O teatro das Mentiras, do Ego e da Busca pelo poder: Como ideólogos conseguem mentir de forma tão convincente?

Chegará o dia em que teremos que provar ao mundo que a grama é verde. (G.K. Chesterton)

Todo aquele que está do lado da verdade escuta a minha voz.  Pilatos lhe disse: “O que é verdade?” (grifo meu) (João 18:37b-38)

Da covardia que teme novas verdades.

Da preguiça que aceita meias-verdades,

Da arrogância que pensa saber toda li verdade,

Ó Senhor, livra-nos. (Arthur Ford)

Não há verdade absoluta, tudo é questão de perspectiva. A realidade deve se adequar e se dobrar diante das vontades, desejos e delírios do individuo já que não  existe realidade objetiva a ser analisada e compreendida sob as luzes da razão; tempos sólidos se foram e vivemos baixo a liquidez do mundo moderno.

 A verdade cientifica se dobra dia após dia diante da ignorância, da anticiência (interpretação subjetiva que está acima de evidências cientificas) e da ideologia marxista (progressista).  Uma sociedade saudável deveria valorizar a razão acima da emoção, histórias de superação em vez de histórias de vitimização, comprovação cientifica em vez de imposição ideológica, a pluralidade de idéias e liberdade de expressão; Nunca hegemonia narrativa e a perseguição ao contraditório. 

Não me julgo capaz de conceituar o termo VERDADE, mas tenho por certo que há A Verdade e esta está alicerçada em evidências concretas e sólidas e, costumeiramente,  se encontra acompanhada de uma interpretação honesta e metódica; a verdade, no fim, nasce do conflito de ideias e do ceticismo, do olhar para o passado histórico e suas lições e não para um futuro hipotético e incerto. Protágoras, filósofo sofista, possui uma frase que ganha novos contornos no fim do século XX e começo do século XXI: O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são. 

Existem mentiras (para progressistas e pseudointelectuais) a ser aceitas de como verdade absoluta por todos, pois servem a interesses ideológicos e políticos, mentiras que aprisionam pessoas para despojá-las de sua capacidade de crítica e torná-las marionetes a serviço de interesses sórdidos. O professor e filósofo Olavo de Carvalho no seu artigo O problema da verdade e a verdade do problema, afirma : 

Tentemos uma segunda estratégia, a do relativismo subjetivista. Este proclama, com Protágoras, que “o homem é a medida de todas as coisas”, o que se interpreta correntemente no sentido de que “cada cabeça, uma sentença”, ou seja, de que o que é verdade é verdade apenas desde o ponto de vista daquele que a pensa, podendo ser falsidade desde o ponto de vista de todos os demais. Pode essa afirmação constituir a base de um questionamento radical da verdade, de tal modo que a negação da existência de qualquer fundamento cognitivo universal e permanente da validade dos juízos não se torne ela mesma o fundamento cognitivo universal e permanente em que se apóia a validade dos juízos subseqüentes na mesma linha de investigação? Dito de outro modo, e mais simples: pode o relativismo negar a existência de juízos válidos para todos os homens sem que essa negação se torne ela mesma um juízo válido para todos os homens? Para fazê-lo, ele teria de negar a universalidade dessa negação, o que resultaria em admitir a existência de algum ou de alguns ou de uma infinidade de juízos válidos para todos os homens. Assim o relativismo estaria ele próprio relativizado e acabaria se resumindo numa platitude sem qualquer significado filosófico, isto é, na afirmação de que alguns juízos não são válidos para todos os homens, o que implica a possibilidade de que outros juízos talvez o sejam. Não, o relativismo subjetivista não pode realizar um questionamento radical da verdade, tanto quanto não o podia o pragmatismo. (grifo meu)

A modernidade de fins do século XX e começo do século XXI se distingue de outros períodos sócio históricos, por não possuir um conjunto de referências e regras sociais e morais sólidos a nortear o comportamento do individuo. De acordo com Bauman:

São esses padrões, códigos e regras a que podíamos nos conformar, que podíamos selecionar como pontos estáveis de orientação e pelos quais podíamos nos deixar depois guiar, que estão cada vez mais em falta.  Isso não quer dizer que nossos contemporâneos sejam livres para construir seu modo de vida a partir do zero e segundo sua vontade, ou que não sejam mais dependentes da sociedade para obter as plantas e os materiais de construção. Mas quer dizer que estamos passando de uma era de ‘grupos de referência’ predeterminados a uma outra de ‘comparação universal’, em que o destino dos trabalhos de autoconstrução individual (…) não está dado de antemão, e tende a sofrer numerosa e profundas mudanças antes que esses trabalhos alcancem seu único fim genuíno: o fim da vida do indivíduo.(grifo meu) (BAUMAN, 2001)

A falta de referências sólidas advindas da concepção teológica e tradição judaico-cristã (atacada por grupos progressistas) e de um entendimento histórico claro e aprofundado, faz que o indivíduo lance mão de seus instintos, anseios e desejos para reconstruir a si mesmo, distorcendo a realidade objetiva e retaliando-a para que esta se adapte e se encaixe dentro de conclusões e certezas que oferecem conforto e entendimento. 

