Imagem: EVARISTO SA (AFP)

De piada a Presidente

A posse presidencial mais esperada do Brasil, em toda a sua história, ocorreu ontem (01/01) em Brasília, sob os olhares soturnos dos velhos deuses daquele Olympo, e da lisonjeira aclamação do povo que colocou o seu escolhido no trono de líder máximo da nação. Entre fúrias e aplausos, para o bem ou para o mal, Jair Messias Bolsonaro é o nosso Presidente pelos próximos 4 anos. Parece até mentira, ilusão de ótica, caso tenham acompanhado o percurso do ex-deputado.

Debaixo dos holofotes da grande mídia, sob as enxurradas de críticas e flores, existe um homem que, sem demora, deve ser vigiado em sua conduta pública, assim como ajudado em seu governo. O dever para com a retidão invade qualquer Planalto, independente de quem seja, por hora, o seu comandante máximo; que o Presidente Bolsonaro não espere menos do que a igual austeridade moral e ética com a qual julgamos os governos pregressos. Somos conservadores e não idólatras; nosso compromisso é com a verdade e não com homens e ideologias.

Não nos esqueçamos, todavia, que deliberadamente prejudicar o governo, seja ele de quem for, vermelho ou azul, é o mesmo que sabotar o bote que nos carrega. E que isso é o mesmo que ser orgulhosamente burro!

Mas, por um momento, nos esqueçamos do que está por vir, teremos muito tempo para analisar o futuro (esperamos ao menos). A crônica da posse de Jair Bolsonaro se deu nos pequenos e grandes detalhes; primeiramente podemos ver uma leve mudança no trato midiático ao novo Presidente do Brasil. Aquele candidato marginalizado e ridicularizado pelo mainstream brasileiro e mundial, teve — talvez — a maior cobertura jornalística da história nacional. As constantes críticas, por vezes tão vazias que sequer os críticos levavam a sério, deu lugar a um apreço velado às posturas mais diplomáticas do conservador empossado.

Foi por essa mesma cobertura midiática que vimos Jair Bolsonaro — em sua primeira aparição pública do dia — descer do carro blindado de seus seguranças e traçar o sinal da cruz sobre si diante da catedral católica de Brasília, posteriormente, quebrando mais uma vez os protocolos, foi até o sacerdote dessa mesma Igreja para abraçá-lo — gesto acompanhado pela primeira Dama. Posteriormente, em carro aberto, e visivelmente emocionado, desfilou saudando o público que gritava por seu nome e apelido: “Mito”.

Subindo a rampa, rumo ao parlamento, foi recebido sob as pompas militares e civis; em seu discurso, após ser empossado em seu novo cargo, usou de um tom diplomático ainda que mil vezes menos piegas que a diplomacia de algodão-doce de outras eras. Chamou os seus conterrâneos de Câmara e Senado para um pacto em favor do Brasil abandonando as ideologias; para tal, usou o lugar comum do bem-estar do povo e a recuperação nacional como múnus retórico. Após passar a guarda em vista, subiu ao parlatório a fim de receber a faixa presidencial do ex-presidente Temer; o protocolo oficial o tirou brevemente do parlatório, voltando, todavia, em pouco tempo ao mesmo lugar diante da multidão, agora sim para falar com os adeptos que tanto esperavam.

Para a surpresa de todos, novamente o protocolo foi ferido; foi a Primeira Dama que discursou em libras, fazendo uma defesa franca dos deficientes auditivos, defesa essa que mareou os olhos de quem a via e até mesmo da tradutora que a acompanhava no parlatório. A Primeira Dama, sem precisar se apegar ao falatório progressista do feminismo, usou de sua criatividade e força para se fazer entender e respeitar; diante do mundo todo, o machista mor da nação brasileira — causa máxima do #EleNão — cedeu o protagonismo do primeiro discurso no parlatório à sua esposa. Algo tão inédito quanto constrangedor para muitos que já ensaiavam as manchetes de como Bolsonaro foi rude e machista por algum ato qualquer que eles inventariam. Os comentaristas televisivos engasgavam, as gargantas feministas embargaram, não se sabe, porém, se de emoção ou raiva.

Após Michele Bolsonaro veio o seu marido e Presidente da República, o discurso não traiu quem o esperava, falou em tom patriótico, desfraldou a bandeira e prometeu defendê-la nem que seja ao custo de sangue. Algo tão novo no Brasil que, talvez, tenha soado como uma língua estrangeira a muitos ouvidos ensinados a ver o orgulho nacional como sinônimo de fascismo e nazismo, o desprendimento patriótico como algo gourmet do pensamento globalista dos “inteligentinhos”. No entanto, o patriotismo foi exaltado, não mais como ufania de tribos, sindicatos e castas, ou das demais partições sociais que carregam a sua ideologia como sendo a sua nação; mas foi a própria nação a exaltada, suas cores, seu hino, seu povo, suas instituições e vontades. Ao invés de bandeiras da CUT, PT e dos diversos sindicatos e partidos — o que de fato deveria assustar qualquer mente sã —, viu-se um mar de pessoas trajando ou balançando a flâmula nacional.

Tudo isso é garantia de que Bolsonaro será um bom presidente? Não, por si só balançar a bandeira nacional e dizer amar seu país não é salvaguarda de um bom governo. A democracia é complexa, requer jogo de cintura, negociações, diálogo, diplomacias, abonos e, por vezes, engolir alguns sapos por dia. E quanto maior a expectativa, maior será o jugo depositado nas costas do Presidente. Seus apoiadores — os sensatos, não os fiéis — esperarão e cobrarão as pautas que os fizeram acreditar nele; seus algozes buscarão diuturnamente qualquer tropeço de sua gestão, serão ferozes, afinal, suas meretrizes ideológicas foram deixadas de lados, seus objetos de culto — a ideologia esquerdista — rechaçada veementemente.

Entretanto, após tantos anos vivendo sob a gosma retórica de um socialismo que fede à defunto, sob a tirania do pensamento único, depois de décadas sendo geridos por uma esquerda enamorada por ditaduras e tiranias diversas, perceber que há um representante que conseguiu sintetizar o núcleo daquilo que o povo acredita e defende, isso é um bálsamo para a democracia nacional. Se os antigos estavam certos ao determinar que a democracia é o governo ditado pela vontade da maioria, pois bem, habemus democracia.

Nosso editor-chefe disse em seu perfil Facebook algo que traduz com fidelidade o que significou tal momento; são breves palavras, porém certeiras:

“Se a democracia realmente existe, hoje ela se mostra a olho nu, se expõe pornograficamente diante do espanto e maravilhamento de milhões. Do ridículo a Presidente, isto seria perfeitamente o roteiro de um filme, aquele onde o indivíduo passa de pulha da sociedade a guardião da nação. A história escrita pelas mãos do povo.

Eu contarei isso aos meus filhos”.

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