Maju Coutinho

O choro é livre?

O choro é livre?

O progressismo é um grande porco que não se cansa de comer as próprias fezes. Há um nome para isso: coprofagia. No caso de seres humanos, é ideologia. Sem ofensa aos porcos, pois enquanto estes são irracionais, os seres humanos têm a possibilidade de serem racionais. E aqui não há ofensa alguma aos homo sapiens ou mulheres sapiens (como diria a ex-presidente Dilma Rousseff). É uma constatação trivial que qualquer indivíduo minimamente instruído detecta.

Seres racionais são distintos de seres com a mera capacidade de usar a razão. Isso para aqueles que ainda acreditam na ideia de verdade. Afinal, em um mundo relativista, ter ou não ter racionalidade quanto a questões de juízos de valor, não faz diferença alguma. Nisso, é bem provável que porcos e seres humanos pudessem estreitar laços. Mas, como a bandeira da busca pela verdade ainda tremula, mesmo que esfarrapada, ainda é possível usar a razão e afastar-se dos porcos.

Há poucos dias, a jornalista e apresentadora Maria Júlia Coutinho, mais conhecida como “Maju” Coutinho, fez um comentário bastante ácido sobre as medidas que envolvem restrições à liberdade individual, de reunião e de atos de comércio com vistas à diminuição da expansão do coronavírus. Ao comentar essa situação, no “Jornal Hoje”, ela disse: “Os especialistas são unânimes em dizer que essas são medidas indispensáveis, agora, pra conter a circulação do vírus; o choro é livre, não dá pra gente reclamar, é isso que tem”. No auge de sua sabedoria midiática, Maju, em poucas palavras, fez uma síntese de como não se faz jornalismo e de como não se utiliza adequadamente a capacidade racional de um ser humano. Antes que se diga que a crítica aqui exposta tem cunho racista, fascista, sexista ou de qualquer outra ordem, adianto, ironicamente, que o choro é livre.

Bem, ao afirmar que os especialistas são unânimes, Maju quis dar a cartada de mestre em seu comentário. Ou seja, se há unanimidade, não há espaço para discordância. E se alguém, mesmo que seja um estudioso ou pesquisador sobre o tema não concorda com as medidas que restringem a liberdade, com certeza será chamado de negacionista e de propagador de fake news. Em outras palavras, como declarou Nelson Rodrigues, mesmo que toda unanimidade seja burra, pois “quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”, Maju usa de uma imaginária unanimidade para expor sua burric…, digo, seu pensamento que não precisa pensar.

Ao tolher a possibilidade de reclamação, afinal, de acordo com essa espécie de Oprah Winfrey dos trópicos, “é isso que tem”, Maju esquece-se (propositalmente ou por total ignorância?) que a natureza humana é naturalmente insatisfeita. Faz parte do ser humano reclamar. Talvez algumas culturas reclamem mais do que outras; talvez algumas condições sociais estimulem mais reclamações do que outras; talvez algumas ideologias que dominam determinados cenários sociais provoquem mais reclamações do que outras formas de pensar. Mas o fato é que, independentemente do contexto, os seres humanos sempre reclamarão de algo que estão, naturalmente, insatisfeitos.

Ao dizer que não adianta reclamar, com base em uma inexistente unanimidade, Maju dirige-se aos telespectadores como se fossem seus filhos em tenra idade, momento em que ainda não conseguem compreender adequadamente o que deve ou não ser feito. Maju, que já foi idolatrada por feministas por ter dito que não tem vontade de ser mãe, talvez tenha compreendido que seu papel no jornalismo é o de tentar educar a infantil e estúpida ralé que se chama povo brasileiro.

Ao pronunciar que é essa a única possibilidade contra a Covid-19, Maju quis calar a boca de todos os que se opõem a esse lockdown à brasileira. O sujeito que olha para o outro e diz “é isso que tem”, mostra a arrogância de quem dispõe de uma única alternativa para algum desesperado. Imagine alguém escolhendo uma cerveja em um bar com corte de energia elétrica em um dia de verão. A cerveja quente é a única que tem. Pegar ou largar? O detalhe é que no caso da cerveja ainda é possível recusá-la.

