Harry e Meghan: O feminismo encontra terreno fértil em homens irresponsáveis

No livro Capital Social, o Dr. Roel Kuiper fez uma análise sobre o declínio da sociedade britânica, concluindo que a principal causa da desregulação deste povo está na deficiência social que o construtivismo progressista está a causar em seus membros vitais. O utilitarismo está promovendo uma crise social, abrindo alas para uma cultura individualista. Explico melhor.

A situação protagonizada pelo casal Harry e Meghan revela algumas deficiências universais, que vão além da influência feminista na dinâmica das relações entre homem e mulher. Quando uma tradição é ameaçada de ser maculada por uma nova [e corrompida] engenharia social, valores e garantias essenciais de uma sociedade entram em colapso, conforme nos lembra KUIPER, prelecionando sobre a nova ordem sociopolítica que está engajada em dissolver a sociedade ocidental.

Desde a juventude, Harry já levantava uma bandeira de fragmentação e desprendimento em relação aos valores da monarquia britânica. O que quero dizer é que as práticas irresponsáveis de sua solteirice permaneceram na sua vida de casado, o que comprometeu sua autoridade como homem e desestabilizou a noção de responsabilidade que todo o casal deveria carregar consigo.

Harry levou as pretensões adolescentes para sua vida adulta: querer viver na abundância do prazer, ausente das responsabilidades da Família Real. A ótica utilitarista enfatiza que o prazer individual é mais importante do que práticas de alcance social, ou seja, a legislação, a tradição e os costumes, não podem ser opostos em face de uma prática, mesmo que ela seja objetivamente errada.

Um dos objetivos da cultura progressista, conforme KUIPER, está na “suplantação de comportamentos morais por comportamentos instrumentais” , ou seja, os valores que cada um carrega na sua esfera privada são mais importantes do que aquilo que construiu uma civilização e que foi a crença fundante da coletividade. Parece que o ano de 2004, e a fantasia de Harry com a suástica nazista já revelavam seu objetivo de vida: ele mesmo.

Choveram comentários culpando a militância feminista de Meghan pela decisão do casal. Sim, a ideologia é um dos ramos do conjunto, mas não é a raiz do problema. Quando o pilar de uma construção entra em crise, o todo fica comprometido. Adaptando a questão de engenharia civil, quando a figura masculina negligencia seu papel, a figura feminina fica suscetível a crer e manter a ideia de que o seu mundo é mais importante do que qualquer outra coisa: seus traumas, seu sexo, suas pretensões > o eu de Meghan é mais importante do que as exigências do reinado de Elizabeth II; a instabilidade da militância de Meghan é mais importante do que a busca por uma civilização estável.

Como o feminismo de Meghan seria devidamente rechaçado diante da meninice de Harry? Impossível. Ouso ir mais fundo, Harry cometeu o mesmo erro que os rapazes maiores de 18 anos, preguiçosos, que passam o dia sentados em frente ao PC, e que postam frases de efeito contra o conservadorismo, cometem: desejar estabilidade, sem arcar com as responsabilidades básicas da vida humana.

A crise da masculinidade é o corpo sem imunidade, e o feminismo é o vírus que encontra um terreno propício para se alastrar. Sem sensacionalismos, a estrutura feminista de pensamento só encontra solo fértil em famílias sem orientação, que não conhecem a doçura de assumir responsabilidades, cuidar dos outros e estabelecer conexões saudáveis por meio das vocações do homem e da mulher.

Homens e mulheres foram criados por Deus com designações para sustentar a criação. Mas, no mundo secularista, a perspectiva cristã de pessoa humana é substituída pela perspectiva egoísta do utilitarismo: o prazer individual é mais importante do que a manutenção de um povo. A cerne do problema é que o conceito tradicional de casamento foi substituído por uma noção revisionista, conforme preleciona GIRGIS, ANDERSON e GEORGE no livro “What is marriage? Man and Woman: A Defense” (Encounter Books | New York – Londres).

Os autores explicam que a repaginação na estrutura do casamento implica em um prejuízo para as gerações futuras, já que a ideia original da vida a dois é distorcida. O que originariamente está relacionado com a união corporal e a vida familiar, passar a ser trocado pela união emocional, meramente aprimorada por qualquer atividade sexual que os parceiros considerem agradável.

Na perspectiva Aristotélica, o homem vai muito além do provedor do lar: ele está envolvido nos assuntos do pólis, governa bem sua casa e contribui para a vida pública, já que toda a comunidade é formada com vista à um bem, e ao homem foi dada a capacidade da autodeterminação – ou seja, a figura masculina descrita por Aristóteles é o oposto de Harry: um homem que não governou sua vida como participante da coroa, e que permitiu que os desejos pessoais fossem mais fortes do que o seu dever.

O cenário familiar não fica propenso para o exercício da submissão, tendo em vista que homens irresponsáveis geram lacunas e reações, dentre as quais está o ato da rebeldia. É difícil ser submissa a um marido que não cumpre com o seu papel, se exime de dar segurança, é incapaz de ser um professor no quesito de responsabilidade, e que não tem experiência para edificar e redimir sua esposa.

A duquesa de Sussex fala tanto em questões sociais, mas suas ações não correspondem com o seu discurso político, já que o capital moral do povo britânico fica comprometido com atitudes como essa. Meghan é vítima e antagonista ao mesmo tempo: vítima de um marido que não soube mostra-la o poder do cuidado e suprimentos que Deus deu ao homem, e antagonista de um povo que precisa de figuras que promovam os valores cardinais do amor e lealdade para com a sua Pátria.

Participar ativamente da governança de um país é extremamente didático. Pode nos ensinar sobre o valor de pensar nos outros, nos compele a agir com firmeza nas decisões, e nos faz refletir sobre como resolver problemas reais. Entretanto, Meghan e Harry estão em polos sujos: Meghan frustrada por que suas determinações progressistas e utilitárias não estão logrando êxito, e Harry incapaz de instruir sua esposa sobre o mundo real.

A melhor resposta que podemos dar a pauta egoísta do feminismo é cumprir nosso mandato cultural.

Bárbara Alice Barbosa

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Bárbara Alice

Bárbara Alice

Bacharela em Direito. Pós-graduanda em Gestão, Governança e Serviço Público [PUCRS]. Membro do Instituto Brasileiro de Direito e Religião [IBDR]. Tutora do primeiro curso livre de Direito Religioso do Brasil. Palestrante.

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