Mulher

Mulher Conservadora

Se um tabu existe para ser quebrado, é bem verdade que definições políticas, sociais e morais apresentam a mesma característica. No fundo, qualquer tentativa de conceituar ou classificar uma determinada questão humana, demasiadamente humana, repleta de complexidades e variáveis inesgotáveis, está fadada a perecer. Ou seja, uma definição existe para ser derrubada.

No caso de assuntos polêmicos, é bem provável que o rol de insanidades teóricas prevaleça sobre a razoabilidade argumentativa. Se muitos julgam ser adequado afirmar que “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”, conforme Simone de Beauvoir, basta imaginar o quão difícil é a estruturação de jogos adequados de linguagem que permitam certa racionalidade na comunicação contemporânea.

Se Beauvoir está correta, a ideia de mulher em hipótese alguma tem a ver com o sexo biológico (ainda mais nas últimas décadas). E mais, só deve se tornar mulher aquele (ou aquela, aquilo, aquelx, aquel@…) que seguir os ensinamentos dessa “diva” que era fervorosa defensora da possibilidade da prática de sexo com menores de idade como uma forma de libertação. Na linha de pensamento dessa “filósofa” francesa, só se torna mulher quem adere ao seu raciocínio, o que significa que só se torna mulher quem abdica da liberdade de pensamento (e da biologia).

Com tudo isso, com Beauvoir ou não, definir o que é uma mulher talvez não seja uma tarefa simples. É uma atividade inglória dada a pluralidade de estilos femininos. Em um contexto um pouco distinto, G. K. Chesterton, declarou que a “variabilidade é uma das virtudes da mulher. […] Se você tiver uma boa esposa, você certamente tem um harém espiritual”. É possível definir o que é uma boa esposa para mulheres com emoções e sentimentos distintos? É possível definir um conceito de mulher que abarque toda essa variabilidade? A simples imaginação já inspira cuidados sobre o que vai ser afirmado, sob pena de colocar a postos um pelotão feminino de fuzilamento moral.

Um homem que expressa suas opiniões para uma mulher desconhece os perigos de uma guerra civil. Imagine aquele que ousa defini-la. Nisso, Oscar Wilde foi extremamente sábio quando afirmou que “a história da mulher é a história da pior tirania que o mundo conheceu: a tirania do mais fraco sobre o mais forte”. Independentemente dessas frivolidades, o fato é que a ideia de mulher não necessita de definição alguma. A não ser que ela carregue consigo alguma qualificação adicional.

Caso seja uma mulher feminista, é possível depreender que tal mulher possui algumas características peculiares que podem ajudar na construção de um conceito que a defina. Mesmo com variações, é possível dizer que uma mulher feminista é uma mulher escrava de uma ideologia que não defende mulheres, mas sim ativistas e ideólogas. Sem polêmica. Sem ironia. É a mais pura verdade. E dessa forma há um bom ponto de partida para pensar o feminismo e a sua relação com as mulheres.

Na outra ponta, o que seria uma mulher conservadora? Seria possível defini-la? Para aqueles que conhecem um pouco do conservadorismo, podem imaginar que é uma mulher que preserva aquilo que sobreviveu aos testes do tempo. À grosso modo, ela preserva seu marido, sua família, seus bons costumes, a boa educação no relacionamento interpessoal, a sua privacidade, a sua elegância, uma maternidade responsável e tudo aquilo que contribui para o fomento de uma sociedade sadia que permita o florescimento humano daqueles que estão no seu entorno. Uma mulher conservadora não é adepta do sexo livre, não glorifica costumes que rebaixam a natureza humana, não despreza a família em prol de prazeres levianos, não vulgariza sua sensualidade e muito menos pensa que o aborto é a saída racional para uma gravidez indesejada. Mulheres conservadoras conservam os traços femininos que lhes conservam.

Enquanto feministas não veem problema algum em expor seus seios decaídos em protestos públicos, conservadoras vislumbram no seio um alento para a vida. Enquanto algumas feministas costuram a genitália, as conservadoras sabem que a barbárie é o avesso da civilidade. Enquanto feministas enfiam crucifixos no ânus, as conservadoras sabem, com duplo sentido, que o sofrimento da cruz supera até mesmo a degeneração mais profunda.

Isso não transforma uma mulher conservadora em uma imaculada que não pode obter prazer com as partes de seu corpo durante um ato sexual. Mas um significado transcendente de uma parte do corpo, faz com que se valorize o amor de tal forma que o corpo não vire um instrumento político à mercê de agendas sociais ou que não se destrua na mais imprudente depravação.

Uma mulher conservadora não é reacionária. Ela, no máximo, reage ao que a sociedade apresenta de pior. Uma mulher conservadora não vive um passado que nunca lhe pertenceu, não busca reavivar discriminações injustificadas, não reforça modelos familiares que subjugam arbitrariamente sua liberdade, nem aceita agressões físicas ou psicológicas em nome de uma suposta ordem natural que é inexistente. Uma mulher conservadora conhece o seu mundo e sabe do prestígio que sua condição feminina merece.

Uma mulher conservadora é uma mulher com poder. Não é a licenciosa feminista, muito menos a aprisionada reacionária. Uma mulher conservadora é livre porque preserva sua natureza feminina: não está presa em uma seita ideológica, como em uma teia de aranha, nem se coloca em uma distopia mental de exaltação de um passado que nunca existiu.

Prudente, moderada, zelosa, mais ou menos discreta e sempre em busca da manutenção da boa tradição, a mulher conservadora não vende sua mente para modismos intelectuais. Ela tem plena consciência que é um baluarte moral para que as futuras gerações ainda tenham alguns bons valores a serem preservados, dentre eles a vida, a liberdade e a dignidade humana.

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João L. Roschildt

João L. Roschildt

Professor do curso de Direito do Centro Universitário da Região da Campanha (Urcamp). Além de articulista e ensaísta, é autor de “A grama era verde”. Site: www.joaoroschildt.com.br

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