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Qual o real problema da educação no Brasil?

Texto de André Assi em co-autoria de Dwayne Palmeira

Como ponto nevrálgico deste artigo, abordaremos algumas metas do Plano Nacional de Educação (PNE), suas incumbências, contextualizações, indicadores e desafios em se tratando do cenário nacional.

O PNE, dentre suas vinte metas, traz algumas como: universalizar a Educação Básica (Metas: 1, 2, 3, 4, 5), ampliar a massa de ingressos na educação superior (12, 14), elevar o tempo dentro da escola (6) e até mesmo aumentar os subsídios estatais à educação em proporção ao PIB (20). Focaremos, pois, nesta última, a princípio, devido a nos tornar mais fácil desenovelar as demais e o que se entende pelos problemas da Educação Nacional, afinal, a primeira coisa que precisa ser feito para se ter uma esperança de resolver o problema é saber sua dimensão.

A educação nacional é inexistente, o que temos é uma deseducação nacional. Sabemos que o leitor bem-intencionado e esperançoso se chocará com essa frase e a intenção é essa mesma, para com isso atrair a atenção para um fato subjacente imperceptível a muitos. O apogeu desse fracasso nacional se deu quando nosso Ex.mo ministro da Educação Paulo Renato Souza exclamou: “Poderia ter sido pior!”. Após o país tirar o último — isso mesmo! O último — lugar no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA)[1]. Como poderia ser pior? Ficando atrás do último? O Brasil, em 32º, conseguiu se [des]qualificar abaixo de países como Letônia, México, etc. O ministro poderia ter parado aí, mas como dizem abençoada a desgraça que vem só, eis que ele solta: “não é que o ensino seja ruim, é que há muita repetência”[2]. Para resumir essa ideia ao leitor incauto, ele crê que seja possível para um aluno que teve a aprovação escolar anual facilitada resolver retroativamente uma deficiência educacional. Digo, pois, que ao contrário, a ausência de um determinado preceito formativo básico gerará uma bola de neve que marcará para sempre esse estudante e, que, o ministro está preocupado apenas com estatísticas[3].

Isso aconteceu em 2000 e o gasto com educação naquele ano foi 4,4% do PIB[4]. Atualmente o gasto é de 6%[5], o que em números representa um avanço de 52,7 bi para 393,4 bi em 2017[6]. Com isso, o gasto por aluno elevou-se de R$2.587,00 para R$7.273,00[7]. Mas antes de planejarmos investir ainda mais, como nos sugere a meta 20 do PNE, é mister avaliar o desempenho atingido até aqui. A prova do PISA, que é realizada trienalmente, teve sua última edição em 2015 e dentre 70 países o Brasil ficou na sexagésima terceira colocação. Se levarmos em conta que o país não é mais o último — poderia ser pior! —, é um avanço; entretanto caímos 31 posições e conseguimos ficar atrás de Qatar, Indonésia, Jordânia, etc.[8]

Em verdade, segundo pesquisa, nosso país é o terceiro maior financiador da educação. Apenas México e Nova Zelândia apresentaram um maior investimento do que o Brasil entre os 38 países analisados nesta categoria[9]. Agora, se os recursos são bem aplicados ou mesmo se são usurpados no caminho e acabam não chegando onde deveriam é outro assunto.

Quais são, então, os fatores que fazem com que o nosso país possua índices tão baixos em relação a outros países quando se trata de educação? Por que, apesar de investimento, continuamos a formar péssimos profissionais? Por que cada vez mais buscamos soluções no mercado externo em vez de exportar nossas alternativas?

É recorrente lugar-comum no país a mentalidade “dinheirista”, aonde se pensa que resolveremos todos os nossos problemas num futuro sem data afixada. Quando tivermos muito dinheiro para resolvê-los. Pois, novamente, discordamos que os problemas da educação possam ser resolvidos apenas aumentando o investimento, como a proposta de aumento da Meta 20 do PNE para 7% do PIB e até 10% ao final do decênio de vigoramento da lei — bem mais que os 5% dos EUA e outros países. Não pretendemos com esse artigo encenar o papel de sovinos, ainda mais se tratando de educação, em verdade vos dizemos que gostaríamos que se pudesse gastar bem mais, mas de maneira correta. Utilizando-nos de uma analogia tecnológica, consideramos que o problema da educação brasileira não é no Hardware, mas em seu Software. Citamos como breve exemplo Sobral-CE e a Indonésia. O Município de Sobral é o que menos gasta por aluno, em todo país, com educação e, contudo, apresenta os melhores resultados[10]. E a Indonésia que investe quase três vezes menos que o Brasil, por aluno, mas possui desempenho superior[11]. Reitero com esses exemplos que poderemos destinar o PIB inteiro e não resolveremos nosso problema com a Educação se não mudarmos antes os métodos — ou software — e, principalmente, a cultura.

