Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Não há diplomacia com abortista

Nunca fui modinha:

Nunca fui a favor de Mourão para vice-presidente, apesar das opiniões conservadoras contrárias. A verdade é que eu nunca fui modinha, prova disso é que tomava cerveja gourmet puro malte desde quando denominávamos tal cerveja apenas de cerveja mesmo; escutava Tião Carreiro & Pardinho enquanto todos escutavam Furacão 2000. Muitos pediam por General Mourão para vice, eu pedia Luiz Philippe de Orleans e Bragança ou Janaina Paschoal — ainda que a preferência fosse o primeiro.

Luiz Philippe, que em entrevista para ao Burke Instituto Conservador se mostrou altamente tendente a esse convite, dizendo que sua missão era ajudar o país, e se fosse com o cargo de vice ele o aceitaria de bom grado; era, pois, a meu ver, o mais indicado para a vice-presidência da República. Dom Luiz é um dos homens mais preparados para a vida política que esse país produziu no século XX e início de XXI; inteligência, astúcia, prudência e patriotismo são algumas características que eu pude observar e conhecer pessoalmente. Fato é que ele só esperava o convite de Bolsonaro; mas aí então veio Mourão.

Mas não adianta agora chorar o leite derramado, temos que acatar o que temos e buscar evoluir. A verdade é que ninguém, de maneira nacional, conhecia claramente as posições de General Mourão; tudo que se sabia dele era maneira geral, que era um homem de posições firmes — principalmente em relação a segurança pública — e um cara não lá muito prudente com as palavras. Além disso, nada mais a destacar referente àquilo que se sabia de suas posições morais e políticas.

Como dizia Ernst Cassirer, o homem teme o desconhecido, e por isso mesmo sempre me coloquei contra a candidatura de Mourão a vice — mesmo sob protestos de muitos conservadores, diga-se novamente. Uma das desculpas oferecidas para que Mourão fosse o vice, era que ele inibiria as tentativas de impeachment da esquerda contra o Bolsonaro. Pois bem, aí está agora a esquerda a afagá-lo e, depois da entrevista que concedeu ao O Globo, dizendo — entre outras coisas — ser a favor da ampliação do “direito” ao aborto, pronto, temos o cara da esquerda no alto escalão do governo. Deu certinho a estratégia de colocá-lo como vice para gerar temor na esquerda.

 

Mourão feminista:

Mourão usou de argumentos tão batidos na entrevista ao O Globo, que sinceramente até me cansa respondê-los, disse: “A questão do aborto também é algo que tem que ser bem discutido, porque você tem aquele aborto onde a pessoa foi estuprada (Já é contemplado pela legislação atual. N.A), ou a pessoa não tem condições de manter aquele filho. Então talvez aí a mulher teria que ter a liberdade de chegar e dizer ‘preciso fazer um aborto’”.

A entrevistadora então se engaja no corredor aberto por Mourão e pergunta: “Até mesmo nos casos em que a mulher não tenha condições de manter o filho?”, responde o vice-presidente: “Minha opinião como cidadão, não como membro do governo, é de que se trata de uma decisão da pessoa”.

Aparentemente incrédula a jornalista pergunta de novamente: “O senhor acha que poderiam ser ampliadas essas possibilidades de aborto?”, e ele arremata: “Pessoalmente eu acho que poderia”.

A mãe tem liberdade sobre o seu corpo, não sobre a vida de outrem que está dentro dela; o feto é dependente da mãe, mas DIFERENTE da mãe. Entendeu? A mulher não tem o direito de abortar, pois, basicamente, ela não está tirando um dedo ou um apêndice, mas um ser vivo que está dentro dela e que depende dela para viver; um ser humano pequenino tão digno de vida, de direitos e de pessoalidade quanto os demais que tentam matá-lo; resguardar seus direitos e prezar por sua saúde é um dever irrevogável do Estado.

Perguntar não ofende: os Direitos Humanos se aplicam somente a alguns humanos? Ou também para aqueles que estão dentro dos ventres maternos? Qual a quantidade de humanidade deve ter o feto para que ele possa ser digno de proteção? 20%? 40% ou 70%? E se for uma menina o bebezinho, aí as feministas arrogarão e lerão os seus direitos em praça pública em Paris? Ou montarão, também em Paris, a guilhotina orgulhosa das jacobinas abortistas?

 

Um cavalo de Troia em Brasília:

Mourão claramente quer ser o diplomático do executivo, é ele que entregará sorrisinhos simpáticos e “tchauzinhos” de miss aos opositores; o problema é que nem sempre é possível aliar simpatias com defesa de valores inegociáveis — quase nunca é possível, aliás. Deve-se escolher, por vezes, entre ser frouxo na defesa dos princípios e ganhar carinho dos devassos, ou ser duro nas apologias e receber dignamente as pancadas.

