Foto: Alicia Ibañes/Especial FS

A direita chegará às reitorias das universidades federais? – Entrevista com Rosana Soibelmann

Sabemos que as Universidades Federais foram as instituições mais aparelhadas pelos governos de esquerda, mas assim como a direita conseguiu chegar ao poder no executivo, e você leitor fez parte desta conquista, te convido a participar de mais uma batalha: a chegada da direita às reitorias.

Teremos uma série de reportagens com as chapas de direita e assim que os processos forem sendo concluídos, eleitos ou não, eu contarei tudo para vocês aqui neste portal. Vou deixar meu perfil pessoal e de cada um dos candidatos entrevistados, para que acompanhem todo o processo que é restrito ao universo acadêmico.

Meu perfil no facebook:


 

Perfil da entrevistada:

Rosana Soibelmann Glock, 55 anos, natural de Porto Alegre, professora na Unipampa, Campus Uruguaiana, desde 2006.

Twitter: @RosanaSGlock

Currículo Lattes

 

– Prof. Rosana, por que você se candidatou à reitora da Universidade Federal do Pampa?

“Já fui membro da comissão permamente de sindicâncias e processos administrativos disciplinares (COPSPAD), até 2012. Até hoje me chamam para voltar para esta comissão. Acontece que há inúmeros processos instaurados por situações que são interpessoais, relacionais, comportamentais; estas situações poderiam ser prevenidas e, quando já há um conflito instalado, podem ser solucionadas com mediação. A instauração de um PAD (Processo Administrativo Disciplinar) deve acontecer somente quando se cumpre os requisitos legais; uma situação comportamental pode sim, dependendo qual seja, cumprir estes requisitos. Além do imenso desgaste entre os servidores, há também o custo: um PAD dos mais “baratos” custa pelo menos em torno de 70 mil reais, que saem do nosso orçamento e temos tantas outras necessidades para as quais estes 70 mil poderiam ser direcionados, quantas bolsas isso dá, por exemplo? Então vale questionar: será, então, um bom investimento institucional, agir preventivamente no âmbito correcional?

Ano passado comecei a estudar com vistas a implementar uma corregedoria seccional. Com a implementação da corregedoria, a COPSPAD pode ser revogada, e ser publicada portaria nomeando comissão, por demanda, quando necessário e esta corregedoria trabalha em conjunto com a comissão de ética, realizando ações educativas e preventivas.  Este deve ser o principal foco: educar, prevenir e mediar também; realizar ações de correição sim, quando necessárias, mas o foco deixa de ser a punição em si, e passa a ser a construção e manutenção do ambiente saudável, eficiente e íntegro.

Me aprofundando sobre gestão de riscos e governança, comecei a ler relatórios de gestão e Relatórios da Auditoria Interna (RAINTs) e acabei lendo e estudando todos os relatórios de anos anteriores (disponíveis no site da Unipampa), aí tive certeza: a mudança é urgente e necessária e há como mudar e a mudança é simples!
Um foco importante é pôr a “casa” em ordem. Um planejamento com este olhar ampliado e gestão de riscos são aspectos fundamentais!

Só no ano de 2018, o desperdício em contratos mal feitos e em ineficiência técnica nas compras públicas no Brasil chegou a 80 bilhões de Reais. No site de compras governamentais, o Ministério da Educação aparece em primeiro lugar em quantidade de compras. Não sou a favor de cortes, mas o contingenciamento é um alerta, é urgente haver mais eficiência de gestão. alerta este que não é de hoje, já vem de alguns anos… as universidades já passaram por contingenciamentos em 2017, 2016, 2015… parece que não aprendem a lição.

Em 2016 foi instalada uma frente parlamentar em defesa da Universidade, em 2019, outra frente parlamentar em defesa da Universidade… Em maio deste ano o diretor do meu campus começou a falar nas rádios locais e nas câmaras de vereadores dos municípios da região, alertando para a queda da qualidade das aulas com a falta de recursos… nas mídias, diretores de outros campi e até a reitoria insistem na mesma fala. E professores ficam repetidamente incitando acadêmicos a irem para as ruas, “lutarem pela educação”… “universidade pública sob ataque”, “defesa da autonomia”, “luta”… Estes velhos chavões que, se efetivamente resultassem em algo positivo, certamente não estaríamos vivenciando a circunstância que se apresenta agora!

