gravidez e, quem puder solucionar tal problema, sempre será muito bem recompensado. Entretanto, essa questão terá que aguardar um outro artigo.

 

Liberdade feminina uma ova:

O lobby do aborto na modernidade não é — e nem nunca foi — questão de liberdade feminina, mas de aplacamento de consciências e abandono de responsabilidades; é aquela mão de tinta que passamos numa parede danificada por uma martelada errada que queríamos dar num prego, é aquele remendo de última hora que você quer costurar em uma calça. No entanto, a mão de tinta e o remendo, quando falamos de gravidez, acaba custando uma vida. Ou vocês ainda não sabem que é transando que engravida uma mulher? Lembrando que essa mão de tinta não é exclusividade da mulher que vai deitar na maca para abortar o seu filho, mas também do namorado canalha, do marido criminoso e do amante covarde que financia, força e, por vezes, obriga a mulher a abortar.

Definitivamente, meus caros, aqueles que lutam pela liberação do aborto (homens e mulheres), na verdade sequer buscam abortar seus filhos, querem antes abortar as incumbências de seus atos impensados de uma noite onde a promiscuidade deu as cartas e decidiu as suas sortes. O aborto, na maioria das vezes, é o ato de quem quer matar sem precisar olhar nos olhos daquele que será assassinado, é o ato de resolver com uma composição salina, agulha ou o fórceps, as consequências de seus atos vadios e desordenados. A única liberdade que aborto traz em seu bojo, é a liberdade de matar um bebê humano.

 

Referência:

PETERSON. Jordan. B. 12 regras para a vida: um antídoto para o caos, Alta Books: Rio de Janeiro, 2018.

[1] Ainda que números minoritários, de 56 milhões, ainda sejam muito mais que expressivos e assustadores.

[2] Principalmente em países cujo o aborto é legalizado.

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As posições expressas em artigos por nossos colunistas, revelam, a priori, as suas próprias crenças e opiniões; e não necessariamente as opiniões e crenças do Burke Instituto Conservador. Para conhecer as nossas opiniões se atente aos editoriais e vídeos institucionais

Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, colaborador do Jornal Gazeta do Povo, ensaísta e editor chefe do acervo de artigos do Burke Instituto Conservador.

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