Algumas considerações acerca do indivíduo nos regimes totalitários comunistas do século XX

Como é sabido, o ser humano tem um amor grande pela liberdade, anseia ser livre e busca de qualquer forma livrar-se de tudo o que possa prendê-lo, não consegue, portanto, viver reprimido. Essa realidade é confirmada quando os indivíduos se viram cerceados por cercas de arames durante o período dos regimes totalitários comunistas, e essas tragédias gigantescas marcaram o século passado, no qual vimos indivíduos no centro delas.

Vladimir Tismaneanu em seu livro O Diabo e a história mostra como isso aconteceu, quando: ”Dezenas de milhões de mortos, a memória das cercas de arame farpado e das câmaras de gás, assim como um sentimento de tragédia insuportável são os principais legados deixados pelas promessas ideológicas temerárias do século XX de construir a Cidade de Deus, aqui e agora” (O Diabo e a história, p.366).

O comunismo em sua raiz é um tipo de regime que tem por finalidade, desprezar, humilhar o indivíduo, e as experiências mostram isso, essa forma de governar que destrói até o último traço de democracia, como bem disse Tismaneanu: “agora está claro, baseado nas experiências abismais de estados totalitários, que o desprezo pelo indivíduo e por seus direitos leva inevitavelmente à destruição de qualquer traço de democracia” (O Diabo e a história,p.365).

Nesse mesmo aspecto esses movimentos têm por finalidade isolar e ao mesmo tempo massificar todos os indivíduos que são ou fazem parte do regime, tornado assim, peças fáceis de domínio e controle, portanto, o totalitarismo assume como princípio fundamental para seu funcionamento a ideia de povo como um único órgão, ou seja, a regra de ouro do partido é dissolver o Eu e o Tu no regime.

Segundo Vladimir Tismaneanu, para que um regime comunista seja realmente grande e forte há três elementos importantes que definem bem essa relação regime totalitário – indivíduo, assim sendo “o totalitarismo comunista, como organização social, política, cultural, econômica é caracterizada por três elementos: Recusa à memória, destruição dos valores e detestação do espírito (Mnemofóbico, Axiofóbico e Noofóbico respectivamente)” (Do Comunismo, p.13).

Essa revolução antropológica tem um impacto gigantesco no que se refere aos direitos do indivíduo e sua dignidade. Essa homogeneização dos indivíduos no partido gera uma destruição de todos os aspectos sociais, culturais, religiosos, morais, cívicos que cada indivíduo tem e que o distingue dos demais, como vemos, por exemplo, no regime comunista (Bolchevique), que “em qualquer de suas encarnações, procurou a criação de um corpo social perfeitamente homogêneo, a liquidação do cidadão e do espírito cívico” afirma Tismaneanu (Do Comunismo, p.26).

Quando nos referimos aos indivíduos, que são obrigados a seguirem instruções de ditadores vemos ali uma impotência de reação perante a autoridade que se exerce nesses regimes, ou seja, o homem não se reconhece como ser agente dentro do espaço público, o homem, portanto é simplesmente mais um homem qualquer, ou ainda, “o eu deveria ser negado para atingir a verdadeira fraternité”, nas palavras de Tismaneanu (Do Comunismo, pgs. 49-50), e para que isso aconteça, “o indivíduo e o sistema político em que vivia não podem ser vistos como entidades separadas” conclui (Do Comunismo, pg. 50).

Por essa razão, é o que o sistema comunista assumiu tamanho controle sobre os indivíduos, que esses não tinham muitas escolhas a fazer, ou abandonavam suas vidas privadas e dedicavam-nas inteiramente ao partido, ou a censura e repressão era o destino mais certo que os indivíduos iriam encontrar. Os objetivos do sistema totalitário, sempre foram claros e evidentes na relação para com os indivíduos, pois sabiam que esses objetivos não eram bons, ou não trazia esperança de vida para aqueles que faziam parte da grande massa, isso em caso de não colaboração com o projeto estabelecido pelo regime, ou na tentativa de revoltas contra o sistema estabelecido. 

A destruição de todas as formas de existências individuais e coletivas, sempre foi a regra número um no sistema comunista, assim os indivíduos ficavam isolados uns dos outros, e passavam com isso, a serem simples instrumentos à disposição do estado, em função do coletivo. Para manter o controle da massa, e na medida em que julgava necessário, o regime, optou por fazer de tempos em tempos expurgos, esses tinham alguns objetivos, como bem escreveu Tismaneanu, a saber: “a purificação do partido, a recuperação do poder e da sua unidade monolítica, a eliminação dos inimigos, a estabilização da correção da sua linha de ação e da preeminência da condução” (Do Comunismo, pg. 76).

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