Esse estado de coisas que aqui descrevemos culminou como ápice com o advento da constituição de 1988 (CF-88), quando esta define Cultura como aquilo que dá testemunho do modo de ser de um povo[11]. Aquilo que dá testemunho do modo de ser de um povo pode ser, por exemplo, um noticiário policial diário. Afinal, não há como se negar que o narcotráfico ou a corrupção sejam uma expressão do modo de ser nacional presente. Esse mesmo artigo da constituição expressa uma espécie de aversão à ideia qualitativa de cultura, provavelmente pela influência relativista de seus fundadores socialistas e social-democratas. Acontece que, cultura não pode — por definição — ser aquilo que dá testemunho do modo de ser de um povo, mas daquilo que se cultiva ou que se cultua, visando, portanto, a elevação do estado de coisas presente. Ora, um modo de ser ou de existência é simplesmente um dado empírico da realidade e não um valor a ser alcançado — aquilo que Platão definia como o Sumo Bem.

Exemplo do caos que se instaurou com esse conceito é que todos os anos saem centenas de teses de doutoramento baseados em sambistas, proxenetas, amantes de políticos, personagens de novela, séries ou filmes, youtubers etc.; enquanto que, entre os anos 30 e 60 tivemos um dos maiores filósofos da humanidade, Mário Ferreira dos Santos, e nunca ninguém prestou atenção nas suas obras e até hoje a maioria sequer ouviu falar nele. Ou seja, boa parte da nossa atividade intelectual é dedicada ao cultivo daquilo que há de pior ou de mais insignificante. Se a cultura tem algo a ver com a orientação da vida (o Sumo Bem como télos da vida humana), ela certamente tem a ver com a sanidade da inteligência. Ora, suponhamos que temos um sujeito com dois problemas: 1) ele está sem emprego, sem dinheiro; e 2) ele está louco. Conforme nossa orientação “dinheirista”, o correto é primeiro o sujeito arranjar um emprego, resolver todos os seus problemas com o dinheiro e, após um sucesso danado, fazer um tratamento psiquiátrico.

Toda nossa orientação cultural-histórica é essa e, inclusive, endossada pelo professor-doutor Paulo Arantes no livro Um Departamento Francês de Ultramar onde ele constata que a USP nunca ter produzido um único filósofo em seus 50 anos (na época) de história se deve ao fato que só atingiremos tal grau de intelectualidade após um sem precedente surto de desenvolvimento econômico[14].

Eis que dessa mentalidade presente há mais de 100 anos na alma de cada brasileiro surge a eleição — muito simbólica — de Luiz Inácio Lula da Silva. Sua publicidade eleitoral inteira girou na imagem condensada que o sujeito era pobre e, por isso, inculto. Discordamos veementemente, afinal, a maior parte da nossa cultura foi formada por sujeitos paupérrimos. Citamos brevemente: Machado de Assis, Capistrano de Abreu, Lima Barreto etc. Se tão-somente dinheiro produzisse cultura, não haveria nenhuma cultura Escolástica na Inglaterra e Irlanda do século X, não haveria o idealismo alemão e, sequer haveria Platão, Sócrates ou Aristóteles.

Outro grave problema é o grau de analfabetismo funcional na educação. O Brasil tem aproximadamente oito milhões de estudantes universitários. Desses, segundo estudo, pelo menos 50% são analfabetos funcionais[15]. Quatro milhões. Ou seja, nós estamos diplomando e autorizando a exercer profissões — por vezes complexíssimas — pelo menos quatro milhões de analfabetos funcionais. Como um analfabeto funcional consegue adentrar uma faculdade veremos a seguir, mas a constatação da pesquisa mostra o rumo escolhido para a formação universitária dos jovens do país: a inclusão a qualquer preço. O importante, dentro da lógica deste sistema, é assegurar a ascensão social, o dinheiro, pois ensino também é negócio.

Essas pessoas estão cuidando da saúde de outras como médicos ou enfermeiros, garantindo o direito à justiça de terceiros como advogados, construindo casas, prédios e maquinários como engenheiros e ainda podemos incluir nas contas “especialistas” em ciências sociais dando palpites sobre grandes questões da moral — como aborto, legalização de drogas, dentre outros —, segurança pública, e até mesmo educação.