E no caso do aborto, para a estrondosa, gritante e acachapante maioria dos eleitores de Bolsonaro/Mourão, é algo inegociável; a defesa da vida do feto desde a concepção foi repetida milhões de vezes nos últimos anos por aqueles que hoje compõem a base mais sólida do eleitorado do governo. A mensagem da base do eleitorado é simples, clara e sem rodeios: não haverá negociações quando algum item de qualquer documento trouxer em seu bojo o ato de matar um ser humano intrauterino.

Não há diplomacias e nem trela em tal assunto para os conservadores brasileiros.

Ter Mourão como vice, principalmente após tais declarações, gerará um cisma inevitável no suporte popular ao governo Bolsonaro/Mourão; todos aqueles que tem a pauta pró-vida como a condição básica para a política nacional, não tolerará tal afronta. Nenhum conservador elegeu Bolsonaro e Mourão para afrouxar a legislação do aborto ou sequer para cogitar a possibilidade disso; com certeza as consequências de tal declaração serão gigantes, talvez não visíveis, mas internamente serão desgastantes. Saber que o imediato substituto do presidente é a favor do aborto e que ele está nas graças da esquerda, é uma questão que não é relativizável; não será possível contornar tal situação com fotos de apertos de mão, declarações conjuntas ou retratações.

 

A causa pró-vida:

Está claro que Mourão é a favor da ampliação do aborto, que, “pessoalmente” — como ele próprio diz, como se sua função de vice exigisse dele uma pele diferente e uma máscara de disfarce —, ele “pessoalmente” aprovaria um projeto nesse sentido. Ou seja, naquilo que talvez seja a questão mais cara à extrema maioria dos eleitores de Bolsonaro, a proibição do aborto, o vice-presidente é frontalmente favorável à sua liberação. Um cavalo de Troia bem no centro de Brasília; um Nero bem no seio do Planalto.

E para aqueles pensam que eu estou exagerando, não conhecem minimamente o movimento pró-vida por dentro, não sabem o quão engajados são os seus adeptos e quanto gastam das próprias vidas em torno da questão da vida do feto e da gestante. Homens e mulheres que, sem fazer alarde algum, salvaram mais vidas do que você já teve ou terá a condição de contabilizar, estão agora deixando trabalho, família e amigos de lado a fim de conversar com uma mulher desesperada que fatidicamente poderá abortar a qualquer instante; enquanto vocês estão lutando por baleias, cachorros, “direitos” e “humanidades”, neste momento existe alguém acolhendo uma gestante tendente ao aborto e ajudando-a a escolher pela vida de seu filho(a).

 

Abortista nem é opção:

Pois é, após décadas a fio, tivemos um representante abertamente pró-vida que, em declarações recentes, reafirmou seu compromisso de vetar todo e qualquer projeto de afrouxamento do aborto no país. Não tenham dúvidas, caros leitores, a agenda pró-vida de Bolsonaro foi um dos maiores fatores do seu sucesso, se houvesse a dúvida de que Bolsonaro não fosse pró-vida, ele perderia automaticamente os votos e apreços de milhões cujo a questão do aborto é inegociável e nevrálgica.

Eu mesmo, como já afirmei abertamente em palestras, redes sociais e demais espaços públicos, divido meus candidatos entre aqueles que são favoráveis ao aborto e aqueles que não são; aqueles que são favoráveis sequer entram no hall de possibilidades e, não raro, me vejo em ativismos para mostrar a todos as posições favoráveis à morte de bebês intrauterinos dos candidatos.

Àqueles que me acham extremista, radical e fanático, apenas questiono sinceramente, de maneira moral e filosófica, se alguém é capaz de apoiar, legalizar e aplaudir o assassinato de um bebê ainda no ventre materno, quais outros tipos de atrocidades ele não seria capaz de apoiar, legalizar e aplaudir? Se sua linha moral é tão frouxa a fim de abarcar a possibilidade de consentir o assassinato de um feto humano, por que seu laço também não abarcaria a morte de opositores e demais dissidentes? Após o apoio à morte de bebês ainda não nascidos, não há absolutamente mais nenhuma atrocidade que seja moralmente inaceitável por uma mente déspota como essa. Quem apoia a morte de bebês humanos, por fim, apoiará tudo mais, não importando o quão abominável seja a pauta em questão.

Não há diálogo com quem mata bebês!

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As posições expressas em artigos por nossos colunistas, revelam, a priori, as suas próprias crenças e opiniões; e não necessariamente as opiniões e crenças do Burke Instituto Conservador. Para conhecer as nossas opiniões se atente aos editoriais e vídeos institucionais

Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, colaborador do Jornal Gazeta do Povo, ensaísta e editor chefe do acervo de artigos do Burke Instituto Conservador.

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