Em meio a toda esta ladainha se repetindo mais uma vez, é publicado o edital para a consulta à reitoria e foi então que pensei: está na hora de uma voz diferente se manifestar, vamos quebrar este paradigma que já provou ser ineficaz. Estou satisfeita com as mudanças que o Governo Federal está fazendo em todas as áreas, acredito que é chegada a hora de verdadeiramente termos oportunidade de mudarmos também as universidades federais! Então, me candidatei”.

 

– Qual seu plano de gestão?

“Ao oferecer meu nome à comunidade acadêmica, como candidata à reitora da Universidade Federal do Pampa, assumo o compromisso de agir em coerência com o plano de gestão do Presidente da República, em coerência com as normativas do Ministério da Educação, especialmente da Secretaria de Educação Superior, em coerência com as normativas da Controladoria Geral da União e demais instâncias fiscalizadoras e norteadoras do Poder Executivo do Governo Federal, em coerência com as normativas internas vigentes e em cumprimento às deliberações do CONSUNI da Unipampa, para o efetivo exercício das funções que, sendo escolhida, serão de minha competência. Com humildade, responsabilidade, simplicidade, complexidade, aprendizado constante, tolerância e abertura, agirei à luz da bioética, incentivando a participação ativa da comunidade acadêmica com liberdade de expressão e tendo como foco: comunicação, criação, divulgação, inclusão, inovação, interação, internacionalização, mediação, produção, superação …ação.”

 

– E como você pretende executar seu plano?

“No final de 2018, assisti uma fala do Ministro da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União, em um evento no TRF4. Ele mencionou a dificuldade em relação às universidades e não foi a primeira vez. Sempre que estou em eventos sobre corregedoria, ética, transparência, gestão pública, normas… é recorrente ouvir: o maior problema está nas universidades. Sendo eu a escolhida para a Unipampa, quero quebrar este paradigma. Sendo as universidades, por definição, os centros de construção de conhecimento com o objetivo de transformar a realidade que se apresenta, precisamos deixar de ser um dos problemas e passarmos a ser parte das soluções.

Vamos fazer da Unipampa um exemplo de boas práticas”!

 

– Mas diante de tamanha resistência, como fará para sair do papel e passar para a ação?

“Uma de minhas intenções é revisar todas as portarias, boletins de serviço, deliberações… revisar todos os contratos em execução e todos os contratos em fase de planejamento. precisamos incluir gestores e fiscais para participarem em conjunto desta revisão e, quando for o caso, precisamos fazer repactuações. Precisamos também revisar todos os RAINTs e todos os relatórios de gestão. Efetivamente, precisamos agir e solucionar tudo que for preciso; o que não depreende orçamento, vamos colocar em ordem e, para o que necessita previsão orçamentária, faremos todas as negociações necessárias em buscas de nossos interesses institucionais, sempre com foco no interesse público para a Unipampa e a sociedade que nos abriga. Para o que não soubermos as soluções, vamos estudar até encontrá-las.
Vamos também buscar exemplos de boas práticas de outras universidades e usá-los como inspiração para a nossa transformação.

Pode ser que leve quatro anos, mas acredito que, com ação integrada, liderança motivadora, reconhecimento dos servidores e boa vontade de todos os envolvidos, em 12/18 meses é possível; será necessário estabelecer um plano de horário semanal para esta atividade em nossos setores administrativos, na UFMS, por exemplo, fizeram esta revisão em dois anos”.

– E depois dessa faxina necessária, o que esperar?

“Com ordem na casa, se pode ter “cara limpa” para negociar e conseguir efetivamente o que precisamos. O objetivo será trabalhar com produtividade máxima sim, mas com bem estar e reconhecimento. Internamente, vai precisar muita negociação com CONSUNI e externamente, precisaremos ajuda principalmente do TCU. As normativas da CGU (Controladoria Geral da União) são mais acessíveis para lidarmos. Já em relação ao TCU (Tribunal de Contas da União) sobre a mesma temática há leis, decretos, acórdãos e muitos regramentos diferentes a respeito da mesma matéria, assim, para as adequações necessárias, é fundamental haver disponibilidade para ir atrás dos esclarecimentos quando as dúvidas surgirem.

