Imagem: EVARISTO SA (AFP)

Primeiro as damas

O politicamente correto é a arte de ser hipócrita sob aplausos gerais. É dessa forma que eu vejo a arte moderna de rechaçar ou aplaudir qualquer coisa, não por seu teor de verdade ou mentira, belo ou feio, devasso ou virtuoso, mas porque essa coisa serve politicamente a algo ou alguém. Dessa maneira podemos defender absolutamente tudo, pois, não importa a qualidade do que se defende, mas quem defende e para quem defende; assim sendo, pode-se amar o comunismo que fez 100 milhões de mortos em menos de 100 anos, e rechaçar o fascismo, igualmente tenebroso e bizarro, mas infinitamente menos assassino que o seu irmão vermelho. Pode ser um fã gay de Che Guevara, mesmo que dentre os seus hobbys preferidos estava o de matar gays. Pode, inclusive, chorar por cachorros e ser a favor do aborto.

E calma, para os lacradores politicamente corretos que já preparam as pedras para mim, isso que disse acima não foi uma apologia ao fascismo, à homofobia ou ao maltrato de animais, mas sim à verdade dos fatos históricos. O comunismo foi mil vezes mais pernicioso em número de vítimas que o fascismo, ainda que eu comungue da visão de Vladimir Tismăneanu de que o comunismo e o fascismo são duas faces da mesma moeda tirânica, irmãos de asco.

Verdades, verdades e verdades… doa a quem doer… direita ou esquerda, conservador ou progressista, mulher ou homem, gay ou hétero; a verdade não tem sexo, cor, preferência política ou amiguinhos lacradores. A qualidade acima de bajulações, esse é meu lema; aliás, é desta maneira que eu perco amigos — se querem mais uma verdade; porém, apesar de tudo, mantenho minha espinha mais ou menos ereta nesse processo.

O politicamente correto, avesso a qualidades e afoito adorador de gritos e militâncias, acaba assassinando a razoabilidade em busca de “lacrabilidade”. Quando Preta Gil faz seus discursos feministas, as militantes surgem eufóricas até dos ralos universitários, louvam num frenesi excitado a cada palavra pronunciada pela cantora; e quando surge uma tal de Kéfera com mensterupting, “lugar de fala”, e mais outras baboseiras sem importância alguma, a plateia de amebas quase desmaia de tanto chacoalhar suas vergonhas em forma de palmas.

O feminismo não é sobre liberdade feminina, o feminismo não é sobre direitos femininos, o feminismo sequer é sobre mulheres, o feminismo atual é tão somente sobre como se pode utilizar uma maça bruta e cega, a favor de certas ideologias e partidos.

Durante a posse de Bolsonaro, Michele Bolsonaro — mais respeitosamente chamada de Primeira Dama — roubou a cena e o protagonismo ao passar na frente de seu marido — mais respeitosamente chamado de Presidente — no parlatório, a fim de discursar aos surdos. Seu discurso foi tão bem-sucedido que os comentaristas, normalmente avessos ao governo iniciante, se viram verdadeiramente constrangidos; engasgos eram ouvidos, vozes embargadas eram ressoadas, choros não foram contidos. Pela primeira vez na história do Brasil, a Primeira Dama é ouvida antes, em lugar de destaque, do Presidente da República. Eu nunca soube exatamente o que era o tal do empoderamento feminino, mas com certeza deve ser algo relacionado ao que Michele fez.

A Primeira Dama fez: 1- discursou para uma minoria marginalizada; 2- Teve postura de uma real estadista, a força de uma verdadeira ativista social, o brio que se espera de uma Primeira Dama e a capacidade de articulação que se exige de uma mulher pública; 3- adiantou-se ao seu esposo (Presidente da República) a fim de colocar o protagonismo de suas pautas; 4- pregou a inclusão social, a defesa dos mais necessitados e prometeu, antes do próprio Presidente, que aquele governo não esqueceria os deficientes.

Se isso não é ser um mulherão da peida, eu não sei o que é mais. No entanto, o silêncio sepulcral das feministas ressoa alto. É ensurdecedor, não sei se por frustração, já que sem demora as manchetes críticas à posse já estavam feitas, ou por algum outro motivo qualquer. Talvez por inveja de que o protagonismo feminino, visto em TV aberta, na posse presidencial, tenha vindo de uma mulher cristã e conservadora e não de uma lacradora socialista. Talvez ainda, para desespero da turba, Michele tenha sido a protagonista por uma determinação do próprio Bolsonaro que, seguindo o velho adágio cavalheiresco ocidental: “primeiro as damas”, deixou Michele discursar antes dele.

Enfim, não sabemos ao certo o motivo do silêncio, mas certo é que reafirmamos a “empiricidade” de que o feminismo não tem nada a ver com as mulheres, mas com políticas; não importa a qualidade do que a Michele Bolsonaro fez ou poderá fazer, importa apenas que era a Michele, a conservadora, a esposa, a mãe e a cristã.

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As posições expressas em artigos por nossos colunistas, revelam, a priori, as suas próprias crenças e opiniões; e não necessariamente as opiniões e crenças do Burke Instituto Conservador. Para conhecer as nossas opiniões se atente aos editoriais e vídeos institucionais

Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, colaborador do Jornal Gazeta do Povo, ensaísta e editor chefe do acervo de artigos do Burke Instituto Conservador.

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