Temperamento é o novo horóscopo

“Ah, desculpa, é que eu sou colérico”.

Essa frase pode ser ouvida com bastante frequência e em diversos ambientes. De conversas na igreja a perfis que tratam do tema família, educação de filhos etc. Só muda o temperamento em questão e o sujeito: quando não é “desculpa, é que eu sou melancólico” é algo como “ah, meu filho é assim porque ele é sanguíneo” ou algo do tipo. Mas o objetivo é o mesmo: se livrar da própria culpa. E como hoje em dia pega mal falar em signos, a moda agora é apelar aos temperamentos. Há ainda outra vantagem: os signos são 12, temperamentos são só 4 – e quem “escolhe” o temperamento é você, de acordo com a conveniência do momento. Por exemplo, se no dia em que você descobriu o que são os temperamentos você brigou com a sua mulher, com certeza você é colérico. Se ela caiu no choro, deve ser melancólica. Aquele filho que não presta atenção em nada: sanguíneo! E o cunhado preguiçoso só pode ser fleumático.

Em suma, “desculpa, é que eu sou colérico” é o novo “desculpe, é que eu sou ariano”.

E se você chegou até aqui feliz por achar que essa coluna seria uma resposta lacradora da ciência a “toda essa baboseira”, achou errado. Esse texto é uma resposta ao que eu considero uma baboseira, mas não será uma resposta científica, será uma resposta astrológica.

Não, eu não sou astrólogo. Ainda estou no início do início dos estudos sobre astrologia ocidental e tenho poucas e rasas noções sobre a técnica astrológica em si. No entanto, o pouco que já estudei já serviu para eliminar alguns preconceitos sobre astrologia. O principal deles: astrologia é aquilo que vem no horóscopo do jornal. Infelizmente não será possível explicar muito sobre esse ponto, e para quem tiver interesse, indico fortemente o livro do astrólogo (tradutor, católico e dono do humor ácido mais maduro do twitter) Marcos Monteiro Introdução à Astrologia Ocidental.

E aproveitando que estamos falando de astrologia, dei uma olhada aqui no meu mapa astral e prevejo muitos e muitos comentários furiosos sobre o conteúdo herético desse texto. Meu conselho: critique à vontade, mas depois compre o livro do Marcos e leia. Indico também o tratado de astrocaracterologia do professor Olavo de Carvalho. Você vai descobrir que a hipótese astrológica é mais compatível com a cosmovisão cristã do que a rejeição a ela.


Mas vamos falar de temperamentos.

Se você fizer uma pesquisa sobre o assunto, você encontrará, basicamente, abordagens psicológicas sobre o tema. Por mais que muitos autores e produtores de conteúdo até digam, corretamente, que o temperamento não se confunde com a personalidade, sendo algo anterior a ela, invariavelmente prossegue-se a uma análise comportamental. Identifica-se, por exemplo, o colérico como o sujeito que se irrita facilmente, o melancólico como a pessoa mais tendente à depressão, o sanguíneo como a pessoa mais “avoada” e dispersa, e o fleumático como a pessoa muito paciente ou preguiçosa.

Essas características até têm alguma relação com os temperamentos em si, o problema é o modo como eles são encarados por quase todo mundo que eu vejo falar no assunto, salvo raríssimas exceções.

Para entender, de fato, o que são esses temperamentos, é preciso ter em mente o seguinte: o temperamento é, basicamente, aquilo do que você é feito fisicamente falando.

Eu sei que é difícil entender isso, pelo fato de que, como já disse, sempre que o assunto temperamento é abordado, ele o é pela via psicológica. Mas pense comigo: se é verdade que o temperamento é um aspecto imutável do ser e anterior à personalidade, ele não pode com ela ser confundida. E quando, para explicar os temperamentos, os autores falam em irritabilidade, paciência, tristeza, dispersão, atenção, etc., eles estão usando termos psicológicos/comportamentais.

Uma característica essencial do comportamento é que ele muda. Quem nunca identificou uma mudança brusca em alguém, por exemplo, que acabou de passar pela puberdade. Um jovem que era tímido e recluso, depois de determinada idade passa a ser extrovertido, comunicativo e irascível. Ora, o que houve? O temperamento dele mudou? Era um melancólico que “virou colérico”? Impossível. Há uma clara incompatibilidade entre o pressuposto assumido, os métodos adotados e a própria realidade da vida.

De novo: não é possível encerrar aqui o assunto. Menos pela extensão do tema do que pela incapacidade do autor. Mas acredito que posso deixar alguma contribuição.