Quando Maju disse que o choro era livre, ela colocou toda a prepotência jornalística para fora e decretou: podem espernear, podem gritar, podem dizer que não tem emprego, podem falar que seus filhos passam fome em razão do desemprego ou podem falar que a renda do brasileiro despencou desde o início da pandemia, mas isso não vai mudar em nada a vontade “majuriana” de legitimar as medidas de restrição que os pequenos déspotas “esclarecidos” decretaram.

É lugar-comum no progressismo pedir por mais empatia, principalmente quando faltam argumentos para refutar críticas. Com sarcasmo, Maju não deveria olhar para si mesma, ver sua posição de prestígio social e econômico, entender seu “lugar de fala” e ter mais empatia com os mais pobres?

Dizer que o choro é livre significa um sisudo deboche para com aqueles que sustentam a vida da Maju ao saírem de casa para trabalhar. Dizer que o choro é livre significa estabelecer uma linha de escárnio público para com aqueles que não ganham, ao longo de um ano, 1% do que a imaculada Maju ganha em um mês. Dizer que o choro é livre significa afirmar que independentemente do estrago econômico e social que um lockdown à brasileira cause, gerando fome e miséria, nada vai mudar na mente maravilhosa e refrigerada (por ar-condicionado) de Maju. Ao populacho, resta o choro, pois é isso que eles têm.

Em meados de 2020, um radialista que reside em Bagé, mesma cidade que moro, ganhou holofotes nacionais por uma declaração vista como problemática. Iury Madeira, politicamente incorreto, declarou em uma rede social que Maju só estava como âncora do “Jornal Hoje” porque é negra, enfatizando como a apresentadora fala sempre em “pessoa negra” (e não somente “pessoa”) quando se refere a pessoas negras. Para ser mais direto, ele ainda disse que ela tinha cara de falsa, reforçando que estava no programa por ser negra. Em outras palavras, seria uma espécie de cotas no jornalismo da Rede Globo.

Discordo veementemente! Maju não está ali por causa de sua pele. Maju está ali por conta de sua ideologia. Está ali por seu progressismo. Está ali por ser politicamente correta. Está ali por apoiar a unânime ciência que não é unânime. Está ali por pensar com a unanimidade como um exemplo vivo de Nelson Rodrigues. Está ali porque “é isso que tem”. Não tem nada a ver com o fato de ser negra. Caso fosse uma negra conservadora ou politicamente incorreta, com certeza não estaria ali.

Mas e o choro? Existe uma parte dele que não é livre. Maju erra ao desconsiderar que uma criança com fome não chora porque é livre, mas sim porque é refém de um sistema. Maju erra aos desconsiderar que um pai ou uma mãe de família, responsáveis pelo sustento do lar, choram quando não conseguem colocar comida na mesa de seu lar por absoluta prisão decretada por insanas restrições comerciais que supostamente visam “proteger” o cidadão de um vírus, mas o desprotegem da miséria social e econômica. Maju erra ao desconsiderar que o choro só pode ser livre para aqueles que têm liberdade de trabalhar, empreender e gerar algum tipo de riqueza: aos demais, o choro sempre será um grilhão.

No entanto, nas insondáveis profundezas da natureza humana, ainda há um fundo de verdade no que Maju falou. Com a mais absoluta certeza e sem contradições, o choro ainda é livre, mesmo para aqueles que se encontram impedidos do exercício da liberdade. As lágrimas e reclamações ainda são livres para escorrer dos olhos e das bocas daqueles que estão cativos pelo Estado. O choro sempre será livre, mesmo que a Maju não goste que a ideia de liberdade se esparrame aos demais cidadãos nesse momento. E o choro se manterá em total liberdade até que algum decreto municipal ou estadual o proíba como medida necessária para conter a propagação da Covid-19, afinal, o choro não é atividade essencial…

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João L. Roschildt

João L. Roschildt

Professor do curso de Direito do Centro Universitário da Região da Campanha (Urcamp). Além de articulista e ensaísta, é autor de “A grama era verde”. Site: www.joaoroschildt.com.br

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