Pelo menos quarenta milhões de analfabetos funcionais no mercado de trabalho nos últimos dez anos e o povo brasileiro está financiando tudo isso. E ainda, como contar para essas pessoas que elas foram completamente enganadas, vítimas de larápios intelectuais da pior espécie? Que o diploma que possuem não atesta sua educação superior, mas sua inépcia em nível superior? O que produziu essa calamidade foi, sobretudo, a mentalidade criminosa que a educação é um benefício que o Estado fornece ao indivíduo, um “direito de todos”. Essa concepção de educação como um direito semeia na cabeça de nossos estudantes a crença que estão recebendo sua educação e, principalmente, seu diploma, secundário ou superior, para seu próprio benefício e não para que ele preste algum serviço à sociedade. Logo, você tem direito a um canal de ascensão social e esse canal é o diploma (o famigerado “filho, você tem que estudar pra ser alguém na vida”). Então o sujeito sai com seu certificado e exerce um serviço medíocre, porque afinal é o seu direito. Note que a graduação passa a ser formal e não real. É exatamente esse tipo de cultura que exerce desde cedo na mentalidade dos jovens o culto às notas e não ao conteúdo, o estudo prévio ao exame e não o estudo contínuo, o interesse pela presença, pois na nova estrutura educacional é quase que certo que a reprovação só virá por meio do absenteísmo. Então o aluno vai estudar não porque ele queira aprender alguma coisa, mas porque ele é obrigado a isto, se não o seu acesso ao emprego será bloqueado. Não que a escola vá lhe dar a autorização para isso, mas certamente a tomará se ele não a frequentar. Nesse sentido, a escola não é um benefício, mas a ameaça de um malefício. Isso decorre:

Em geral [quando] os países europeus adotaram um sistema escolar obrigatório por volta de 1900. Acreditava-se que isso ajudaria a acabar com a delinquência, mas o que se viu foi o contrário. Álvaro Vargas Llosa ressalta que, estatisticamente, o aumento da criminalidade não acompanha o aumento da ignorância, mas sim a multiplicação do número de escolas. Os regimes totalitários do século XX deram grande importância à escolarização obrigatória, baseados na ideia de que as crianças pertencem ao Estado e não aos pais. (ZAMBONI, Fausto. Contra a Escola, p. 50)[16].

Como poderia a educação ser um direito se o sujeito ativo da educação é o estudante, não o professor? O professor faz a ocasião, mas quem tem que, de fato, estudar é o aluno. Uma coisa que o sujeito tenha de ele próprio fazer para si não pode ser um direito de maneira alguma. Como bem definiu Simone Veil, o direito é a obrigação de um terceiro[17]. Logo, a palavra “direito” é uma metonímia e sua substância é a obrigação que se cria para um terceiro. Se o aluno não cumpre a sua obrigação de estudar então onde se situa a sua educação? Evidente que não nas mãos do professor, muito menos do Estado. Podemos dizer que este último pode abrir o caminho, mas no fim se quem terá de percorrê-lo não o fizer como o Estado garantirá seu “direito”? É óbvio que a educação é um privilégio e deve ser conquistada.

Isso nos leva a outra questão central da cultura brasileira e que envolverá as demais metas citadas no início deste artigo: as ideologias políticas. Bruno Garschagen, cientista político, em seu novo livro Direitos Máximos, Deveres Mínimos: O festival de privilégios que assola o país trata desse culto infame aos direitos na sociedade brasileira e rastreará a origem do problema até a Revolução Francesa, onde se começará a instrumentalizar esse direito intangível como forma de populismo[18]. Ainda nessa época, Jean Jacques Rousseau trata da educação como modo de controle comportamental e propõe um novo modelo educacional completamente alheio às instituições sociais. O que se seguiu desse raciocínio, nos séculos seguintes foi o exato aparelhamento da educação como forma de controle comportamental[19].

Acerca disso:

“Por que a escola não educa e condena tantas vidas ao desperdício e à esterilidade? A educação (ex-ducere, conduzir para fora) deixou de ser uma abertura à razão e ao espírito, convertendo-se em engenharia social, em manipulação dos instintos baixos para a realização da vontade de poder.

O homem, não mais educado naquilo que tem de essencialmente humano, passou a ser instrumentalizado em vista de algum interesse econômico ou social. Em consequência, desumanizou-se, transformando-se no imbecil que, com base em concepções erradas acerca da natureza humana, cria políticas desumanas. Nessa situação de doença linguística e espiritual, perdeu a experiência de amplas faixas da realidade ligadas à razão e ao espírito, assim como a capacidade de compreendê-las e expressá-las.

De nada nos serve essa louca pretensão de alterar a natureza humana e remodelar o mundo. Cabe a nós, então, fazer o inventário dos nossos descaminhos, e retomar a estrada mestra abandonada”. (ZAMBONI, Contra a Escola)[20].

