Imagem: Ricardo Moraes/Reuters

Não há crise, há mídia

É patente observar — assim como ser um analista sincero para admitir — que não há crise governamental por causa de Bebianno; assim como não adianta forçar a barra para fazer do atual momento institucional do executivo, um tempo áureo, como se já fosse o governo-solução para o Brasil. Nem um e nem outro. O atual governo, frente aos últimos quatro outros que tivemos, vai muito bem, obrigado; no entanto, não vai tão bem como esperávamos, inclusive entre os mais prudentes.

Bolsonaro não pode esperar vencer uma crise republicana, um embate no Senado ou no Parlamento, se sequer consegue mandar as suas crias não se meterem em questões de Estado. Bolsonaro tem que entender que filhos são filhos, e a presidência é algo à parte. Filhos não precisam ter sequer acesso irrestrito ao Presidente, a função de Bolsonaro-Pai é de caráter nacional, um mandato popular. Bolsonaro deve satisfação a nós sobre o seu trabalho, e não a seus filhos. Carlos Bolsonaro, principalmente, mais atrapalha do que ajuda ao querer defender e assessorar seu pai. Sua equipe de comunicação está ali para isso; caso ela não esteja dando conta, que Carlos então deixe o mandato de vereador no Rio de Janeiro, e seja contratado por Bolsonaro para o cargo da comunicação presidencial.

Além disso, Bolsonaro é claramente mal assessorado, no caso Bebianno haveria mil dicas úteis antes que ele concedesse uma entrevista a Record. Bolsonaro disse abertamente que não falou com Bebianno, o que veio a ser desmentido ontem quando a Veja publicou os áudios da conversa entre o ex-ministro e o Presidente. Bolsonaro. Conscientemente ou não, tendo em mente um ou outro assunto, acabou mentindo e isso não é bom para sua imagem; todavia, nem de longe isso assinala ou faz uma crise governamental, não será o primeiro e nem o último Presidente a mentir à imprensa.

Verdade seja dita: sequer é uma fumaça, quanto menos um incêndio de Nero no Planalto. Bolsonaro demitiu Bebianno por sua arrogância, prepotência e envolvimento mal explicado na questão de desvio de fundo partidário do PSL. Ou seja, a demissão se deu pelo mais comum e incisivo dos motivos: Bolsonaro não confiava mais em Bebianno. Simples assim, ainda que isso de fato não venda tickets para o teatro que a mídia montou em torno do caso.

O governo de Bolsonaro tocou em temas que, há 5 anos, se alguém arrogasse a possibilidade de que elas fossem discutíveis, tal pessoa seria chamada de lunática e desvairada. A Reforma da previdência, por exemplo, é verdadeiramente uma reforma liberal — não tão liberal como vários liberais sonhavam em suas utopias de bar em Chicago, mas no mundo real é uma proposta equilibrada e arrojada. O pacote de Moro contra a corrupção, crime organizado e os chamados “crimes violentos”, é o mais punitivo e ousado dos últimos 30 anos, no mínimo. A flexibilização da posse de armas foi um ganho basilar para o indivíduo — ainda muito rígida, mas bem melhor que a regra anterior —, uma pauta que, há 4 anos, tiraria gargalhadas de qualquer comentarista numa discussão política na Globo News.

Bolsonaro já figura no hall dos Presidentes mais ousados em questões de inovações políticas e contrapontos sociais; como bem apontam Antonio Paim e Alex Catharino, o último governo com intuito liberal em seu bojo foi o segundo reinado de Dom Pedro II. Bolsonaro está sendo inovador em seu sentido mais clássico de inovação, o inovador prudente; ou seja, Bolsonaro é um liberal tacanho, mas um liberal tacanho, num país cujo o governo anterior foi do PT, se torna alguém louvável.

Sendo assim, não há crise governamental, há um desarranjo que já foi consertado; para a alegria dos governistas e para a tristeza dos sabotadores. Para o bem, ou para o mal, o governo Bolsonaro está vivo e vigoroso em suas pautas; no entanto, deve-se ficar alerta pois seria perfeitamente normal que tais sintomas de desarranjos sejam um prenúncio de uma gripe muito maior.

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