Estágio com genocidas. Parte I

Enzo, estudante da UFABC, que agora resolveu se apartar dos dreads e aderir aos cabelos coloridos, até ontem era apenas mais um militante mequetrefe, mas quando soube da nova oportunidade que aparecera, não escondeu a demasia do contentamento.

Conquistou aquilo que os avós cobravam há anos: o primeiro emprego. Não era comum, digo ao leitor que era muito peculiar, mas para um jovem de 20 anos, era muito mais que o suficiente. Não conseguiria pagar sequer uma conta de água, mas conseguiria comprar o hambúrguer vegano que tanto gosta; certamente não teria possibilidades de deixar o lar dos avós, mas o dinheiro raso pagaria uns bons punhados de baseado e, quem sabe até conseguiria revender. E seria definitivamente membro do canal do Felipe Neto.  

O jovem “trabalhava” até então no pequeno jornal da universidade, digo, também fazia parte do grêmio estudantil, era responsável – seguindo a hierarquia – apenas por programar o horário e local de ocupações. Enzo cansou-se. Por um lado o desprezo do grupo e por outro a pressão de seus “avós fascistas” – são palavras dele. Decidiu revolucionar, fazer algo que o elevaria ao alto posto: apresentou o projeto que mudaria o padrão retrógado dos banheiros da Universidade.

Com o projeto do garoto, o critério para usar o banheiro seria de puramente íntimo e subjetivo. “Quem se identificar como mulher, usa esse aqui. E quem se sentir como um homem o de lá”. Avalie o leitor se não é um feito importantíssimo. Os professores assim o consideraram. Josi, a professora de sociologia, orgulhosa de seu trabalho, quando entrou na sala dos professores fez questão de contar-lhes, minunciosamente o projeto de seu aluno.

Bem quisto agora por todos os professores, Enzo foi alçado ao cargo de chefe de redação do jornal da escola e de Vice-presidente do grêmio. Quando na reunião dos professores surgiu o comentário sobre o estágio, Enzo teve seu nome inserido na conversa e por fim, arranjaram-lhe a vaga. 

O antigo estagiário tinha sido morto e empalhado. Mas com Enzo seria diferente, estudou sociologia com Josi, os outros professores também o davam segurança, porque propunham exercícios pedagógicos inestimáveis. Um bom exemplo é o do professor Lucas.

Entrou na sala de aula, com seu Rousseau debaixo do braço, sentou-se e perguntou aos alunos:

– Quem aqui votou no Bolsonaro?

Um estreante inocentemente levantou a mão direita, e, quando ia justificar, foi interrompido pelo professor:

– Cale a boca, fascista! Saia da minha aula agora.

O leitor merece mais um exemplo, para despreocupar-se com a vida de Enzo. Outra de suas professoras, uma tal de Alice, lecionava história. Os estojos de giz, assim como os brincos, estampavam a face de Che. O tema da aula do dia era marxismo. Conhecida por sua rigidez, era temida porque cada pergunta que propunha deixava os alunos tão vergonhosos e estáticos, que parecia que os punha em um paredão de fuzilamento. Fez a primeira pergunta:

– Camaradas, o que é o marxismo?

Um dos amigos de Enzo, colunista do jornal respondeu:

– Professora, o marxismo é uma interpretação do mundo.

Fez-se silêncio naquele campo de concentração ideológico, digo, na sala de aula. Cada qual olhando para o seu lado, e ao mesmo tempo todos olhando para a professora que nesse mesmo instante abriu a caixa de giz; mas parecia que tinha aberto a boca de Che e de todos os outros revolucionários juntos e professou:

– Seu idiota! O marxismo não é uma interpretação. Ele é a interpretação.

Ora, certamente amamentado em um berço como este, Enzo estaria seguro no novo emprego.

Feliz Enzo voltou para casa coma notícia bombástica, contou para os avós na hora do jantar. O avô, Sr. Dirceu, não estava tão seguro quanto eu e você leitor estamos agora:

– Ah, então você vai trabalhar com aquele pessoal que mata gente?

– Cale a boca, velho. Você votou em um genocida e quer falar algo? É tudo mentira que eles mataram, a Márcia até disse que o Comunismo nunca existiu.