E Zamboni acrescenta:

“A universalização do ensino, instrumento imprescindível para reformar a humanidade, não trouxe os benefícios esperados. Trotsky acreditava que ela transformaria cada operário em um novo Goethe ou num novo Michelângelo, mas o que se vê, paradoxalmente, é um fenômeno inverso: o surgimento cada vez menor de novos gênios da ciência, da filosofia e da arte. Como é possível que estes não tenham aumentado proporcionalmente ao número de pessoas alfabetizadas?” (Zamboni, Contra a Escola)[21].

Ora, expandir — ou como é usado, “universalizar” — essa maquete que no Brasil se chama de educação é uniformizar as mentes, reduzir o horizonte de consciência e, como constatado, reproduzir analfabetos funcionais em escala industrial. Como fator genitor disso, teremos:

A partir dos anos 80, [à medida que] a elite esquerdista tomou posse da educação pública, nela introduzindo o sistema de alfabetização “socioconstrutivista”, concebido por pedagogos esquerdistas como Emilia Ferrero, Lev Vigotsky e Paulo Freire para implantar na mente infantil as estruturas cognitivas aptas a preparar o desenvolvimento mais ou menos espontâneo de uma cosmovisão socialista, praticamente sem necessidade de “doutrinação” explícita. Do ponto de vista do aprendizado, do rendimento escolar dos alunos, e, sobretudo da alfabetização, os resultados foram catastróficos.

Todo idioma compõe-se de uma parte mais ou menos fechada, estável e mecânica – o alfabeto, a ortografia, a lista de fonemas e suas combinações, as regras básicas da morfologia e da sintaxe — e de uma parte aberta, movente e fluida: o universo inteiro dos significados, dos valores, das nuances e das intenções de discurso. A primeira aprende-se eminentemente por memorização e exercícios repetitivos. A segunda, pelo auto enriquecimento intelectual permanente, pelo acesso aos bens de alta cultura, pelo uso da inteligência comparativa, crítica e analítica e, last not least, pelo exercício das habilidades pessoais de comunicação e expressão. Sem o domínio adequado da primeira parte, é impossível orientar-se na segunda. Seria como saltar e dançar antes de ter aprendido a andar.

O socioconstrutivismo mistura a alfabetização com a aquisição de conteúdos, com a socialização e até com o exercício da reflexão crítica, tornando o processo enormemente complicado e, no caminho, negligenciando a aquisição das habilidades fonético-silábicas elementares sem as quais ninguém pode chegar a um domínio suficiente da linguagem.

O produto dessa monstruosidade pedagógica são estudantes que chegam ao mestrado e ao doutorado sem conhecimentos mínimos de ortografia e com uma reduzida capacidade de articular experiência e linguagem. Na universidade aprendem a macaquear o jargão de uma ou várias especialidades acadêmicas que, na falta de um domínio razoável da língua geral e literária, compreendem de maneira coisificada, quase fetichista, permanecendo quase sempre insensíveis às nuances de sentido e incapazes de apreender, na prática, a diferença entre um conceito e uma figura de linguagem. Em geral não têm sequer o senso da “forma”, seja no que leem, seja no que escrevem. (CARVALHO, Olavo de. In: “O Novo Imbecil Coletivo”)[22].

O fracasso retumbante das nossas crianças no aprendizado da leitura e da escrita não resulta de nenhum equívoco acidental ou anomalia administrativa, mas da escravização sistemática da pedagogia nacional aos cânones do marxismo. Socioconstrutivismo é marxismo. Luria, Vigotsky, Freinet, Emilia Ferreiro — os gurus máximos da educação brasileira — são todos devotos comunistas empenhados em produzir uma psicologia e uma pedagogia fiéis aos cânones do materialismo dialético. Não têm como alvo a inteligência das crianças, mas a utilização delas como “agentes de transformação social”.

No método socioconstrutivista há dois elementos importantes: o primeiro é o aluno (sujeito) e o segundo é o mundo (objeto). Resumidamente, segundo esse método, o professor não deve dar as regras prontas para seu aluno, e sim deixá-lo diante do objeto (mundo), para que ele mesmo possa espontaneamente desenvolver suas capacidades cognitivas. No construtivismo é imperativo deixar o aluno livre mediante o objeto — o ensino não pode de maneira alguma ser diretivo. Então se espera que o aluno ao transitar solto em um objeto chamado “linguagem”, onde ele simplesmente ouve as pessoas falarem e mentaliza formas escritas sem antes saber ler, e então, a partir disso, ele mesmo montará por abstração as regras da gramática e no fim crê-se que ele produzirá “A Gramática Metódica da Língua Portuguesa” de Napoleão Mendes de Almeida. É uma utopia no fim das contas. Posto nesses termos, o fracasso da empreitada é mais que óbvio; no entanto muito poucos intelectuais acadêmicos foram capazes de perceber.

