Imagem: Reprodução

Se o feto latisse, então você o defenderia?

Eu sou o tipo de pessoa que, ao surgir um vídeo de maltrato a animais no Facebook, logo rola para baixo a timeline para que aquele horror suma o quanto antes. Eu simplesmente não tenho psicológico para ver velhos, crianças e animais sofrendo; ainda mais numa rede social que não deveria se curvar ao asco de expor tais brutalidades gratuitas e despropositadas.

Eu só consegui ver o vídeo do segurança do Carrefour, matando o pobre cachorro, depois de muita insistência de alguns amigos, e confesso que ficarei com as imagens na cabeça durante um bom tempo. Simplesmente aterrador a atitude do segurança, espero com toda minh’alma que o bandido seja punido e preso.

Mas outra situação também pulsou em minha mente. Muitas pessoas que estão indignadas com a brutal morte do cachorro pelo segurança do Carrefour — corretamente indignadas, reafirma-se de passagem — são as mesmas que encontram alguma espécie de dignidade no ato de matar fetos humanos intrauterinos. Uma contradição que chega a ser abissal de tão abominável. Não se trata, também, de uma problematização tola desse que vos escreve, o problema que abordo aqui já existe há muito tempo, não fui eu que o criei.

De antemão gostaria de afirmar: sei que não são todos assim, que nem todos aqueles que são defensores da causa animal são também abortistas. Guardo a prudência como virtude de análise do mundo, então, fiquem em paz, esse texto não serve para todos aqueles que abraçam árvores e conversam com samambaias.

Sou extremamente contra o flagelo de animais por seres humanos; no entanto, arguir que homens e animais possuem as mesmas dignidades, aí já estamos noutro patamar de conclusões apressadas e basbaques. Um filósofo bem famosinho na modernidade, Peter Singer, em seu livro Éticas práticas, defende que a dignidade de um rato, de um pato e de um pombo possui o mesmo peso da dignidade da vida humana. Abstraindo o absurdo inerente a essa crença — seja do ponto de vista evolucionista ou criacionista —, temos que nos questionar: fora os seres humanos, qual outra espécie pode imputar uma organização racional mínima ao ponto de dignificar algo? Ou ainda interpretar a existência firme de um juízo natural que impele à compreensão de que o estupro ou a pedofilia, por exemplo, são coisas intrinsecamente abomináveis?

Além disso, se o homem, segundo Darwin, está no topo da cadeia animal, significa que ele tem mais aptidão e se adequou melhor às mudanças naturais de seu meio; fazendo dele merecedor de ser o dominador sobre as demais espécies — inclusive com fins alimentícios. Eis a regra evolutiva, neném…

Em suma, seja para Darwin, seja para São Tomás de Aquino, o homem tem precedência e maiores dignidades que os demais animais.

Entretanto, se homens e animais são estritamente iguais, então a sua vida não vale mais do que a vida de uma lesma, e a opção minha de salvar uma lagartixa ao invés de uma criança, se torna intrinsecamente respaldada e ética. Se no fundo somos todos iguais, se não há nada de sacro, digno ou melhor em você do que há num porco, então a sua vida vale bem pouco e pode ser comparada a uma bandeja de presunto.

Sobre essa animalização do homem (no sentido involutivo) e da humanização forçada dos animais, há muitas coisas a serem ditas e com certeza ferirão os egos daqueles que criam cachorros em carrinhos de bebês. Afinal, somos a geração que ama a humanidade, mas ignora o mendigo; que abraça árvores, mas que quer matar quem não pensa como ela; que chora escutando Imagine, mas que diz que “diálogo com fascista é na ponta do fuzil”; que salva ovos de tartaruga, mas mata bebês humanos.

Tal sandice moderna isenta os homens prudentes de defenderem e cuidarem dos animais? NÃO! Definitivamente, não. Mas entre a vida humana e a de um animal, salvarei o humano. O que quero dizer, sem mais rodeios, é que entre o feto e o cachorro, eu fico com o feto.

No entanto, você pode estar me achando um tanto quanto rude, quem sabe até mesmo arrogante e prepotente; como saída diplomática para essa aporia, então talvez a solução seja treinar os bebês humanos para que nasçam latindo ao invés de chorando, quem sabe assim consigam algum apreço das ONG’s e movimentos pró-aborto. Se começássemos a escrever: “ovos de tartaruga” nas barrigas das gestantes, talvez o ato dignificasse o bebê alí residente; ou quem sabe ainda, se déssemos a respeitabilidade de um Pau-Brasil aos fetos, aí então a ONU começaria a defendê-los ao invés de caçá-los com suas políticas de planejamento familiar.

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As posições expressas em artigos por nossos colunistas, revelam, a priori, as suas próprias crenças e opiniões; e não necessariamente as opiniões e crenças do Burke Instituto Conservador. Para conhecer as nossas opiniões se atente aos editoriais e vídeos institucionais

Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, colaborador do Jornal Gazeta do Povo, ensaísta e editor chefe do acervo de artigos do Burke Instituto Conservador.

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