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Seu Ministério está ameaçado

“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias da sua vida até à consumação do século” (Mt 28.19,20)[1]

No evangelho de Mateus encontramos o comissionamento de Jesus aos seus apóstolos, palavras que alguns teólogos tratam como o ápice do evangelho. Sobre essas palavras de Jesus, os apóstolos e a igreja em todas as épocas apoiam-se para replicar o ministério do próprio Cristo. Entretanto, igrejas nos dias atuais abandonaram os ensinamentos de Jesus e passaram a propalar uma mensagem que nunca foi ensinada por Ele, muito menos replicada por seus apóstolos.

As palavras de Jesus narradas por Mateus servem como alicerces para igreja de Cristo, elas apontam a missão que a igreja deve cumprir. Na missão imposta por Jesus a sua igreja não há espaço para teorias, fantasias e muito menos ideologias; propostas de redenção por meio da política nunca fizeram parte da grande comissão de Cristo.

Sendo notório que hoje, teorias, fantasias e ideologias invadiram a igreja, é correto afirmar que ministério está sendo ameaçado? Aqui é preciso lembrar que o ministério não é algo particular, não existe alguém com posse ou direito exclusivo sobre o ministério de Jesus, entretanto o próprio Cristo comissiona a sua igreja a reproduzir seu ministério, não praticando como algo que vem da autoridade do próprio homem, mas praticando o ministério na autoridade delegada pelo próprio Cristo aos seus (cf. Mt 28.18). Sendo assim, a igreja como portadora do ministério tem uma grande responsabilidade em suas mãos, porém, coloca em risco o cumprimento de seu ministério quando permite que teorias, fantasias e ideologias brotem em seu meio.

Infelizmente a igreja no presente século anseia por uma redenção política, misturando cristianismo e marxismo, crendo ser possível viver nesse mundo desfrutando de duas cosmovisões antagônicas. As justificativas apresentadas para a união do pensamento socialista ao cristianismo é que na prática os ideais socialistas cumprem os ensinamentos de Cristo, principalmente aqueles deixados pelos apóstolos no livro de Atos. Entretanto, enxergar os ideais socialistas nos escritos de Lucas ao narrar Atos dos Apóstolos, revela notória incapacidade de interpretação e aplicação do texto, acarretando em um cristianismo paraplégico, onde o socialismo passa ser a cadeira de rodas e o cristianismo o homem deficiente.

Jesus Cristo e seus seguidores nunca apontaram para uma redenção política, embora houve determinados grupos nos tempos dos apóstolos que buscavam esse tipo de redenção, a mensagem dos apóstolos sempre esteve alicerçada sobre Cristo (cf. At 4.12; Rm 4.2; 1Co 1.23, 1Pe 2.4). O apóstolo amado ao escrever as palavras do Mestre já demonstra que o reino de Cristo não é deste mundo (cf. Jo 18.36).

A igreja de Cristo nunca viveu um período de plena paz, sempre houve e haverá opositores a fé cristã enquanto ela estiver vivendo em mundo caído. No primeiro século da era cristã o gnosticismo se ergueu fortemente contra igreja, naquele momento coube aos ministros do evangelho identificarem essa ameaça e combate-la. O gnosticismo não foi a única ameaça a fé, muitas outras já existiam antes dele e muitas passaram a existir depois dele.

A igreja nos dias atuais enfrenta outras ameaças, porém, analisando essas ameaças é possível perceber que não há nada de novo sendo sugerido, afinal são as mesmas noivas, apenas os penteados mudaram. Richard L. Mayhue ao falar sobre as ameaças que a igreja enfrenta diz: “Pode-se argumentar que nenhuma época se aproxima mais dos primórdios da igreja do século l que a presente. Nossos primeiros irmãos enfrentaram uma cultura pagã, pré-cristã e pré-moderna”[1]. É notório que a igreja dos dias atuais está em oposição a um mundo pagão, pós cristão e pós-moderno, assim como a igreja do primeiro século.

