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A Concretização das Profecias Bíblicas e a postura do Cristão diante da política

Introdução:

Dia desses, conversando com um senhor que se apresentou como evangélico, falávamos sobre as nossas expectativas para o governo Bolsonaro. Depois de analisarmos rapidamente cada um dos ministros indicados pelo presidente eleito, eu disse que estou bem otimista e esperançoso com as mudanças que o Brasil passará, as quais eu julgo necessárias. Então aquele senhor me disse: “Mas não vai melhorar, porque se melhorar, a Bíblia não se cumpre, pois, ela diz que as coisas piorarão cada vez mais na medida em que chegamos ao fim dos tempos”. E eu concordei com ele, pois, as profecias bíblicas apontam para um tempo cada vez mais difícil, especialmente para os servos de Deus, mas, apesar do intenso sofrimento e perseguição que os servos de Deus enfrentarão, a eles é feita a seguinte promessa[1]:“Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos senhores e Rei dos rei; vencerão também os chamados, eleitos e fiéis que se acham com ele” (Apocalipse 17.14).

Porém, a conversa com aquele senhor ficou ecoando em meu coração, e um ponto que ressaltou e que me levou a escrever este artigo foi: qual o papel do cristão como cidadão no meio dessa sociedade que caminha inexoravelmente para aquilo que as Escrituras Sagradas chamam de “consumação dos séculos”, ou, “final dos tempos”?

De antemão é preciso dizer que não serão abordadas aqui as várias linhas escatológicas oriundas dos dois troncos principais de interpretação das Escrituras, o Aliancismo e o Dispensacionalismo. Embora eu seja aliancista, quero aqui discutir o assunto mais no campo da ética, aplicando as Escrituras ao tema, tendo como propósito fomentar o pensamento e reflexão sobre como podemos (e devemos) ser bons cidadãos deste mundo[2] tendo como norte os princípios da nossa cidadania celestial em Cristo Jesus.

Vejamos os seguintes pontos:

1) A certeza da concretização das profecias bíblicas:

Em 2Coríntios 1.20 lemos: Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para glória de Deus, por nosso intermédio”.

O que o apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo está afirmando aqui é que, por meio de Jesus Cristo, ou seja, por causa de Seu sacrifício santo em obediência a Deus, o Pai diz “sim” a todas as promessas que o Senhor Jesus nos fez, e a nossa resposta deve ser um sonoro “amém” para a glória de Deus. Então, todas as promessas que Cristo fez à Sua Igreja relativas à consumação dos séculos, ao Seu cuidado para conosco, à Sua vitória, e especialmente à Sua volta para buscar-nos, devem ser recebidas por nós com fé. Não há uma só promessa que Deus fez que caiu por terra, tal como constatou Josué aos israelitas: “Eis que, já hoje, sigo pelo caminho de todos os da terra; e vós bem sabeis de todo o vosso coração e de toda a vossa alma que nem uma só promessa caiu de todas as boas palavras que falou de vós o SENHOR, vosso Deus; todas vos sobrevieram, nem uma delas falhou” (Josué 23.14).

E assim tem sido, e certamente o será para sempre, pois, a base do cumprimento das profecias bíblicas é o caráter de Deus que é imutável. Então, quer você acredite ou não no que a Bíblia diz, isso não muda em nada as promessas de Deus.

Isto posto, partimos para a questão a que nos propomos responder aqui:

2) Como o cristão equaciona as profecias bíblicas sobre o fim dos tempos com suas responsabilidades para com a sociedade?

Lutando contra o comodismo

Primeiramente, é preciso que se diga que esse dilema não é tão simples de resolver. No passado, cristãos cometeram graves erros por não interpretarem corretamente as promessas de Cristo. Exemplo disso são as cartas que Paulo escreveu aos Tessalonicenses. Suas duas cartas escritas à essa comunidade tiveram como objetivo corrigir erros tais como o do comodismo. Ao receberem a primeira carta de Paulo, os tessalonicenses foram instruídos a viverem cada momento neste mundo sob a perspectiva da volta de Cristo (cf. 1Tessalonicenses 4.1-12), a qual será repentina e requer constante vigilância (cf. 1Tessalonicenses 5.1-11). Eles então concluíram: “Se Cristo pode voltar a qualquer momento, então para quê trabalhar, produzir, elaborar e executar projetos?”. Eles então se acomodaram. Passaram a viver com os recursos que tinham, e na medida em que estes recursos acabaram, saíram pedindo ajuda a outros irmãos, e não tardou para que se tornassem peso até para os não crentes dando assim, um péssimo testemunho. Por esta razão Paulo os repreendeu severamente dizendo: “Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer trabalhar, também não coma” (2Tessalonicenses 3.10).

O cristão não tem o direito de se acomodar alegando: “Se as coisas ficarão cada vez mais caóticas em todos os aspectos, então ficarei no meu canto, vivendo minha fé do jeito que der”. Esse ostracismo acomodado não reflete em nada o Mandato Cultural[3] que Deus deu aos Seus filhos para que estes expressem em suas ações o caráter santo, justo e soberano de Deus neste mundo.

