Jorge Jesus ex técnico do Flamengo

Jorge “machista” Jesus

Jorge “machista” Jesus

Para a seita do feminismo, a mera existência de um homem significa opressão. E aqui cabe uma espécie de primeiro pedágio moral. Assim como em qualquer vertente ideológica ou política, nem todos aqueles que se julgam pertencentes a alguma visão de mundo, necessariamente fazem parte de tais pontos de vista. E não são poucas as pessoas que se identificam superficialmente com alguma causa social, mas sequer sabem as bases teóricas que estruturam tais ideias. Em outras palavras, alguns seres humanos defendem ou agem em nome de determinadas “bandeiras” sem terem a plena consciência do que estão fazendo. Como em uma manada, se movem para onde os primeiros animais se deslocam imaginando que é o movimento correto. Quando se valoriza a degradação da racionalidade, sentimentos e instintos são sucessores naturais.

Um segundo pedágio moral diz respeito ao fato de que o feminismo tem inúmeras variações e percepções de vida que diferem entre as mulheres. Ou seja, no universo de variedades, existem as ativistas digitais que vivem de curtidas e “lacrações” para “causar” nas redes sociais, ao passo que as “patricinhas” que aderem a modismos feministas, sequer têm ideia do que falam. Também existem as ativistas “light”, que vão às ruas em manifestações com cartazes que parecem ter sido pintados por crianças de 6 anos de idade para repetir mantras sagrados que não resolvem a violência real que muitas mulheres sofrem.

No lado hardcore, encontram-se as ativistas “raiz”, que não se envergonham de mostrar seus pelos axilares coloridos, cabelo moicano desgrenhado, seios e barriga em confronto com a gravidade e todo o tipo de exposição corporal absurda com o objetivo utópico de modificar o pensamento da senhora “reacionária” que cruza seu caminho. Um subgrupo destas ativistas “raiz” são as “performáticas”, que aguardam ansiosas por qualquer notícia que possa estimular a introdução de crucifixos no ânus, a costura de parte da genitália, o uso de instrumentos musicais com batidas primitivas ou até mesmo a utilização dos espaços públicos como banheiros para a realização de protestos.

Por outro lado, existem aquelas que fazem parte de associações, órgãos ou comissões de instituições que se assemelham a uma “polícia secreta”, visto que sempre tentam apresentar um discurso “neutro” em prol de melhorias para toda a sociedade, mas sempre deixam escapar em suas “notas de repúdio” uma terminologia progressista tacanha que as vincula diretamente ao feminismo “raiz”. E não se pode cometer a heresia de esquecer das “intelectuais” e “especialistas” que são onipresentes na grande mídia buscando refinar, justificar e eliminar “impurezas” e “radicalismos” das insanas práticas feministas, ao mesmo tempo em que sempre se omitem quando “excessos” são cometidos ou quando mulheres conservadoras são ofendidas.

Para todas estas, de forma mais ou menos explícita, um homem é sempre um inimigo público. A não ser que ele seja um “feministo”, realize algum curso rápido na internet para desconstruir seus “preconceitos” sobre o movimento feminista ou busque extirpar de si mesmo sua “masculinidade tóxica”. Somente nestes casos, e sabendo que não basta ser “feministo”, tem que ser anti-machista (seja lá o que isso signifique!), é que o homem contemporâneo poderá ser tolerado em nossa sociedade progressista do século XXI. Do contrário, o menor questionamento sobre a racionalidade do movimento feminista ou sobre suas bases teóricas conduzirá o homem a uma espécie de calabouço moral para cumprir uma dura pena de “cancelamento”.

Com tudo isso, caso o aspirante ao feminismo não tenha se dado conta, não existe doutrina feminista sem progressismo. Não à toa, sua identificação perene com o esquerdismo. E neste ponto sigo a elucidativa e sincera explicação da “filósofa” Márcia Tiburi: “O feminismo que defende simplesmente as mulheres pelo simples fato de elas serem mulheres é um feminismo fundamentalista e altamente antifeminista. Dizer que o feminismo deve simplesmente defender as mulheres é algo falacioso e perigoso. […] Não existe feminismo na direita”. É simples. Mesmo que o discurso seja de luta contra a violência que as mulheres sofrem em razão de sua menor força física, por exemplo, caso uma “conservadora” seja violentada, a “rainha” da Filosofia brasileira já decretou que não há espaço para a defesa dessa mulher, afinal, um feminismo que intervém em favor desta vítima será antifeminista. E fundamentalista!

Como uma ordem tirânica que move os seres vivos desprovidos de razão, quando alguém recebe a pecha de machista, sendo ou não um sujeito que julga que o sexo masculino tem superioridade moral ao feminino (“pessoas com vagina”, como diria a Folha de S. Paulo), deverá ser imediatamente perseguido por todos, todas, tod@s, todxs e todes que comungam dos ideais feministas (não fundamentalistas?). Por mais que o indivíduo não tenha afirmado nada que indique uma crença em torno da ideia de que as mulheres não são capacitadas a exercer determinadas funções cognitivas simplesmente pelo fato de serem mulheres, caso seja publicamente chamado de machista e este termo tenha ressonância nos grandes veículos de comunicação progressistas, de nada adiantará negar a alcunha.