Assim como o gnosticismo foi uma ameaça a igreja no primeiro século, hoje o marxismo está se levantando e se infiltrando no meio da igreja. Novas teologias são propostas sobre um pressuposto materialista, desprezando todo aspecto transcendente da fé cristã, propondo uma nova hermenêutica e aplicação das Escrituras. A redenção do homem transporta-se do divino para o temporal e o meio pelo qual se conquista essa redenção é através da política. Bento XVI ao comentar a política como meio de redenção ao homem diz: “Quando a política pretende ser redentora, promete demais. Quando pretende fazer a obra de Deus, não se torna divina, mas demoníaca”[2]

Nunca foi papel da igreja trazer redenção ao mundo por meio de uma teoria, fantasia ou ideologia. O mundo perfeito idealizado pelos teóricos, filósofos e políticos socialistas, não foi inspirado pelo Espírito Santo. Toda cosmovisão de mundo projetada pelos socialistas parte de um pressuposto onde Deus está fora de cena, onde não há queda, onde o homem é o centro do universo, onde todas as respostas podem ser encontradas no próprio homem, onde a redenção só será alcançada quando todos forem iguais, onde o Estado perfeito só será atingido quando não houver mais religião e muito menos família.

Se a missão da igreja não é trazer redenção social, então qual é sua missão? A verdadeira missão da igreja está em replicar aquilo que Jesus confiou em suas mãos, isso não envolve redenção por meio da política, envolve em levar pecadores ao arrependimento, e a “Grande Comissão” pode apontar o caminho certo a ser percorrido.

O evangelho de Mateus narra que os discípulos foram comissionados a levar a mensagem da obra Jesus Cristo às pessoas que estavam perecendo no pecado e a ajudar os que se arrependeram e confessaram Jesus como Senhor e Salvador, a seguirem o exemplo do Mestre. Os ensinamentos de Jesus narrados por Mateus, são essências para compreensão do que deve ser reproduzido na vida daqueles que se achegaram a fé em Cristo. O batismo é o meio pelo qual o discípulo deixa evidente a todos que agora faz parte da comunidade dos santos.

O principal mandamento recai sobre a máxima “fazei discípulos”, mas os outros particípios “ide” “batizando” e “ensinando” também tem seus valores e não devem ser menosprezados, fazendo que esses três elementos sejam parte de “fazei discípulos”. Mateus comunicava aos seus ouvintes que Jesus deu o exemplo desses três aspectos aos seus discípulos e que a melhor maneira de cumprir com a excelência a tarefa, agora designada a eles, era reproduzir o que o Mestre produziu.

Mateus mostra aos seus leitores que Jesus era o Messias prometido, fazendo uma enorme porção de citações dos profetas, fazendo com que seus ouvintes se recordassem das promessas que haveria um messias e que olhando para Jesus, era possível encontrar a realização dessa promessa. As palavras de Jesus no evangelho de Mateus mostram que há uma necessidade nos dias atuais de revermos os conceitos sobre qual é a missão da igreja.

Na “Grande Comissão” não há espaço para redenção política, não há outros deuses, não há outro batismo, não aponta-se para outros ensinamentos ou ideologias utópicas. Na Grande Comissão só há um Deus – Deus trino, um só batismo e uma única missão – levar homens pecadores a semelhança de Cristo.

Portanto o ministério da igreja de Jesus Cristo está sendo ameaçado, ameaça que se mostra toda vez que um ministro oferece uma porção de teologia misturada com ideologia, quando idealiza-se um céu na terra construído pelo Estado, quando ensina-se feminismo no lugar do cristianismo e principalmente quando se espera do socialismo o que só Deus pode fazer – trazer redenção ao homem caído.

 

Referências:

[1] MACARTHUR, John. Ministério Pastoral Alcançando a excelência no ministério cristão. Rio de Janeiro, RJ: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1998

[2] RATZINGER, Joseph, Fé, verdade, tolerância. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio, 2015, p.110.

[1] BÍBLIA SAGRADA. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. 2 ed. Barueri – SP: Sociedade Bíblica do Brasi, 1999. 896p.

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Wesley Felipe

Wesley Felipe

Wesley Felipe dos Santos, é um dos fundadores do Burke Instituto Conservador. Casado com Larissa Marazzio. É bacharel em teologia pelo Cetevap (Centro Estudos Teológicos Vale Paraíba) e covalidado pela Faterj, coordenador de cursos do Ministério Ler, membro do Templo Batista Bíblico de São José dos Campos –SP.

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