Pelo direito de matar bebês

Pelo direito de matar bebês

Há dois princípios filosóficos que aparentemente se repelem, mas quando são usados para analisar a realidade de maneira profunda e concreta, eles se completam e proporcionam uma síntese interessante para julgarmos os fatos; são eles: ontologia e pragmatismo. Desde Sócrates, principalmente nos escritos Do conhecimento e Do ser, aprende-se sobre a importância de buscar o núcleo de cada conceito e perscrutar a verdade de cada afirmação que geralmente são pululadas como incontestes, mas que, na realidade, escondem suas falsidades atrás de crostas de retóricas e parcialismos. Unido nessa busca pela medula de uma conceituação que nutre uma pretensa verdade, paradoxalmente vem completar tal análise da realidade, umas pitadas de pragmatismo. O estudo abstrato do ser das coisas que me assinala o que é digno, bom e belo; assim como o pragmatismo em perceber a realidade em sua composição factual, material e necessária. São essas as duas pernas que conduzem a razão à uma reta análise do real; ou seja, a busca pela essência abstrata da moral, unida ao fato materializado na realidade.

No mundo onde desconstrucionismo linguístico é tão verdade quanto as afirmações de que não há verdade para além das moldagens incontestes dos discursos dos globalistas, afirmar que há uma realidade em si; um bem e um mal que intrinsecamente assim se compõe; que há coisas que não dependem de um discurso paralelo ou um interprete oficial para demandar a veracidade do que se percebe; afirmar tais coisas não é algo bem visto no mundo que preza pela maleabilidade do certo e do errado.

“O que eu quero dizer é que ninguém sustenta a opinião de que o feio é belo, ou qualquer outra coisa análoga a isso” (Do conhecimento, 190d), o errado é errado ainda que o mundo inteiro tome como certo; a moral e os princípios que nos transmitem seus caminhos não são democráticos ou dependentes de juris e sorrisinhos de aceitação. A dignidade da vida humana, desde a sua concepção não está à mercê de urnas, ágoras ou tribunais. Como poderia um princípio que irriga a validade de todas as demais autoridades humanas ser refém das esquizofrenias e arrogâncias de demônios togados?

Os indivíduos são capazes de perceber os fatos e não precisam de filósofos para dizer a ele que a água é molhada, e nem de elucubrações profundas e prolixas para entender que abortar um feto significa intrinsecamente: matar um ser humano.

Antes de discursarmos sobre algo, e criar uma síntese própria ou defender as conclusões de terceiros, necessário se faz que conheçamos o objeto do discurso para além das inflamadas retóricas e militâncias que circundam o fato per se. Nesse sentido, é sensato nos questionar: “do que se trata o aborto”?

E aqui jaz a importância de analisar o aborto naquilo que ele é em si mesmo, de maneira crua e sem anexar nada ao fato-aborto. Aborto é o mesmo que deliberadamente matar um feto humano (ponto). É disso que se trata o ato de abortar em sua nudez pragmática; legalizar o aborto, então, de maneira objetiva e sem demais apologias prós ou contras, significará legalizar a morte de fetos humanos. É disso que se trata o ato de abortar, e é preciso reafirmar tal realidade de maneira gritante e sem medo. Afinal — como já previa G. K. Chesterton no século XIX — nos dias atuais é necessário reafirmar o óbvio e assistir o espanto das pessoas ao acordar da letargia de suas cavernas e mundos utópicos.

Tais considerações sobre o feto não possuir vida até determinado tempo de gestação, são afirmações que simplesmente não se sustentam; a não ser que passemos a localizar a vida numa determinada parte ou órgão humano, algo totalmente risível. A concepção é, pois, o marco inicial da vida, e, se formos ser sinceros com a lógica e tirarmos os pés-de-cabra que forçam a abertura da razoabilidade para a insensatez, iremos ficar apenas com a máxima inconteste de que a vida jaz desde a concepção do óvulo pelo espermatozoide.

