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Em defesa dos Tabus

“Precisamos remover esses tabus”, é o que uma legião progressista afirma, com ares de crítica moderna, como se proferissem ideias atuais e inovadoras (inovadoras há quase sessenta anos?); porém, se é para ser crítico de verdade, eu é que indago, como exemplo: E daí, se o sexo, ou algo relacionado ao sexo, for um tabu? E daí se algo for um tabu?

Tabus vêm e vão e, em si, não são males necessários para a sociedade; na realidade, na maioria das vezes, são mais bens, construídos historicamente, do que moléstias no seio social por um simples motivo: tabus são necessários. Eles conseguem existir em uma constante em todas as sociedades humanas já existentes, não importando a pluralidade ou a diferença entre as cultuas, isto é: fazem parte da Natureza humana. Como animais gregários, nós exigimos regras que impõem limitações a indivíduos e a componentes coletivos menores no grupo em que vivemos. Tais restrições não necessitam ser legais, ou mesmo possuir o peso da jurisprudência, podendo ser convenções sociais que ajudam a gerir o convívio dentro de um corpo social. Os tabus são parte dessas regras não-escritas.

Falar de nojeiras enquanto você (e, principalmente, enquanto outros ao seu redor) come é uma espécie de tabu, bem como tratar de assuntos de intimidade elevada em uma conversa formal de uma entrevista de emprego. O tabu envolve a educação e a consideração pelos outros em um bom convívio. Pense por alguns instantes e se verá como um reprodutor e um receptor de tabus. Eles fazem parte de nós, sendo inerentes a qualquer relação social.

Mesmo nos meios mais progressistas existem tabus. Que tal falar da alta quantidade de doenças sexualmente transmissíveis entre a população mais aberta ao sexo? Que tal apontar a relação óbvia entre contrair uma DST e a promiscuidade e da clara validade lógica entre ter um discurso que incentive a promiscuidade e a incentivarão que gera o aumento de DSTs? Experimente fazer isso em terrenos que promovem a liberdade sexual extrema e verá o resultado: as pessoas se sentirão ofendidos, irão reagir contra você, tentarão te calar, possivelmente te xingando de machista ou homofóbico.

Os que defendem a crítica e o fim dos tabus, na realidade, só acabam criando outros tabus, ao destruir os antigos. Um tabu envolve a moral e os valores de algum grupo. Ao inverter os valores ou trocá-los e torná-los antiquados, você cria termos que não devem ser mais proferidos e assuntos, agora, indizíveis para a nova moral e os novos valores que pautam os novos costumes. Fixar no termo “tabu” uma conotação ruim, como se este fosse sempre uma mazela, um grilhão contra o indivíduo ou grupos minoritários e sem muita expressão é, no mínimo, uma hipocrisia. Sempre haverá tabus. Eles são uma das réguas da sociedade; de fato são controladores, criam situações onde a expressão de certos assuntos é esmagada pelo desconforto da maioria, ou do outro. Isto é sinal de que o mundo não é formado apenas do “eu”.

O “outro”, ou melhor: os outros, são importantes para construir qualquer caráter ou senso de decência. Criar uma guerra irracional anti-tabu é também criar uma luta contra os outros e suas normalidades, seus cotidianos.

É a importância que damos às outras pessoas ao nosso redor que nos dá, como diz a expressão popular, “vergonha na cara”. A vergonha é a moldadora dos homens. Se alguém não se envergonha por nada, é porque não dá a mínima para quem está ao seu redor. Ele transforma o convívio social que possui em algo apenas dele, privando os outros de o pressionarem, mas ao mesmo tempo consegue ser um hipócrita, pois acaba não notando que, ao fazer isso, pressiona os outros.

Se atualmente ficou feio brincar ou falar mal com a homossexualidade de alguém (ou mesmo da homossexualidade em geral), por exemplo, as pessoas que criaram o tabu contra essas brincadeiras só o fizeram pressionando moralmente os brincalhões (entenda-se, quase a totalidade dos brasileiros). O poder e o controle que possuem é igual ou maior ao tabu anti-homossexualidade anterior (ou ao menos aquele que condenava esse tipo de sexualidade), pois eles conseguiram calar e mudar uma grandiosa parte da sociedade, sufocando o que, antes, acreditavam, imponto um valor de uma minoria, como uma regra para moldar a régua do  novo tabu. O domínio das falas do convívio passou para o progressismo, ao menos em alguns campos (na mídia em geral, por exemplo).

Portanto, se o tabu é ruim porque oprime pelo domínio, porque controla a fala, então o progressismo conseguiu ser pior do que as piadas sobre a homossexualidade – afinal, a vergonha gerada ao se quebrar um tabu, aqui, ainda existe, mas só que foi apontada para o lado oposto do “espectro”.

Não podemos fugir de nossas Naturezas, de nossa condição como Homens. É certo que tabus não são necessariamente bons, mas são bens necessários para o convívio. Tudo aquilo que permite uma sociedade existir – e, aqui, falo de termos gerais, como ordem, coesão, hierarquia, amizade, confiança, etc., – é um bem, algo preciso e precioso para todos nós, tal qual um músculo da perna para nossa locomoção.

Enfim: não se deixe enganar por um discurso dourado de um progressista: viva aos tabus!

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As posições expressas em artigos por nossos colunistas, revelam, a priori, as suas próprias crenças e opiniões; e não necessariamente as opiniões e crenças do Burke Instituto Conservador. Para conhecer as nossas opiniões se atente aos editoriais e vídeos institucionais

Hiago Rebello

Hiago Rebello

Graduando em História, Licenciatura, pela Universidade Federal Fluminense, colunista do Instituto Liberal e do Burke Instituto.

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