Lidar com a CGU é muito viável, as normativas são muito claras e, qualquer dúvida, eles estão à disposição; já o TCU é mais técnico, precisa ser bem especializado para conseguir acompanhar, por isso a auditoria interna precisará trabalhar em muita proximidade com os auditores do TCU. Quando fui à Brasília para o encontro de corregedorias, aproveitei para marcar hora e fiz uma visita técnica à CGU. Fui super bem recebida e eles se colocaram à nossa disposição para trabalharmos em conjunto, isso é muito bom! Já estive também na Coordenadoria regional da CGU em Porto Alegre, à disposição para resolvermos dúvidas que surgirem.

Assim como precisamos mudar internamente, também há necessidade de aperfeiçoamento nos órgãos centrais de controle. Na CGU isso me parece bem mais próximo de acontecer a curto/médio prazo e mudanças já iniciaram. Bem… para aqueles que talvez não saibam uma diferença:
– a CGU faz parte do Poder Executivo.
– o TCU faz parte do Legislativo… mudança provavelmente a mais longo prazo”…

 

– Então há previsão do governo voltar a investir nas Universidade, se as verbas forem bem utilizadas e com transparência?

“Sim, ainda não estamos cumprindo adequadamente as normativas sobre comitês internos de governança, tenho certeza que, com a Unipampa em ordem, com disponibilidade para o diálogo e para trabalharmos efetivamente com eficiência e de acordo com as normativas vigentes, a “senha do cofre” de verbas vai ser liberada pra nossas necessidades. Ainda nos falta infraestrutura básica para operacionalidade mínima dos cursos já existentes, nem temos laboratórios e salas de aula suficientes e adequadas para a nossa atual demanda. Fisicamente, ainda nem terminamos de nascer! Alguém acredita que com enfrentamento, “luta”, protestos e gritos e paralisações, ameaças de fechar as portas e alertas de diminuição de qualidade, conseguiremos? Não!!

Acredito que conseguiremos com diálogo, proximidade, coerência com o plano de gestão do Governo Federal, sintonia e harmonia, muita disposição para o trabalho duro e para, em conjunto, buscarmos as soluções mais viáveis. É como em família: você dá o cartão de crédito e a chave do carro para os filhos, quando tem confiança neles. Liberdade vem com responsabilidade e no nosso caso: credibilidade gerencial e responsabilidade política.

O reitor deve ser um articulador, leis e normativas precisam ser cumpridas e, se necessário, com questionamentos consistentes, normativas podem mudar e se atualizar, também. Quanto aos comitês internos de governança: ninguém do CONSUNI, nem de cargos de gestão em quaisquer níveis, pode ser membro porque este comitê monitora a gestão, e a gestão não pode ser auto-monitorada. Auditoria, CONCUR, corregedoria, ouvidoria, podem integrar comitês de governança, junto com usuários.

No âmbito das relações interpessoais: o ambiente em uma universidade, deveria ser o mais propício para podermos pensar em voz alta e trocarmos ideias diferentes. Precisamos de liberdade de pensamento, liberdade de expressão, respeito, tolerância genuína; chega de “tolerância cosmética”, que só maquia conflitos mas não os resolve nem previne. Chega de assistir quem vira as costas quando ouve o contraditório; chega de quem faz “nota de repúdio”, vamos conversar, de frente, com discussões enriquecedoras no âmbito de argumentos sobre ideias, sem ofensas pessoais e vamos modificar nossas tabelas de pontuação para fins de progressão funcional, vamos ser generosos nas pontuações por participação em comissões e comitês, vamos reconhecer que não é somente a publicação científica que alicerça uma universidade de excelência”.

 

– Pesquisei sobre o processo da Unipampa e percebi que a maioria dos candidatos são diretores, e um pró-reitor, qual sua opinião sobre este movimento?

“Nós temos na Unipampa, 10 campi, cada um tem um diretor, são, então, 10 diretores, todos eleitos em eleições diretas, para uma gestão de quatro anos; destes 10, cinco são candidatos a reitor ou vice-reitor. O que estamos vendo, então, é que estes diretores tem disposição para deixarem suas gestões pela metade, para assumirem reitoria ou vice-reitoria. Com tanto a colocar em ordem, como mostram os relatórios de gestão e RAINTs, como se explica que metade deles têm disposição de sair da direção sem cumprir seus mandatos?