Não fugindo, mas, enfrentando as adversidades

Ensinamentos heréticos têm desviado as pessoas da verdade bíblica e lhes prometido um “mar de rosas”, “sombra e água fresca” neste mundo. Mas, o Evangelho Verdadeiro não segue nessa direção. O chamado de Cristo aos Seus discípulos é para um viver de luta e sofrimento.

O chamado de Cristo para nós começa com uma luta interior. Em Lucas 9.23 lemos que: “Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me”. Renúncia, negação da própria vontade para fazer somente a vontade de Cristo, crucificar (mortificar) todos os dias os desejos pecaminosos para que somente aquilo que agrada a Deus seja feito. Essa é sem dúvida alguma uma das guerras mais difíceis a serem travadas pelos filhos de Deus. Mas, essa “guerra” também é vista e travada externamente. Cristo disse aos doze: Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim” (João 15.18). Na mesma direção o apóstolo Paulo disse: “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Timóteo 3.12).

A via do conservadorismo, especialmente aquele que se pauta pelos princípios bíblicos, encontrará severa resistência por parte dessa sociedade que se corrompe cada vez mais em seus enganos e vaidades. Definitivamente, aquele que se declarar um cristão convicto e fiel a Cristo haverá de encontrar oposição ferrenha. Mas, isso não poderá desanimá-lo. Pelo contrário, o cristão deverá se posicionar com firmeza, resistir com bravura e enfrentar com serenidade àqueles que se lhe opuserem.

Concluindo

Dissemos a pouco que pouco importa que alguém não creia no que a bíblia diz, pois, isso não muda em nada as promessas de Deus e a concretização de cada uma delas. Deus cumprirá cada uma de Suas promessas independentemente dos homens crerem Nele ou não, pois, como vimos, a base para o cumprimento delas é o Seu caráter santo, junto e fiel. Porém, cabe aqui uma advertência igualmente severa àqueles que se dizem crentes, mas, que vivem de forma bem diferente ao que a Fé Cristã ensina sobre a responsabilidade que o crente tem e deve exercer diante da sociedade a fim de honrar e glorificar a Deus diante dos homens. Eis a advertência: independentemente da obediência destes que se dizem crentes, mas, não vivem como tais, Deus realizará Suas promessas e desígnios, porém, cobrará destes tais cada ação não condizente com a Sua Palavra.

Que o temor de Deus nos nossos corações nos leve a um viver focado na glória de Deus e produtivo neste mundo, apesar das adversidades que haveremos de sofrer.

Referências:

[1] Todos os textos bíblicos citados aqui foram extraídos da versão 2ª Edição da Bíblia Almeida Revista e Atualizada da SBB, salvo quando indicado pelo autor.

[2] Empregamos a palavra “mundo” aqui no sentido de “um sistema que rege a sociedade e o indivíduo”.

[3] O conceito de Mandato Cultural é apresentado por estudiosos como Gerard Van Groningen em seu livro “Criação e Consumação” da Editora Cultura Cristã. Ele afirma (2002, vol.1, p.458-59):

O mandato cultural incluía áreas da vida que frequentemente tinham ramificações espirituais profundas e implicações sociais: comer comida limpa e rejeitar a imunda (Dt 14.1-21); cancelamento de débito (Dt 15.1-11); libertação de escravos (Dt 15.12-18); todo o sistema de corte e o trabalho dos juízes (Dt 16.18-20; 17.8-13; 19.1-21; 21.1-9); guerra (Dt 20.1-20); purificação do acampamento (Dt 23.9-14); invasão de propriedade (Dt 23.24,25); procedimento com os amalequitas (Dt 25.17-19) e práticas de barganha (Dt 25.13-161). Israel, como povo do reino vivendo em pacto com Yahweh, recebeu instruções com relação à vontade de Yahweh para todos os aspectos, áreas e esferas da vida. Enquanto que um relacionamento pessoal entre Yahweh, que amou, escolheu e cuidou de seu povo, e o povo que foi chamado a amar, obedecer e servir, foi enfatizado na primeira parte do corpo de estipulações (Dt 4.44 – 11.32), o modo como este relacionamento deveria ser exercido e demonstrado recebeu mais ênfase na parte final das estipulações (Dt 12.1—26.19). No entanto, o fato que Moisés não omitiu lembrar ao povo que eram filhos de Yahweh (Dt 14.1), um povo santo (Dt 14.2; 23.14), escolhido e possessão preciosa (Dt 14.2), não deve ser negligenciado. Eles não deveriam violar o pacto (Dt 17.2), pecar contra Yahweh (Dt 20.18) e trazer pecado para a terra (Dt 24.4). Eles foram lembrados de que as nações não deveriam influenciá-los porque eram escolhidos para mãsaltã bègôim robim (governar muitas nações), de acordo com as promessas feitas aos patriarcas (Gn 12.1; 17.6). O descanso na terra lhes foi garantido, mas isto não significava que não tinham obrigações a desempenhar (Dt 25.19). (Grifo é meu).

 

 

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