Mordidas pelo antipatriarcado

O canil é vasto. O seu comprimento varia, não de acordo com a necessidade pessoal de alguém, mas pode ser esticado pela conveniência de algum princípio ideológico marxista e revolucionário. Mas a focinheira, leitor, é o objeto que mais recebe atenção. O que importa para a cachorrada é, à pretexto de tirá-la de um, imputa-la no outro.

Toda a história teorética – deixemos a prática para outra oportunidade – do feminismo é justificada, partindo da premissa de que as mulheres foram – e ainda são – “escravizadas”, “reprimidas” pelos homens que as colocaram a focinheira do sistema patriarcal e reprimem suas condutas, tentando colocar o adereço repressor a qualquer homem ou mulher que, por não apoiar a igualdade entre os dois, a emancipação, ousa latir em outro tom; e até mesmo relembra dois princípios que castrados foram: a masculinidade e a feminilidade.

Rosnando initerruptamente, o feminismo, disfarça-se vestindo a sedosa roupagem do discurso pela igualdade. Mas na relação entre o homem e uma mulher, a igualdade é ilusão. Nem eu, nem o leitor somos tão ingênuos a ponto de crer na veracidade do discurso público de um movimento político que busca, por um lado vitimização, e por outro a superestimação do que hoje chamam de mulher.

Todavia, mesmo considerando que tudo se respaldasse no ideal de igualdade, por mais elementar, já eu teria motivos de sobra para discordar dessa teoria pulguenta. E para não isolar-me com meus motivos, é preciso que o leitor acompanhe-me, porque se nosso desejo é resgatar a masculinidade e a feminilidade bíblica, a melhor vacina é a Escritura. Sem mais, vamos.

 Gênesis 2, 18 revela: “O Senhor disse: ‘Não é bom que o homem esteja só. Vou dar-lhe uma auxiliar que lhe seja adequada’” (grifo meu).

O motivo que levou Deus a criar a mulher foi a falta; o vazio que o homem até então se esbarrava não podia ser recheado por outro. Criar um ser igual ao homem seria o mesmo que tentar preencher o vazio com ar. O melhor instrumento para um cano entupido é o desentupidor, e não um litro d’água. 

A mulher foi criada para o preenchimento de um vazio que completaria o homem, e, portanto, nem no nível mais raso pode-se igualar a ele em essência, visto que com essa igualdade faltaria nela o motivo pelo qual foi criada; e nesse caso em ambos, homem e mulher o vazio permaneceria, duplicado. Faltaria no ser feminino a mesma coisa que faltou no homem. Criaria um terceiro e o vazio se estenderia por todos…

A lacuna foi preenchida com uma auxiliar adequada, e adequada ao que faltava; não às rebarbas do masculino, a mulher não se adequa às sobras; e muito menos se adequa ao que há de comum entre ela e o homem. Sua adequação, visto que é para auxiliar e tapar um vazio, só é efetiva se não se diluir e manter o anonimato (de modo a proteger sua identidade) e o serviço (mantendo a essência feminina com o anonimato mais perfeito). A mulher sendo auxiliadora é o “socorro de Deus”.

Sim, o papel feminino é o do serviço. E o que afirmarei agora pode fazer o leitor não vacinado e mordido pelo antipatriarcado latir estrondosamente. O papel feminino, o papel da mulher, é o papel do segundo lugar. E exercendo esse papel, ela é a permissão para que o homem aconteça. Se a sociedade sofre pela falta de homens, uma parcela significativa desta culpa deve ser debitada em mulheres que se acovardam abdicam de sua função social, espiritual e amorosa.

Ser auxiliadora e estar em anonimato não são coisas negativas pois existe uma relação muito grande entre a essência da feminilidade e a sua expressão certa. O masculino e o feminino não devem ser reconhecidos apenas por um de seus aspetos componentes; e por isso não podem ser reduzidos. A expressão certa da feminilidade não é maleável, e se uma parcela de pessoas (não mulheres) se quiserem emancipar, que aceitem com isso a carga de responsabilidade pela irrupção que o ato causará na sociedade. 

A mulher é dada e alguém precisa recebê-la: este alguém é o homem, mas não a pode receber de qualquer modo. A mulher precisa ser acolhida, aceita de modo que seja preservada intacta e seus atributos todos estejam seguros e resguardados. O homem que deturpa isto, destrói-se a si mesmo, se agride a mulher, agride a ele mesmo simultaneamente.

Pergunta-me o leitor qual é o resultado deste acolhimento correto? Ora, nada mais resulta dele que não a preservação da distinção; do espaço preenchido; dito de outro modo, o acolhimento correto congela e petrifica a desigualdade, para que o amor se realize. Dando-se ao homem, esperando ser acolhida, a mulher percebe que completando o seu amado, estará completa. Ela descobre a si mesma. Também o homem, quando recebe a mulher, completa-se, melhora-se e se enriquece.