A ideia de que o conhecimento é construído é uma ideia eminentemente kantiana no fim das contas. A razão operando livremente constrói suas estruturas e essas estruturas constituem a totalidade do conhecimento. Em suma, não existe um universo objetivo a ser conhecido, mas uma livre auto-estruturação da razão. Começa em Kant e termina em Piaget. Conclui-se que a cultura deve ser construída pelo próprio agente do aprendizado: o aluno. Não há como transmitir o conteúdo, pois o aprendiz o construirá sozinho. Resumidamente, é como se a cada geração tivéssemos de reinventar a roda, o que por si é um desperdício sem tamanho de tempo e neurônios — sem falar em verbas públicas.

De fato, além da inépcia que esse método produz — e que hoje é evidente pelos erros crassos de português em qualquer artigo de jornal, redação universitária ou mesmo teses de conclusão de curso — é um tanto evidente que o mesmo também estimula a impulsividade. Não sabendo a regra predominante em determinada matéria o aluno apostará diversas vezes até acertar. O efeito psicológico óbvio é uma formação de uma identidade leviana, impetuosa e até mesmo violenta. Exatamente o que vemos nos jovens dessa geração. Em suma, é uma forma de acrescentar a Práxis Revolucionária de Marx à Pedagogia.

Como ensinava o professor Pierluigi Piazzi, as primeiras informações que você recebe formam uma espécie de marca ou imprint para ser mais preciso. Essas marcas se gravam na memória e lá ficarão para sempre. Se o aluno escreve casa com “z” e o professor corrige, aquilo cria um imprint na memória e aquele aluno escreverá de maneira correta o resto da vida. Agora se o professor não corrige, o aluno terá que ele próprio se corrigir ulteriormente com uma diferença: o aprendizado posterior, após muita repetição e erro será mais superficial que o do imprint inicial[23].

Até algum tempo, o aluno sentia vergonha de pronunciar ou escrever uma palavra errada. Quando isso acontecia, logo em seguida ele se desculpava pelo erro (afinal, errar faz parte da natureza humana) e era corrigido por seus colegas ou professores. Ainda existem pessoas que fazem isso, mas atualmente está se tornando cada vez mais frequente e crescente o número de alunos que sentem orgulho quando escrevem ou falam alguma palavra errada, ou que ignoram um conselho sincero de correção. O que antigamente era motivo de vergonha, hoje foi transformado em virtude e motivo de orgulho. E pior ainda: há muitos professores e educadores que concordam com isso.

Isso produz uma mudança acelerada na língua. Tese defendida pelo linguista Marcos Bagno aonde usar uma mesma gramática para todos no país é algo “anti-democrático”[24], e que o correto é o sujeito gramaticalizar a fala que ele aprendeu na sua cidade, no seu bairro ou na sua rua. Assim, o Brasil terá uma diversidade de gramáticas: a gramática do Fulano, a gramática do Sicrano, a gramática do Beltrano e assim por diante. Bagno provavelmente foi educado no método socioconstrutivista, pois pensa tudo ao contrário, afinal, aquilo que é democrático é aquilo que é igual para todos, dessa forma a gramática só será democrática se ela for a mesma para negros e brancos, pobres e ricos, gays e héteros e assim por diante. Depois que Bagno convenceu outras pessoas tão imbecis quanto ele que a mudança acelerada da língua é um progresso, seu charlatanismo foi oficializado pelo Ministério da Educação, que distribuiu livros dizendo que não há problema em falar “nóis vai” e coisas do tipo. Afinal, é inútil saber a regência verbal, singular e plural, conjugação, colocação de pronome, etc. Em tempos que cada vez se chama mais o “marxismo cultural” de teoria da conspiração, que é a ideia que falar corretamente é coisa da “burguesia” e falar “erradinho” é coisa do proletariado e, portanto, preferir a norma culta em detrimento da “comunicação possível” é signo de adesão à “ideologia dominante”, numa clara aplicação da dicotomia econômica proletário oprimido-burguês opressor na linguística, portanto, uma extensão do marxismo econômico para um campo da cultura? O mesmo vale para professor-opressor-com-seu-saber-privilegiado versus aluno-oprimido-burrinho-com-seu-saber-diferente.

A mudança acelerada da língua que se seguirá disso torna ilegível tudo que foi publicado antes da mudança. Os reflexos disso já começaram a aparecer: há muitos alunos que não consegue ler e compreender livros clássicos da nossa literatura que foram publicados nos séculos anteriores, tornando nossa atual cultura cada vez mais pobre e burra. A preservação da língua permite que o legado cultural das gerações passadas continue sendo acessível e transmissível às novas gerações – daí que Hannah Arendt considerasse que a educação necessariamente é conservadora. A cada novo acordo ortográfico ou qualquer outra mudança linguística que ocorra no país, perderemos, aos poucos, mais informações — e cultura.

