“Articulação política”, sei…

O que é, afinal, articulação política? Num país seriamente republicano, é a arte de gerir ideias que trarão à nação ganhos sociais, econômicos e históricos factíveis; além disso, também é a arte do convencimento, afinal, numa república verdadeira, uma lei deve ser escolhida por seu teor e capacidade de melhorias nacionais, e não por esforços paralelos e endossos a parlamentares. A república não é o governo dos melhores homens, mas deveria ser, através de debates e bons estadistas, o governo das melhores ideais.

Por exemplo, a conhecida PEC do teto trouxe uma seguridade de gastos e uma limitação ao executivo, o que é bem-vindo a um país que pretende ter o republicanismo liberal, os contrapesos e a tripartição dos poderes, bem distribuídos. Quando uma PEC tem evidentes ganhos ao país, e essas ideias são travadas em nome de uma fantasmagórica e alegórica “articulação política”, nos questionamos novamente – agora com certo grau de ceticismo –: aquilo que se quer articular são ideias e contrapontos políticos, ou apenas carícias e verbas escusas? Se articular significa comprar almas e consciências de parlamentares, então não devemos articular nada! Ao contrário do que especialistas pensam ser, isto é: “a inevitável política democrática”; ou como alguns outros cientistas políticos gostam de ver a questão: “como mera negociação de vantagens”. Tudo isso não passa de máscaras para esconder o fato cru: “corrupção”.

Devemos abandonar a ficção e a ingenuidade política, a pragmaticidade não se dá apenas em vistas de necessidades imediatas, mas também através da análise do óbvio; articulação política no Brasil sempre envolveu endossos monetários e oferecimento de cargos. Qual a novidade? Por que as falsas caras de espanto? O que os nossos analistas políticos passaram fazendo nos últimos 30 anos de política nacional? Afinal, estamos levantando teses e denúncias inéditas nesse editorial? Acho que não.

A articulação política à brasileira, aquilo que a mídia e demais críticos estão silenciosamente dando a entender – já que ninguém explica com exatas palavras o que seria a tal articulação – é a famigerada velha política na veia. É a troca de cargos, oferecimento de diretorias, ministérios, quantias de dinheiros; isto é a articulação esperada, é isso que anseia o famoso “centrão” quando diz querer “diálogo”. Nunca quiseram, sempre votaram na base do espólio; vendiam seus votos como quitandeiros de bosques. A ingenuidade de certos setores chega a ser cavalar.

A base eleitoral do Presidente Bolsonaro o elegeu num forte discurso antissistema, numa plataforma que tinha como base a contraposição a toda jogatina de bordel que nos últimos anos forjaram os três poderes. Alguém tem sérias dúvidas sobre os parcialismos do STF? Alguém tem dúvidas sobre a atuação comprada dos congressos passados, em especial na era Lula/Dilma? Alguém tem dúvidas, após mensalão, petrólão, Lava-Jato, e várias outras CPI’s, que a política brasileira era a política do conchavo e da corrupção? Isto tem que deixar de ser nosso modus operandi, nem que para tal tenhamos que aguentar os espasmos e gritos daqueles que passam pela abstinência do poder corrupto.

Desta maneira, se a tal da “articulação política” for o nome gourmet para corrupção e compra de parlamentares – e cremos fortemente que o é –, então oferecemos os nossos cumprimentos a Bolsonaro. Antes ser desarticulado e ter honra, do que articulado e ser larápio. Aprovar a Reforma da Previdência na base da corrupção, é o mesmo que usar magia negra para fazer caridade; poucas coisas são tão importantes ao país quanto essa reforma, bem sabemos, mas ainda mais urgente é a correção do caráter político brasileiro, desmamar os sedentos por tetas corruptas é questão de brio.

Quando a mídia começa a pedir uma articulação política que aparenta bons modos, porém, que fede a negociata de lupanários, neste instante devemos nos perguntar quem são os brasileiros de fato, quem são aqueles pensam no país, e quais tipos de instituições estamos gerindo. Se para aprovar uma reforma que salvará o país, a Câmara dos Deputados encontra dificuldades intransponíveis, não deveríamos questionar o executivo sobre a sua falta de trato; mas sim o legislativo sobre o seu compromisso com o país. Afinal, quando o carro está para cair da ribanceira, não paramos para questionar o motorista acidentado se foi a sua falta de habilidade que o deixou à beira da morte; apenas tiramos ele de lá.

Para tapar a sangria corrupta que afundou o país inteiro numa latrina histórica, é preciso antes ser exemplo, e não negociar com bandoleiros é um excelente início.

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