Foto: Reprodução

Sobre pesquisas

Alguns amigos jornalistas, comentaristas sérios e muito competentes, raciocinam sobre as eleições a partir das pesquisas que, com frequência cada vez maior, insistem no crescimento vertiginoso do candidato do PT. Entendo perfeitamente, uma vez que é o material de que dispõe. E, baseados nelas, a meu ver, seus raciocínios estão rigorosamente corretos.

Só que, como não sou comentarista e, falando como indivíduo, represento apenas a mim mesmo, tomo a liberdade de não acreditar nessas pesquisas; tampouco as confundo com torcida quando são favoráveis a algum candidato que eu mesmo apoie.

Esse crescimento de (perto de) 11% de Haddad, o pior prefeito da história de SP (e concorrentes ao título não faltaram: Erundina, Pitta, Marta, Kassab… a PMSP foi ocupada por uma constelação de tragédias) em poucos dias, não me cheira bem.

Explico: possivelmente alguns setores do petismo tenham realmente acreditado na viabilidade da candidatura lula e apostado no poste que guardaria o lugar para o chefão, um sujeito com a imagem ainda mais ou menos livre do esgoto tão conhecido pelo partido e conhecido por sua subserviência canina. Por outro lado, alguns podem realmente não ter acreditado na viabilidade dessa candidatura absurda, mas apenas na transferência de votos para o cone que o chefe indicasse.

De qualquer forma, foi consenso que o poste da vez seria Haddad. E, em função do pouco tempo disponível até as eleições, para que tivesse chance de realmente entrar no páreo, seria preciso mostrar algo extraordinário. Eu não duvido de nada no Brasil, e como não confio em nenhum desses institutos, posso muito bem imaginar (entenda-se que é apenas uma suposição) que as cabeças coroadas do petismo decadente e descolado da realidade que não compreende mais, encomendaram pesquisas que deveriam apontar a transferência de votos de lula para o poste, com isso aproveitando para consolidar as pesquisas anteriores, que indicavam ele, lula, tinha a liderança.

Começa que a própria transferência, caso fosse plausível, seria forçosamente gradual, jamais em pouco mais de uma semana. E termina que a imagem do lula como herói do povo já está para além de desgastada. Muito pouco provável que seus votos automáticos cheguem sequer à metade do contingente histórico do pt, os tradicionais 30%, e duvido que todos esses migrariam para um sujeito muito bem apresentado pela propaganda cría cuervos do pt, mas não tão conhecido fora de SP, em um partido já identificado, inclusive por gente mais simples, com a tragédia venezuelana e com o sustento de ditaduras, com a língua dupla e com a bandalheira generalizada e endêmica, posto que são os mais prejudicados: 13 anos de promessas não cumpridas cobram seu preço.

Ademais, ele é um candidato fraco para tal posto, então volta a tornar-se claro que há ali uma crise de quadros; Haddad foi o que sobrou. Outra: a Medonha (by Enio Mainardi) já foi impichada há dois anos e as bolsas-miséria continuaram; portanto, esse não seria um fator tão decisivo.

Dessa forma, creio que exageraram na mão com esse “extraordinário” e a operação deixou rastros. Como já disse, eu não duvido de nada, no Brasil. E posso muito bem imaginar que não usem as maquininhas mágicas assim, a toda hora, de qualquer jeito: fosse assim, Haddad teria sido reeleito em SP (mas bem que os institutos tentaram colocá-lo no 2º turno); é preciso guardar as cartas para momentos realmente decisivos, e mesmo assim, com uma boa cortina de fumaça; só que dessa vez não havia tempo. Assim, sacrificaram os anéis para manter os dedos e tenho a impressão que a montanha vai parir um rato. Ocorre que o que está em jogo para eles é muito mais que a chave do cofre brasileiro, é a hegemonia em todo o continente.

O problema, e aí volto aos amigos analistas, é que a patuleia pode, sim, vir a acreditar nessas pesquisas, mas é só “pode”, não necessariamente “vai” acreditar. Mas seria isso suficiente para fazê-los contrariar a lógica do que veem em suas próprias vidas? Creio que em apenas parte desse público, que não arrisco quantificar mas arrisco dizer que não chegará à metade dos já reduzidos 30% que citei acima.

Finalmente, também não aprovei o candidato Bolsonaro ter levantado suspeitas sobre a lisura de um processo do qual ele aceitou participar. Óbvio que essas suspeitas existem e sempre existiram, mas o único caminho é esse; dessa maneira, que fosse um assessor a dizer isso, não ele. Foi um erro, mas, afinal, mesmo assim ele continua sendo infinitamente superior a qualquer dos outros. Como muito bem lembrou Alexandre Costa, autor do recém-lançado O Brasil e a Nova Ordem Mundial[1], “Não é curioso que a fala de alguém cause mais polêmica do que crimes e agressões físicas? Isso é o resultado de décadas de doutrinação politicamente correta, que transformou a liberdade de expressão em algo mais condenável do que um assassinato”.

Realmente algo está acontecendo no Brasil, e as esquerdas não estão sabendo lidar com esse fenômeno. O PT não mais combate o antigo establishment, hoje ele é o establishment. E não vai aqui nenhuma subestimação do poder do inimigo ou do que eles são capazes de fazer, coisa que qualquer estrategista militar condena veementemente: temos a obrigação de saber que podem estar como baratas tontas hoje, mas em muito breve se recuperarão, entenderão o momento e desenvolverão novas narrativas.

Seja como for, não há o que me faça acreditar nessas pesquisas.

Referência:

[1] Vide Editorial: Campinas, 2018.

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As posições expressas em artigos por nossos colunistas, revelam, a priori, as suas próprias crenças e opiniões; e não necessariamente as opiniões e crenças do Burke Instituto Conservador. Para conhecer as nossas opiniões se atente aos editoriais e vídeos institucionais

Márcio Scansani

Márcio Scansani

Nasceu em Santo André/SP, em 1960. É formado em Propaganda & Marketing pela Universidade Metodista de São Bernardo do Campo/SP, foi publicitário comercial por formação e é editor de livros por opção. Passou por Editora Globo, jornal O Estado de S. Paulo, revista IstoÉ, RBS – Rede Brasil Sul, Diário Popular e Gazeta Mercantil, antes de se dedicar aos livros, paixão de toda a vida. Depois de mudar os rumos de sua carreira, já como revisor, preparador de textos e editor, participou de mais de 100 livros. Atualmente é editor da Armada.

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