Em decorrência dessa distribuição democrática da imbecilização, teremos que:

A expansão da escola gera a demanda por professores sem vocação. São contratados, em larga escala, docentes jovens, sem experiência, nem cultura literária nem domínio das disciplinas. O resultado é uma aberração que intelectuais de outras épocas não poderiam sequer compreender. Como pode o ensino, hoje, ter-se desviado tanto da direção traçada na aurora do Ocidente? (ZAMBONI. Contra a Escola)[25].

E também:

Fornecer mão-de-obra para a burocracia estatal e a indústria em expansão, distribuir às classes afluentes os novos emblemas convencionais da ascensão social, forjar e impor novos padrões de conduta adequados aos valores políticos do momento, adestrar massas de eleitores e militantes — são alguns dos novos objetivos a que a educação teve de se adaptar. Mais recentemente, as escolas tornaram-se uma rede auxiliar de distribuição de comida e assistência médica e um mercado privilegiado para o comércio de drogas. (ZAMBONI. Contra a Escola)[26].

A democratização do ensino é a fraude constitutiva do mundo moderno. Ela prometia distribuir a um número cada vez maior de pessoas as criações mais elevadas do espírito humano, mas está provado que ela não faz nada disso e sim exatamente o contrário. Passou a atender necessidades novas e completamente diversas, que terminaram por abolir suas finalidades próprias. Mas como de costume no Brasil, a quantidade antes de tudo, a qualidade só num futuro hipotético sempre adiado. Primeiro é preciso distribuir a todos; só depois — ou nunca — perguntar o que, afinal, se distribuiu (primeiro o sujeito se forma, adquire um diploma, trabalha ganha dinheiro, se aposenta, depois – talvez – goze de algum ócio que o permita adquirir alguma cultura elevada). Assim torna-se fácil ser um benfeitor dos pobres: basta democratizar a ignorância e em seguida estampar uma estatística impressionante em cartazes de propaganda eleitoral.

Em resumidas contas, com esse sistema de ensino, se nossos professores participassem de testes internacionais com outros professores, certamente tirariam os últimos lugares e igualmente nossos passados ministros da Educação e Cultura. Não é de todo surpreendente que após várias décadas de imbecilização em massa, o pedagogo marxista Paulo Freire seja coroado post mortem como patrono da educação brasileira. Ninguém melhor que ele para representar o espírito da educação petista[27], que deu aos nossos estudantes os últimos lugares nos testes internacionais.

Sobre o pedagogo petista, temos um dossiê[28] de educadores internacionais que utilizaram de seus métodos por anos a fio e constaram que a pedagogia do oprimido não passava, no fim das contas, de uma opressão da pedagogia:

“Algumas pessoas que trabalharam com Freire estão começando a compreender que os métodos dele tornam possível ser crítico a respeito de tudo, menos desses métodos mesmos.” (Bruce O. Boston, “Paulo Freire”, em Stanley Grabowski, ed., Paulo Freire, Syracuse University Publications in Continuing Education, 1972.)

E:

“Ele deixa questões básicas sem resposta. Não poderia a ‘conscientização’ ser um outro modo de anestesiar e manipular as massas? Que novos controles sociais, fora os simples verbalismos, serão usados para implementar sua política social? Como Freire concilia a sua ideologia humanista e libertadora com a conclusão lógica da sua pedagogia, a violência da mudança revolucionária?” (David M. Fetterman, “Review of The Politics of Education”, American Anthropologist, Março 1986.)

Agora que temos em vista o tamanho do problema que a nós assola, podemos começar a conjecturar meios de anulá-lo. Muito nos agrada a ideia de descentralizar a educação. Tirá-la das garras do Estado. A educação é um dever da família, e sempre foi, por isso, o homeschooling não deve ser proibido e sequer seu conteúdo regulado, no máximo pode-se oferecer um parâmetro. Mas e quanto a famílias sem condições mínimas de reproduzir o ensino à prole? Nesse caso, pode-se ofertar uma educação pública, mas sem o monopólio federal, sem a estrutura piramidal atual. Tomamos como exemplo os EUA, que possuíam a melhor educação do mundo até recentemente, quando em 1979, o presidente Jimmy Carter transformou em lei a criação do Department of Education Act, uma espécie de Ministério da Educação[29]. O que se viu nas décadas seguintes foi uma redução das capacidades cognitivas dos jovens americanos a ponto de saírem da vanguarda intelectual mundial e figurarem em posições medíocres. Obama lutou bravamente pela instauração de um “Commom Core”, espécie de Base Nacional Comum Curricular americana. Charlotte Iserbyt, que trabalhou no Department of Education àquela época conta o modus operandi desse emburrecimento maciço em Deliberate Dumbing Down Of America[30]. Hoje, há um grande debate acerca do problema na sociedade americana[31], há até estudos que corroboram a tese do emburrecimento, apontando o ambiente como culpado, o que envolve fatores como a nutrição, mudanças no sistema educacional, menos leitura, mais tempo online, etc[32].