Na beleza da relação entre homem e mulher a complementariedade é o ponto constante (justamente pela petrificação dessa desigualdade inerente). Ambos se aceitam e se acolhem. Acolher outro ser humano é a maneira que homem e mulher, masculinidade e feminilidade encontram para se doar. Aceitando o outro, eles também aceitam se doar ao outro. A sexualidade identificada só existe pela existência do outro.

Se em algum lugar faltar masculinidade e feminilidade haverá incompletude e deficiência. A beleza da relação a dois são as diferenças: Masculinidade e feminilidade não só se complementam, elas se dignificam. O amor exige qualidades exaltadas.

Assim sendo, essas desigualdades só podem se expressar de uma maneira. A desigualdade por si não suporta o princípio de superioridade, de dominação incontrolável. Dois pequenos podem ser pequenos, e, sendo desiguais, continuam a ser pequenos. Mas se um deles resolve crescer, sabe que só poderá fazer isso se isolar um de seus aspectos componentes. Pode crescer, mas perderá a identidade.

Não pense o leitor que nego a existência do machismo. O que faço é retirá-lo da “estrutura” social, das palavras, dos gestos e canalizá-lo para um indivíduo que não merece ser chamado de “Homem”.  O feminismo por sua vez é tão horrendo quanto o machismo, ora mais descarado (como quando deseja e assassina nascituros), ora covarde (quando morde o patriarcado com o discurso pela igualdade). 

Ambos são deformações e por isso, mentirosos. É falsa a ideia de que são eles a manifestação do aumento de um dos sexos. Por exemplo, o homem quando agride uma mulher; ou a mulher quando quer se emancipar não estão elevando-se. Pelo contrário, eles estão se diminuindo.

Há de se lembrar o leitor de que masculinidade e feminilidade bíblica só se manifestam com uma forma. E dentro dessa forma, há elementos diversos que as compõe. No homem podemos sumariamente considerar a virilidade, a coragem e a força. A mulher, por sua vez, oferece-nos o exemplo de modéstia, pudor, delicadeza, submissão etc.  

Sendo as duas deformidades, comecemos pelo machismo, e o tomemos aqui como baseado na premissa de superioridade do homem à sua mulher, consequentemente, achando-a indigna de ser valorizada, fazendo uso da agressão verbal ou física para reafirmar sua autoridade e superioridade. Pergunto-lhe, leitor, o que é isto, se não a expressão maior de um aspecto que compõe o homem (a força) isolada e cultivada com sede de autoridade incontida? 

E também responda-me o que é o feminismo se não menos que a assombração de algumas “pessoas” com a essência do papel feminino da submissão regada com ressentimento e ódio político?

Assim, são as duas reduções do que é o masculino e feminino. Um machista não é um homem superestimado, mas sim um “homem” com lacuna, reduzido, sem todos os componentes. Uma feminista não é uma mulher emancipada, ela é uma “mulher” vazia, atrofiada e castrada de sua função como mulher.

(Rapidamente concluo que o feminismo – mesmo que esta seja o latido de pretensão mais eloquente – não pode acabar com o machismo. Se o machismo aqui é assumido como um vazio, uma falta e uma lacuna, o feminismo nada mais fez que dobrá-la. O vazio foi duplicado e criou-se um terceiro vazio que culminou nessa sociedade cinzenta).

Deixo agora de cicatrizar o papel, mordendo-o com palavras, para com um fato, conceder ao leitor mais do que um exemplo, mas a forma certa e única de se exercer a masculinidade e feminilidade. Bridger Walker, contando seis anos, com coragem pôs-se na frente de um cão para salvar a pequena irmã. Dispôs-se a sacrificar a vida por amor.

As feridas pelas mordidas que o pequeno rosto do garoto recebeu, resultaram em 90 pontos, os quais cicatrizarão um grande homem. Colocou-se em risco, e por isso dignifico-o como herói, a essência da masculinidade o próprio Walker maximizou: “Se alguém tivesse quet morrer, eu pensei que deveria ser eu”. Morderão Bridger com o antipatriarcalismo considerando um erro o feito do garoto? Ou mais, considerá-la-ão uma atitude machista e dominadora? Chamarão também a pequena irmã para protestar contra a submissão?

Esse é o único protagonismo masculino aceitável: o que, além de sacrificar-se amorosamente na mulher, é capaz de sacrificar-se corporalmente por ela. Deixar a mulher segundo lugar é expressão de amor.

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Yuri Ruiz

Yuri Ruiz

Um jovem conservador, antifeminista, antimarxista e cristão.

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