Pode ser isto fruto meramente de sua covardia e ignorância, e neste caso, vemos um individuo que está preso numa verdadeira caverna platônica, embora perceba que há todo um mundo de idéias que contradizem sua medíocre, simplista e reducionista percepção, este toma a decisão de ficar dentro da caverna, negando-se a abraçar as luzes da razão. 

Há também àqueles que negam sua individualidade em prol da ideologia, amordaçados pelo politicamente correto, aprisionamento e corrupção da linguagem, pela negação da história e deturpação desta e pelo ódio contra um imaginário grupo de opressores cuja existência é, segundo socialistas, tão maligna como um câncer, por isso os socialistas acreditam que destruí-los é um bem em favor do mundo melhor. Sobre a ideologia marxista há uma importante consideração realizada por R.N Champlin:

Marx e Engels falavam de filosofias que não concordavam com as ideologias deles, atribuindo a todas essas filosofias erros e distorções. O termo, pois, foi usado em sentido pejorativo para indicar todos os sistemas, menos o sistema comunista. Em sua arrogância, eles consideravam que o sistema deles não continha erros e nem distorções, pelo que o sistema deles não seria uma ideologia. Os dogmas sempre caem nesse absurdo. Mas, nos escritos posteriores deles, o termo «ideologia» aparece em sentido generalizado, especialmente no tocante a questões metafísicas; e o próprio sistema deles, a partir dai, pode ser intitulado de uma ideologia, que alicerça todas as coisas sobre o materialismo e as suas condições, sobretudo as condições econômicas.

(R.N Champlin)

O conferencista Leonardo Dantas Costa em sua palestra: Vida Universitária, vida cristã, Universidade e a crise da verdade, faz a seguinte consideração a respeito do conceito de verdade dentro da modernidade líquida: 

Na modernidade líquida, a noção de verdade que até então era sólida, possuía significado claro e, consequentemente, produzia noções determinadas de certo/errado, torna-se fluída. E, assim, como todas as substâncias em seu estado liquido, a verdade deixa de possuir forma definida e passa a adotar a forma que quiserem lhe dar. (grifo meu)

Três grupos atuam de modo bastante claro no processo de liquidificação de valores e da verdade, o jornalismo, classe artística e falsos educadores. De acordo com o palestrante Dantas Costa, há três mitos que percorrem a sociedade, universidades e mídia, que precisam ser elucidados e denunciados por sua nocividade:

O mito da honestidade: “A verdade é tudo aquilo em que acreditamos honestamente”. Caso eu acredite que estar 50 quilos acima ou abaixo do peso é ideal e o melhor para mim, qualquer evidência científica que aponte o contrário, por exemplo, é mero fruto de preconceito e ódio. A sociedade deve se moldar à minha concepção restrita, limitada e emotiva, não podendo pronunciar-se de modo contrário. 

Mito do consensualismo: “A verdade é tudo que é majoritariamente aceito pela sociedade. Para esta concepção, torna-se verdade tudo aquilo que é praticado reiteradamente pela maioria das pessoas”. Não há porquê duvidar de uma informação ou comportamento se este é abraçado sem ressalvas pela maior parte da mídia e de centros de formação intelectual. O que vale é ficar no conforto oferecido pela maioria, de se sentir inteligente e moralmente bom por seguir certas tendências sociais. Cabe aqui a sabedoria de uma frase atribuída a Nelson Rodrigues: 

Toda a unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar.

Mito do pragmatismo: “A verdade é tudo aquilo que é útil para alguém”.  Não importa se afeta negativamente a sociedade, outro individuo ou a mim mesmo. Faz feliz? Oferece prazer? Então basta; Opiniões contrárias devem ser repudiadas. É o hedonismo sendo levado como único meio de viver e entender o mundo. Epicuro, filósofo grego do período helenístico, em sua Carta a Meneceu , escreve: 

Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo. Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser sempre evitadas. Convém, portanto, avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Há ocasiões em que utilizamos um bem como se fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem.

A mídia e a educação contaminadas pela doutrinação ideológica espalham esses mitos, de modo que, geralmente, debater assuntos complexos no Brasil se tornou um real pesadelo para um intelectual mediano, quem dirá para aqueles detentores de uma inteligência nata e rara. 

Referencias bibliográficas:

BAUMAN, Zygmunt – Modernidade Líquida – Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed 2001.

CARVALHO, Olavo de. O problema da verdade e a verdade do problema. Disponível em: http://olavodecarvalho.org/o-problema-da-verdade-e-a-verdade-do-problema/ Acesso em 23 de agosto de 2019.

CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Volume 3. Editora hagnos, São Paulo.

DANTAS COSTA, Leonardo. Vida Universitária, vida cristã, Universidade e a crise da verdade. Palestra oferecida no congresso IMPACTAR 2019,  na cidade de Igarassu, Pernambuco.

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Carlos Alberto Chaves P. Junior

Carlos Alberto Chaves P. Junior

Graduado pela Universidade Federal de Pernambuco ( UFPE) em letras desde o ano de 2008.

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