Em vista disso, em 7 de fevereiro de 2017, o deputado Thomas Massie apresentou o HR 899, um projeto de lei para abolir o departamento. O projeto de Massie, que tem uma frase a respeito da duração do órgão, declara: “O Departamento de Educação terminará em 31 de dezembro de 2018”[33].

Os americanos têm o senso de sua História e conhecem que a educação sempre foi papel da comunidade. Governos de cidades e vilas são os mais aptos a administrar escolas porque estão familiarizados com as necessidades específicas de sua comunidade. Toda cidade nos Estados Unidos é diferente, e o governo federal é incapaz de entender os estudantes em cada uma dessas cidades. Em contraste, os governos locais conhecem os estudantes individuais em suas escolas e podem elaborar currículos adaptados à sua comunidade. Isso criaria padrões de proficiência que são menos arbitrários. Disso decorre a existência de várias educações, algumas boas e outras ruins. Mas as ruins sempre poderão olhar para as boas e corrigir aquilo que estão errando. Da mesma forma as boas poderão ainda aprender com as melhores. Enquanto que a sistematização do ensino, como vemos hoje, é a tirania da mediocridade.

Acerca disso, John Taylor Gatto, um dos maiores educadores americanos de nossa geração, em seu livro Dumbing Us Down declara:

“Pegue um livro de matemática ou retórica da quinta série em 1850 e você verá que os textos foram escritos sobre o que hoje seria considerado nível universitário. O clamor contínuo pela prática de ‘habilidades básicas’ é uma cortina de fumaça atrás da qual as escolas preemptam o tempo das crianças por doze anos […]”[34].

Entraremos agora na parte final desse estudo, onde apresentaremos o modelo educacional canadense. Uma das formas de salvar nossas futuras gerações desse emburrecimento maciço é retirar a educação das garras dos políticos. Já é perceptível que nosso sistema político tem problemas gravíssimos e não há nenhum motivo para confiarmos em nossos governantes. A educação também deveria fazer parte desse pacote. Não que isso signifique privatizações em massa e nem menos investimento público. Mas sim que o gerenciamento não deve ficar na mão dos políticos em si, legislando sobre uma região sobre a qual sequer conhecem.

Eis um trecho da reportagem sobre a qual embaso que devíamos seguir o modelo canadense:

O Canadá é um dos poucos países que estão entre os 15 melhores do PISA que é um país grande e diversificado, diferente de Cingapura, por exemplo. Apesar de haver grande investimento estatal, só 5% das escolas são privadas, o gerenciamento das escolas é provincial e distrital por pessoas eleitas. Inclusive, cada área tem uma liberdade imensa para aplicar seus conceitos, como escolas religiosas ou não, língua oficial (francês ou inglês), até o tempo que os alunos irão se formar. Isso foi essencial para conseguir atender tantos segmentos de fé, nacionalidades e ideologias. O Governo Federal apenas ajuda com financiamento, imigração e treinamento.

A descentralização também deveria ser a linha do Brasil, pois temos necessidades regionais muito distintas: É evidente que alunos de SP enfrentam problemas menores e diferentes que alunos do interior do Nordeste. Assim como eleger, ou poder vetar, parte do corpo pedagógico é democrático e ajudaria em questões como a polêmica “Escola Sem Partido”[35].

Disso pode se seguir o contra-argumento a respeito do modelo educacional centralizado chinês, o que seria motivo para outro artigo, afinal nada do que aqui foi exposto — como Socioconstrutivismo, pragmatismo, etc. — é adotado no sistema educacional chinês, que na verdade é baseado na memorização intensa, ou o famoso “decoreba”. Tudo que em terras ocidentais é veementemente desprezado.

O que podemos concluir é que quando se delega a educação — assim como outras áreas de interesse dos cidadãos — para um órgão superior, a família concluirá que o Estado já pensou em cada aspecto da formação de seus filhos e por isso nem se preocupará com o acompanhamento, apenas com o resultado final, o que óbvio, será tarde demais para reverter, quando constatado. E que mais vale nenhuma educação do que uma educação ruim, afinal, a educação que um sujeito não recebe não tem o dom de imbecilizá-lo.