Para este movimento incendiário, que vive de combustões aleatórias e que nunca perde tempo em buscar mais combustível para alimentar o fogo que deve queimar as fileiras dos inimigos, não se pode esperar qualquer busca pela verdade. Em nome da causa, qualquer indício é prova. Para a defesa de suas agendas ideológicas, o feminismo cria termos abstratos que buscam construir narrativas fantasiosas para realidades inexistentes. Patriarcado, machismo estrutural ou misoginia são construções linguísticas amparadas pelo esquerdismo que servem como carta coringa para ofertar vitória moral, política ou jurídica àquele que profere tais termos em um debate.

Quem questiona estes conceitos sempre é visto como um típico exemplar vivo da horripilante realidade social desenhada pelo feminismo ou como um completo ignorante que precisa ser educado. Ou seja, não é possível imaginar a discordância daquelas premissas que tentam descrever a realidade, sob pena de ser um inconfundível representante misógino: um machista inserido em uma sociedade patriarcal. Certa feita, quando escrevi em um texto que havia um número elevado de suicídios entre atrizes pornográficas (um fato), fui chamado de misógino por um jornalista. Até hoje me pergunto em que momento tive esse comportamento. Talvez não consiga vê-lo exatamente pelo fato de que provavelmente minha mente esteja entupida de um machismo estrutural no seio do patriarcalismo.

Há pouco tempo, o português Jorge Jesus (JJ), ex-técnico do Flamengo e que atualmente treina o Benfica, ganhou as manchetes por conta de uma de suas sempre contundentes respostas. Como teve enorme sucesso no futebol brasileiro, sua fala retumbou nas manchetes dos principais veículos de comunicação esportiva no país. Após a vitória de seu time sobre a equipe do Marítimo pela diferença de um gol, a repórter Rita Latas, da emissora Sport TV (Portugal), levantou a questão de que, apesar do resultado obtido, sua equipe não estava mostrando um bom futebol. Jorge Jesus, reunindo um misto de sinceridade, aspereza e firmeza, respondeu: “Não tenho a mesma opinião que você. Note, é também natural que você não saiba o que é muita qualidade sobre futebol, não é?”. Se havia algum rastilho direcionado a uma pequena, mas estridente, carga explosiva, Jorge Jesus tratou de fumar um cigarro ao lado da pólvora.

Assim, as redações de jornais, infestadas de ratazanas progressistas, não perderam tempo. E o ataque foi coordenado e massivo entre o mainstream. Sites como Globoesporte.com, Metrópoles, UOL, Esporte.IG e IstoÉ seguiram o mesmo tom em suas manchetes, qual seja, a de que Jorge Jesus “dá resposta machista” para uma repórter portuguesa, enfatizando que nas redes sociais o ex-treinador do Flamengo estava sendo duramente criticado. Em nenhum momento foram ressaltadas as poucas vozes presentes nas redes sociais daqueles que discordavam da ideia de que sua resposta havia sido machista, o que mostra a flagrante inclinação destes veículos de comunicação. Além disso, se em suas manchetes houve a onipresença da chamada “dá resposta machista”, o julgamento já estava consumado: Jorge Jesus só pode ser um machista. Sem chance para defesa. Sem chance para contraditório. Sem chance para sequer uma interpretação adequada de suas palavras e do contexto em que elas foram proferidas. Pelo visto, os responsáveis por estas matérias, simplesmente pelo fato de ouvirem do técnico do Benfica que seria natural que a repórter não soubesse muito de futebol, já relacionaram que o treinador afirmou aquilo porque do outro lado se encontrava uma mulher. Esqueceram, (propositalmente?) que ele poderia ter feito tal declaração por se direcionar a uma representante da imprensa esportiva, e não pelo fato de ser mulher. Curiosamente, até o momento, nenhuma agência de checagem foi verificar tais manchetes…

Já os veículos Lance, Esporte Interativo e Terra foram um pouco mais comedidos e colocaram em suas manchetes que Jorge Jesus foi criticado na internet após resposta ofertada a repórter (o que não deixa de ser verdade). Mas a Revista Fórum, em seu site, em texto assinado por Victor Farinelli, conseguiu a proeza de fazer Nelson Rubens (aquele do “eu aumento, mas não invento”) corar de vergonha. Sob o título de “Machismo: Jorge Jesus diz que mulheres não sabem o que é qualidade no futebol”, Farinelli conseguiu criar uma quimera para reescrever a história. Na descrição da matéria, o autor ainda diz que o técnico “usou o machismo como escudo” para não responder a pergunta da jornalista Rita Latas. A título de curiosidade, Victor Farinelli já produziu alguns artigos para o site Socialista Morena, Vermelho.org e Carta Capital. Também é possível encontrar textos em que tece fartos elogios às opções políticas esquerdistas de Maradona, ao atual presidente argentino Alberto Fernández e a figuras emblemáticas que circularam pelo Foro de São Paulo. É curioso como a fusão entre jornalismo e esquerdismo produziu uma classe de iletrados que se especializaram em escrever ficções progressistas para a defesa de suas agendas ideológicas. Fatos? Verdade? Isso é coisa de burguês.