Considero que seria moralmente e profissionalmente mais adequado se cumprissem seus mandatos até o final, resolvessem as questões internas dos campi, com apoio da reitoria e, depois então, cumprida a gestão atual, se candidatassem a outros cargos. O pior e mais preocupante é que estes outros cinco candidatos tem a postura do enfrentamento, da “defesa da autonomia”, da “luta pela educação”, esta postura que já sabemos que não funciona!
Acredito que quando alguém se candidata a um cargo eletivo, seja qual for, deve cumprir seu mandato até o final, antes de se candidatar a outros cargos (exceção por licença saúde, maternidade, paternidade, adotante, acompanhar doença de familiar). Minha sugestão para as universidades é que não haja recondução em nenhum cargo, a renovação é importante, sugiro também que, para alguém se candidatar a outros cargos eletivos, deve ter cumprido até o final seu período de gestão em cargos anteriores e ter, no mínimo, dois anos de interstício entre um cargo eletivo e a candidatura a outro cargo”.

 

– Sua candidatura é individual, uninominal, você não formou uma chapa como os outros cinco. Por quê? Como você escolheu seu vice e os pró-reitores?

“Aproveitando a possibilidade atual de candidatura uninominal, ofereci meu nome para a reitoria sem formar chapa, nem dei um nome para minha candidatura, é meu nome mesmo, assumo a responsabilidade. Meu partido é a Unipampa e não senti necessidade de me esconder atrás de um nome fantasia, ainda não escolhi vice nem pró reitores. Minha ideia, exatamente para mudarmos o velho paradigma de conchavos e alianças pelo poder, é que tenhamos um grupo técnico de trabalho, alinhado com a proposta de harmonia com o Governo Federal e, ao mesmo tempo, escolhido de forma democrática e respeitando a autonomia universitária. Publicaremos editais com prazos para que os colegas se inscrevam, manifestando seu interesse por um dos cargos (vice e pró reitores) e faremos eleições utilizando o sistema online da Unipampa, que já viabiliza esta opção de votação.

Os candidatos deverão comprovar sua formação profissional e interesse, seus méritos e qualificações técnicas, além de postura alinhada e coerente com o Governo Federal e disposição para lidar com o contraditório, perfil solucionador e conciliador, assim, teremos um grupo qualificado e, ao mesmo tempo, teremos o CONSUNI renovado, com mais membros eleitos, em vez de um grupo alinhado ao reitor, teremos um grupo de pró-Unipampa”.

 

– Quem vota para a reitoria da Unipampa? É obrigatório votar?

“Na consulta geral do dia 28 de agosto, toda a comunidade acadêmica pode votar: servidores, técnicos e docentes, acadêmicos de graduação e pós graduação, o voto é opcional. Mas a votação que define os nomes que irão fazer parte da lista tríplice, é no CONSUNI, somente membros do Conselho Universitário votam, o ideal seria se os nomes de todos os candidatos fossem enviados para o Presidente da República, em vez de somente os três definidos pelo CONSUNI. De qualquer forma, é importante que no dia 28, toda a comunidade acadêmica manifeste, através do voto, sua vontade, quanto mais gente votar, melhor, pois só assim iremos conhecer a opinião dos que registrarem sua escolha. Não podemos deixar que se repita o que aconteceu na Venezuela: Maduro não tomou o poder à força; ele foi eleito, a imensa maioria achou que não valia a pena votar, que não faria diferença, uma minoria votou e esta minoria elegeu o representante que quis… já sabemos o desfecho da história no país vizinho. Vale lembrar que a maioria não está confortável com a situação atual.

Não somos uma comunidade dominada pela esquerda, como a mídia quer fazer crer. Acontece que há um grupo muito barulhento e até intimidador, que acaba deixando em silêncio as vozes que pensam diferente no meio acadêmico, e que não são poucas! A mudança é possível, precisamos acreditar, vimos um bonito exemplo nas eleições para Presidente em 2018, aqui no Brasil.

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As posições expressas em artigos por nossos colunistas, revelam, a priori, as suas próprias crenças e opiniões; e não necessariamente as opiniões e crenças do Burke Instituto Conservador. Para conhecer as nossas opiniões se atente aos editoriais e vídeos institucionais

Raquel Brugnera

Raquel Brugnera

Escritora e articulista política, pedagoga, pós-graduando em Estratégia Política e Marketing Eleitoral.

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