Enzo impaciente levantou-se da mesa e foi dormir, mas pedindo para a avó que o levasse leito na cama.

Às 6 o jovem já estava sob duas pernas. O fascista da casa tentou acordá-lo antes, mas sabe como é, despertador bom hoje em dia é música da Anita. Após concluir seu ritual matinal (imitar uma foca, acender um baseado e desejar a morte do presidente, no mínimo seis vezes), foi preparar-se para o trabalho.  

Enzo logo apanhou o celular para saber das boas novas, afinal de contas, precisava anotar tudo. Todas as notícias, os próximos acontecimentos importantes. Então abriu um exemplar da Folha de São Paulo, outro do Globo e findou com um do Estadão. Tirou uma dúzia de cópias para certificar-se da suficiência mediante os patrões novos.

Parou tudo para ir à mesa tomar o café da manhã. A avó, orgulhosa do neto, preparou-lhe de tudo o que mais gostava. Mas como nem percebeu o neto chegando, continuou a prosa que já mantinha com o esposo por alguns minutos…

– Meu bem, você tá sabendo dessa história da vacina? Dizem que é eficaz mesmo. É lá de um país americano.

Nesse momento o neto interveio:

– Você tem algum problema? Não interessa a eficácia dessa vacina, o que interessa é o número de mulheres, negros, LGBT’s e obesos que fizeram parte da equipe que desenvolveu essa vacina.

O avô impaciente mandou o neto se calar e voltar para o quarto. Enzo confiante continuou:

– Essa velha é assim porque você a escravizou. Eu tive uma palestra sobre isso na escola. E mais: você fica aí falando de vacina, mas saiba que eu não deixarei você tomar. Se você pegar o vírus, vai ter que comprar montes de caixas de cloroquina e se morrer, a culpa será sua.

O avô parou a discussão para ver o vídeo que há horas procurava que pautava sobre a cloroquina e que foi compartilhado até mesmo pelo presidente americano. Finalmente o idoso achou o vídeo. Tratava-se de uma médica negra norte-americana discursando sobre o assunto.

Quando o menino viu de relance o vídeo e ouviu – fazendo proveito do curso de inglês privado que os avós lhe pagaram por anos – não pestanejou e disse:

– Essa mulher está traindo o Black Lives Matter!

– Mas ela é negra, Enzo, enunciou a avó. E você é branco.

– Isso não me interessa, você deveria assistir uma aula sobre racismo com meu professor de ética, você saberia que por dentro essa mulher não é negra, e que eu por dentro sou mais negro do que ela. Seriamente eu deveria cancelar vocês dois.

O avô, não perdendo a oportunidade da provocação logo entonou:

– Então, se uma mulher biológica, com cromossomos XX, travestir-se de homem, mudar-se completamente, colocar barba, tomar hormônios e por fora parecer um homem, concorda comigo que por dentro ela ainda será uma mulher e nunca será um pai?

– Nem começa com esse papo. Você não entenderia esse negócio de gênero, eu mesmo demorei muito tempo e ainda estou mudando o meu vocabulário colocando “x” em tudo, mas pode esperar que quando a Xuxa lançar os livros infantis dela com este tema, você vai entender tudinho.  

Assim o menino voltou para o quarto, preparou as coisas, os materiais para o trabalho, rezou para Lula “o pai dos pobres”: a reza conforme a Teologia da libertação ensinou, publicou em seu perfil uma mensagem combatendo o fascismo, outra vivificando Marielle, e saiu.

Com o dinheiro da mesada tomou o ônibus, e logo nos primeiros bancos deu de cara com um senhor de meia idade lendo o livro daquele que na universidade não podia ser citado, porque não tinha nenhum trabalho científico e o que só fazia era xingar os opositores. Pôs-se furioso, entretanto foi acalmado por um lembrete: era o dia do debate de uma de suas referências intelectuais com o Ministro Barroso.

Enfim chegou ao trabalho. Chegou ao inferno.

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Yuri Ruiz

Yuri Ruiz

Um jovem conservador, antifeminista, antimarxista e cristão.

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