Lições práticas do COF

Uma das grandiosidades do trabalho pedagógico do professor Olavo é a habilidade de expor de forma clara e sistemática o conjunto de práticas cognitivas que filósofos e intelectuais em geral apenas praticaram. Recuando da produto final do pensamento para o mapeamento das atividades subordinadas que culminaram nele, o professor traça a trilha que os alunos terão apenas de percorrer, poupando-os do trabalho de desbravar a “selva selvaggia” sozinhos e às cegas.

Quando no ensaio “Miséria sem grandeza” o professor elenca as sete atividades da técnica filosófica, o ponto de partida não é a leitura ordenada de tais e quais obras, mas a atividade cognitiva de auto-análise. A filosofia começa com a anamnese.

Hoje eu sou católico, mas nem sempre o fui. Porém sei exatamente o momento preciso da mudança de perspectiva, tanto quanto os procedimentos sucessivos que gradualmente me levaram àquilo que o professor na primeira aula descreve como “não a certeza absoluta, mas a confiabilidade máxima”. Conhecendo então o “status quaestionis” de um elemento puramente subjetivo, tenho uma pequena fração de noção do que seja esse exercício aplicado na totalidade de uma personalidade. Tenho a noção de que o conhecimento pleno de si mesmo, a posse integral da própria personalidade, tem algo a ver com isso, sendo, entretanto, muito melhor.

Uma vez, então, rastreado o meu catolicismo e identificada sua pedra de toque, o epicentro de toda essa estrutura, resta identificar o que ali é experiência real e o que é absorção de influências externas. Basicamente, é a hora de confrontar a minha própria fé. Mas isso não tem nada a ver com o criticismo militante da moda ou o ceticismo cientificista; tampouco tem a ver com supostas heresias ou rebeldia a Deus — tendo experienciado a conversão, eu já sei a veracidade dela e executo tudo isso partindo do princípio de que ela é verdadeira. O que quero, isso sim, é identificar até onde eu sei e a partir de onde foge da minha alçada.

Identificando então os limites da minha própria compreensão sobre a minha fé, resta saber se aquilo que eu não pude compreender ou expressar foge das minhas capacidades pela própria transcendência da sua natureza ou se, ao contrário, eu é que estou aquém da compreensão de um dado da própria realidade, carente dos símbolos cognitivos que a expressem. E é só então, neste ponto-limite preciso, que entra a literatura: para eu buscar nela os símbolos cognitivos que expressem a minha própria experiência pessoal, ou que ao menos se lhe aproximem, diminuindo a margem de erro da questão e me deixando mais consciente das bases da minha própria crença religiosa.

É por isso que a leitura é uma ferramenta secundária. O primeiro ponto é o exercício cognitivo de saber fazer a investigação. E uma vez dominado o método, as leituras serão executadas com clareza de objetivos e, por consequência, com eficiência de resultados. Mas pela própria natureza do processo, e excetuados os casos de dons inatos, não se pode aprendê-lo sozinho. É necessária a companhia e orientação constante do mestre que executa a filosofia ao mesmo tempo que mostra como se faz. Por isso o COF é uma preciosidade.

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