Quanto a isso, relatos de experiência própria que, embora alfabetizado na década de 90, tivemos a sorte de sermos alfabetizados em casa, pelo método silabo-fonético aos quatro anos de idade aproximadamente e, quando tivemos de cumprir a alfabetização escolar obrigatória, no ano seguinte, aquilo nos serviu apenas de exercício de caligrafia basicamente.

Por fim, propomos um slogan substitutivo para incentivar as próximas gerações de país e educadores: “Educação direito de todos?” Não. “Educação dever de todos!”.

Referências:

[1] https://www.oecd.org/portugal/33685403.pdf [2] https://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u7332.shtml [3] http://www.andsol.org/wyspa/pisa2000.html [4] V. p. 6 (http://inep.gov.br/documents/186968/484184/Gastos+com+educação+sumário+executivo+2003/6a5972a2-6627-4df6-aa22-39e16c165985?version=1.2) [5] https://www.valor.com.br/brasil/5666767/brasil-gasta-mais-que-ocde-com-educacao [6] https://pt.wikipedia.org/wiki/Produto_interno_bruto_do_Brasil [7] http://www.observatoriodopne.org.br/metas-pne/20-financiamento/indicadores [8] http://www.oecd.org/pisa/pisa-2015-results-in-focus.pdf [9] http://www.brasil.gov.br/noticias/educacao-e-ciencia/2015/11/brasil-e-pais-que-mais-investe-em-educacao-diz-ocde [10] http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2018-07/brasil-gasta-6-do-pib-em-educacao-mas-desempenho-escolar-e-ruim [11] https://www.bbc.com/portuguese/brasil-41236052 [12] Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira […] [13] https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/brasil-gasta-16-do-orcamento-com-educacao—mais-do-que-a-noruega-851b9v5o4av1rrmhe1ktietpc/ [14] https://www.livrariaunesp.com.br/produto/25545/um+departamento+frances+de+ultramar [15] http://g1.globo.com/distrito-federal/videos/v/pesquisador-conclui-que-mais-de-50-dos-universitarios-sao-analfabetos-funcionais/2262537/ [16] V. p. 50 (Zamboni, 2016. Vide Editorial) [17] V. (Veil, 2001. O Enraizamento. EDUSC) [18] V. (Garschagen, 2018. Record) [19] V. (Pascal Bernardin, Maquiavel Pedagogo. Vide Editorial) onde temos o relato muito bem documentado do evento citado. [20] V. (Zamboni, 2016. Vide Editorial) [21] Ibidem, p. 39 [22] Disponível gratuitamente em http://www.olavodecarvalho.org/o-novo-imbecil-coletivo/ [23] V. Palestra disponível em http://www.neuroaprendizagem.com/index.php/especiais/professor-pierluigi-piazzi/imprinting [24] V. (BAGNO, 2002. Preconceito linguístico. Editora Loyola) [25] V. p. 20 (Zamboni, 2016. Contra a Escola) [26] Ibidem, p. 39-40 [27] Com educação petista, refiro-me não somente à educação oficial do governo luladilmista, mas sim aos métodos educacionais de seus intelectuais militantes constatado e documentado em livros como (Carvalho, 1996. O Imbecil Coletivo, É Realizações) e (Gordon, Flávio, 2017. A Corrupção Da Inteligência, Vide Editorial). [28] http://www.bmartin.cc/dissent/documents/Facundo/Ohliger1.html#I [29] https://www.govinfo.gov/content/pkg/STATUTE-93/pdf/STATUTE-93-Pg668.pdf [30] Tradução indisponível. V. (Iserbyt. Conscience Press; Revised edition) [31] V. artigo https://www.wnd.com/2017/08/government-schools-intentionally-making-children-dumber/ [32] https://www.usnews.com/news/national-news/articles/2018-06-14/study-people-are-getting-dumber [33] https://www.congress.gov/bill/115th-congress/house-bill/899 [34] Tradução indisponível. V. p. 12 (Gatto, 2005. NEW SOCIETY PUBLISHERS) [35] https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/por-que-o-canada-tem-um-dos-melhores-modelos-educacionais-do-mundo-845czc9ts4ljbk1r8exyelhkz/

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André Assi Barreto

André Assi Barreto

Bacharel, licenciado e mestre em filosofia pela Universidade de São Paulo. Licenciado em História. Professor de Filosofia e História das redes pública e privada da cidade de São Paulo. Pesquisador da área de Filosofia (Filosofia Moderna - Dercartes, Hume e Kant - e Filosofia Contemporânea - Eric Voegelin e Hannah Arendt) e aluno do professor Olavo de Carvalho. Trabalha, ainda, com a revisão de textos, assessoria editorial, tradução e palestras. Coautor de “Saul Alinsky e a anatomia do mal” (ed. Armada, 2018).

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