Mas o presidente do CNID – Associação de Jornalistas de Desporto, de Portugal, também emitiu um comunicado de repúdio. Nele, Manuel Queiroz classificou a resposta de Jorge Jesus como “absolutamente inadequada e indigna”, repudiando “da forma mais veemente o comportamento” do treinador. Presumindo (um exercício de adivinhação?) que o técnico do Benfica deu sua resposta somente porque era uma mulher que lhe entrevistava, Queiroz declara que “a influência feminina deve ser bem acolhida” por aqueles que estão envolvidos no futebol, algo que, em sua visão, JJ não fez. O jornalista Rui Pedro Braz, ao comentar esta nota em um programa na emissora TVI24, disse que “só quem não conhece Jorge Jesus é que acha que Jorge Jesus fez isso por estar perante uma mulher […] das duas uma: ou o presidente do CNID não faz puta ideia do que é que são as conferências de imprensa de Jorge Jesus e é incompetente, ou sabe e agiu de má-fé”.

Após ampla divulgação do novo “rótulo” do treinador, Jorge Jesus declarou que são injustas as críticas: “Eu respondi a um jornalista. Não respondi se é branco, se é preto, se é uma senhora ou é um cavalheiro […]. Não foi por ser, como querem crer, machismo. […] Essa carapuça para mim não me entra, mas também sei que hoje as sociedades são muito mascaradas e essa notícia é uma notícia mascarada”. Ora, como dizer o óbvio em nossa época passou a ser um ato de rebeldia, Jorge, (assim como Jesus?), pode ser visto como um rebelde. Diante de tamanha boçalidade intelectual que consegue extrair “machismo” de uma resposta que em momento algum fez referência explícita a algo neste sentido, uma simples consternação com a degradação do intelecto significa fazer pouco caso da gravidade de falsas acusações que tem o condão de tentar “cancelar” vozes avessas ao sistema.

Em um tempo marcado por uma luta incessante na busca por igualdade, é absolutamente intrigante ver como são as reações da grande mídia e das pessoas quando um técnico de futebol trata todos os jornalistas, homens e mulheres, da mesma forma, como é o caso de Jorge Jesus. Se as mulheres lutam por igualdade no mercado de trabalho, por qual razão o mainstream e os progressistas (não é tudo a mesma coisa?) se chocaram quando Jorge Jesus respondeu de forma seca ao questionamento que recebeu? Não é o mesmo tratamento que ele já ofertou a inúmeros outros jornalistas em diversas ocasiões? Logo, a repórter Rita Latas não estaria no rol seleto de agraciados pelo “bom” humor do português? E, com isso, não estaria sendo tratada de forma igual aos seus demais colegas?

Cobrar coerência de ideologias que se nutrem de narrativas fantasiosas é uma insanidade. Aliado a este fator, são bem conhecidas as mazelas educacionais que atingem boa parte do Ocidente. Além de aspectos ideológicos que tomaram de assalto o ensino, existem as falhas típicas que acompanham as visões políticas reinantes.

Há um processo de desconstrução abrupto no que tange a capacidade de leitura, interpretação e de uso mínimo da lógica nos procedimentos de construção de argumentos. Essa decadência programada e solidamente estruturada pelo progressismo, que tem o hábito de politizar tudo, inclusive a educação, criou gerações absolutamente desamparadas de uma “erudição mínima” para lidar com a realidade dos fatos sem que isso incorra em luta política pelo poder.

Assim, se Jorge Jesus falou que é “natural” que a jornalista não entenda de futebol, para o militante-jornalista, com toda certeza, isso acende uma luz vermelha (sugestiva?) em seu cérebro que já classifica a afirmação como típica de homens opressores em uma sociedade patriarcal. Logo, é machismo, afinal, qualquer ideia de “natural” já remete a estereótipos de gênero que são contrários às ideias pós-modernas de que gêneros são construções sociais. Ainda mais que ao microfone se encontrava uma jornalista. Ideologias são como bolhas de sabão: podem ser coloridas para encantar crianças, mas com o tempo elas explodem no ar.

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João L. Roschildt

João L. Roschildt

Professor do curso de Direito do Centro Universitário da Região da Campanha (Urcamp). Além de articulista e ensaísta, é autor de “A grama era verde”. Site: www.joaoroschildt.com.br

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