O aborto se trata, então, em sua cruenta verdade, do ato matar bebês humanos. Se assim se configura, essencialmente não é um caso de saúde pública, de liberdade feminina, de escolhas sobre seu corpo, etc. Substancialmente se trata de retirar os seres mais indefesos da espécie humana de sua incubadora natural e matá-los, não importando os porquês e demais situações. Há várias formas de fazê-lo, consideraremos os modelos adotados nos países onde o aborto é feito nas supostas “clinicas especializadas”; seguiremos o relato de Dr. Anthony Levatino, ginecologista que realizou mais de 1200 abortos em sua carreira como médico, ele contou, através de uma série (traduzida pelos Tradutores de direita, e linkados abaixo em três capítulos) sobre o que é o aborto e como ele é realizado. Um relato verdadeiramente assustador, porém, necessário para a uma compreensão real.

Uma das maneiras retirá-los do ventre materno é através de sucção ou através de pílulas abortivas; isso se ainda estiverem no primeiro trimestre da gestação. A dilatação e evacuação (D&E), a forma mais comum de aborto, se trata do ato injetar um cano de sucção para retirar o líquido amniótico que envolve o feto e depois utilizar o fórceps — uma espécie de alicate com garras na ponta — para retirar as partes do feto até que o útero esteja limpo, isso no segundo trimestre da gravidez. Por fim, no último trimestre, utiliza-se o Digoxin, uma droga que geralmente é ministrada para tratamentos cardíacos, quando utilizado em grande quantidade causa parada cardíaca quase que instantânea. Através de uma grande agulha o médico injeta o composto direto no feto através da barriga da mãe, após 2 ou 3 dias da morte do bebê, espera-se que o organismo da mãe expulse o morto naturalmente; todavia, se caso isso não aconteça, novamente utiliza-se a sucção e o fórceps, o médico então retira parte por parte do feto até que todo o útero materno se encontre sem dejetos do que alí habitava.

É disso que falamos quando tratamos de aborto; quando se retira todas as alegóricas argumentações de “saúde pública”, “liberdade feminina” e demais direitos quaisquer, o aborto passa a ser o que sempre foi: o ato de matar cruelmente um bebê humano.

Se não se fala sobre o que realmente se trata o aborto, emitir uma opinião sobre o assunto passa a ser um debate oco, sem conteúdo real. Debate-se nessa esteira a causa posterior, os males de se recorrer às clinicas clandestinas, sobre a pessoalidade de um feto antes de nascer, sobre se ele é detentor de direitos ou não, tudo isso numa ânsia extrema de obnubilar aquilo que o aborto é em si mesmo.

Abortar é o mesmo que matar bebês humanos; sim, bebês. Pois não há diferença biológica, científica ou meramente racional que justifique o raciocínio alegórico de que um feto dentro do útero seja tão somente um amontoado de células que não possui direitos e dignidades. Muito menos se justifica a ideia de que é somente a partir da passagem do feto pela “vagina mágica” que aquela coisa se torna pessoa; a “vagina mágica” que na modernidade passou a ser o portal que determina a linha entre a indigência de dignidade e a valorização do que é ser alguém com direito de viver.

Se o que se pretende é um debate sério e aberto, com premissas reais e sem maquiagens políticas, sejamos sinceros uns com os outros: o que se quer com a legalização do aborto, em palavras cruas e desnudadas, é o direito inconteste para matar bebês humanos!

É disso que se trata. Sem demais retóricas tolas.

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As posições expressas em artigos por nossos colunistas, revelam, a priori, as suas próprias crenças e opiniões; e não necessariamente as opiniões e crenças do Burke Instituto Conservador. Para conhecer as nossas opiniões se atente aos editoriais e vídeos institucionais

Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, colaborador do Jornal Gazeta do Povo, ensaísta e editor chefe do acervo de artigos do Burke Instituto Conservador.

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