(Photo by Monika Graff/Getty Images)

Jovens e a corrupção quando “tudo isso aqui era mato”

A junção da amplitude das redes sociais com jovens opinando indiscriminadamente sobre política chegou ao contexto brasileiro. Essas comparações superficiais entre as estórias de Harry Potter ou personagens de animes e figuras da política brasileira, inaugurada com Temer e reforçada em tempos de eleição chegou e, infelizmente, creio eu, para ficar. Mais um fenômeno importado, mas como ideologicamente simpático, aceito bovinamente por quase todos. A revista The Spectator publicou excelente artigo sobre como os jovens de hoje têm sua imaginação moral moldada pelo clássico de J.K. Rowling.

Embora a categoria “millenials” inclua a mim mesmo, nascido em 90, observo um fenômeno interessante na geração nascida dos anos 2000 em diante, também millenials. Quando Lula chegou ao Palácio do Planalto, os nascidos nesse ano tinham aproximadamente 2 anos, não acompanhavam política, evidentemente, e tampouco vivenciaram o que era o PT antes disso. Embora convivamos com a cobrança constante de “perspectiva histórica” (“vá estudar História!”), nem os cobradores e muito menos esses jovens possuem lá muita visão histórica. Para aquilo que desejo afirmar aqui, não apenas tenho a tal perspectiva histórica, como vivi em primeira mão, sem intermédio de autores, livros, imprensa etc. Eu (e muita gente) sei o que era o PT antes de chegar no governo.

O PT é pior que qualquer infrator comum porque é o infrator hipócrita. O PT é o “cidadão de bem” que cobra moralidade e trai a esposa, que brada contra a corrupção, mas suborna o guarda de trânsito, que vai na igreja semanalmente, mas faz fofoca e não ajuda os pobres (apenas para colocar a questão no imaginário “progressista”). Qualquer um sabe que um hipócrita é pior que o sujeito que não disfarça seu erro. A geração 2000, a geração Harry Potter pode não saber tanto porque não estuda porque não viveu, mas uma das bandeiras do PT enquanto oposição era ser o novo e único “partido da ética” (algo como o PSOL de hoje).

Hoje vemos a argumentação de petistas mais experientes flertar com o “rouba mas faz” malufista, mas entre os jovens faz sucesso a versão “todos são corruptos”. Concedendo verdade a essa última afirmação, em nada ela deveria afetar o antipetismo de ninguém. Enquanto distante da máquina pública, o PT era o paladino da moralidade, fiscal da corrupção do centrão, dos políticos de carreira, dos demais partidos. Enquanto governo, os 14 anos de administração petista fizeram o mensalão parecer trapaça de criança para furar a fila do lanche. Notam a hipocrisia e a natureza mais grave do ocorrido? Paulo Maluf, notório corrupto, nunca posou de guardião das chaves da moral humana. O PT do maior escândalo de corrupção da Humanidade sim. Daí que qualquer equiparação simplória seja simplesmente descabida, o grau de hipocrisia envolvido é inédito, ainda mais que a do “cidadão de bem” supostamente hipócrita que a esquerda tanto gosta de apontar e criticar.

Ou seja, pessoas com mais de 20 anos e pelo menos algum senso histórico e que, portanto, conhecem a corrupção “quando tudo isso aqui era mato”, tendem a cair menos na cantilena do “todos são corruptos” para defender o PT. Da mesma forma que toleramos menos o hipócrita que o descarado, é menos digno de desprezo o “corruptor raiz” que o partido, antes defensor da pureza moral, responsável pelo petrolão (a despeito do fato de que os ideólogos do petismo e seus simpatizantes consideram essa preocupação excessiva com corrupção mero formalismo burguês afetado).

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As posições expressas em artigos por nossos colunistas, revelam, a priori, as suas próprias crenças e opiniões; e não necessariamente as opiniões e crenças do Burke Instituto Conservador. Para conhecer as nossas opiniões se atente aos editoriais e vídeos institucionais

André Assi Barreto

André Assi Barreto

Bacharel, licenciado e mestre em filosofia pela Universidade de São Paulo. Licenciado em História. Professor de Filosofia e História das redes pública e privada da cidade de São Paulo. Pesquisador da área de Filosofia (Filosofia Moderna - Dercartes, Hume e Kant - e Filosofia Contemporânea - Eric Voegelin e Hannah Arendt) e aluno do professor Olavo de Carvalho. Trabalha, ainda, com a revisão de textos, assessoria editorial, tradução e palestras. Coautor de “Saul Alinsky e a anatomia do mal” (ed. Armada, 2018).

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