Quando a humanidade começou a estudar isso, na Grécia Antiga (pra variar), a definição de temperamento era feita com base na predominância de um dos quatro fluidos (humores) humanos: a bílis (colérico), a linfa ou fleuma (fleumático), o sangue (sanguíneo) ou a bílis negra (melancólico). E a cada um desses temperamentos, foi associado um dos quatro elementos fundamentais da natureza, respectivamente: fogo, água, ar e terra. É como se cada pessoa tivesse – simbolicamente – maior predominância de algum desses elementos em si.

Por ser um elemento de ordem física/corporal, o temperamento pode exercer alguma influência na personalidade, porém isso não é assim tão determinante, a não ser que alguém tenha um temperamento muito forte, mas é relativamente comum que pessoas sejam equilibradas, tendo um pouco de cada elemento dentro de si. Para essas pessoas, saber qual o seu temperamento valerá pouco. E mesmo para quem tenha um temperamento muito acentuado, o foco não é a influência desse temperamento na sua personalidade, mas na sua saúde! Na sua origem portanto, o estudo dos temperamento tinha principalmente finalidade médica.

Pois bem, se entendemos a diferença entre temperamento e personalidade, e compreendemos que, pelo contraste entre a imutabilidade do temperamento e a extrema variabilidade da personalidade humana, não é possível identificar o temperamento de alguém apenas pela observação, resta saber como podemos identificá-lo. Há dois modos que reputo mais seguros: pela observação e análise simbólica da fisionomia do indivíduo ou pelo cálculo astrológico do mapa natal.

O primeiro é menos preciso, mas já é mais acertado do que a abordagem comportamental. Aqui você não analisa o comportamento do indivíduo, mas a sua fisionomia. Para isso, é necessário algum conhecimento simbólico. Um exemplo simples: o colérico é o temperamento associado ao fogo. Outras coisas associadas ao fogo são o ouro, o sol e o leão. Agora veja essas duas pessoas. Ambos são coléricos. Um é presidente, o outro foi um ator/lutador. Há neles alguma semelhança com fogo? Há algo que te lembre o elemento fogo ou alguma das coisas a ele associadas?

Mas é claro, nem sempre a coisa é tão evidente. Por isso, o modo mais preciso de acertar o temperamento de alguém é pelo cálculo astrológico, utilizando-se das informações constantes no mapa natal da pessoa.

O mapa natal nada mais é do que uma disposição pictográfica do céu no lugar e momento em que a pessoa nasceu. É um desenho que identifica onde estava cada planeta e cada signo naquele momento. Com isso em mãos, é possível interpretar o que aquela disposição celestial indica sobre a pessoa que nasceu. Há alguns métodos para isso, mas o pressuposto é o mesmo: a posição dos astros no céu pode nos indicar algo sobre aquele evento terrestre – o nascimento daquele indivíduo. O método usado pelo astrólogo Marcos Monteiro utiliza-se dos chamados cinco testemunhos: o ascendente, o regente do ascendente, a fase da lua, a estação do sol e o “senhor da natividade” (o planeta que naquele mapa tem mais dignidades essenciais).

Esse modo de identificar o temperamento é, ao meu ver, mais correto, exatamente por não depender do seu estado atual. O temperamento não diz respeito àquilo que você está sentindo agora, mas àquilo que você é desde que você nasceu e que vai continuar sendo até a sua morte, não por “destino” nem nada disso, mas pelo simples fato de que essa é a matéria prima com a qual Deus fez você.

Quando alguém me pede para calcular o seu temperamento, a reação é quase sempre de surpresa: “Eu, melancólico?! Não é possível, isso tá errado!” Não são necessárias mais do que duas ou três perguntas para convencer de que ela realmente era melancólica, apesar de aparentar não ser. Normalmente o caminho é esse: primeiro identifica-se o temperamento pelo cálculo, depois compreende-se melhor pelas analogias simbólicas com aquele elemento.

E é justamente disso que se trata. O seu temperamento não determina suas ações. Você não se ira facilmente porque é colérico, mas porque você não quer ter mais paciência. Agora, todos nós nascemos com facilidades e dificuldades. Nós não escolhemos o corpo que temos, as doenças que desenvolvemos, a quantidade de inteligência, a capacidade de concentração, nada. A única coisa que podemos fazer é trabalhar essas dificuldades e desenvolver aquelas facilidades. Mas para isso, é imprescindível nos conhecermos como de fato somos. Um diagnóstico errado levará a um tratamento errado e resultados indesejados. Por isso, saber qual é (realmente) o seu temperamento é tão importante. É um bom ponto de partida.

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Igor Moreira

Igor Moreira

Editor do Burke Instituto Conservador. Professor e palestrante.

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