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A esquerda brasileira não existe

Calma, caro leitor, não se trata do delírio, muito comum àqueles mais esquerdistas, que respiram e transpiram esquerdismo, consomem apenas literatura de esquerda por todas suas vidas universitárias e sabem muito bem que a atmosfera cultural brasileira (instituições, meios culturais, elites falantes etc.) é de esquerda, de afirmar que “não há esquerda no Brasil”. Se trata apenas de uma distinção mais importante do que parece: não existe esquerda brasileira, apenas uma esquerda no Brasil.
Quais ideias da esquerda nacional foram legadas ao movimento de esquerda em termos internacionais? Qual a contribuição da “esquerda brasileira” para qualquer movimento internacional relevante, mesmo de esquerda? Notemos que esse fato possui lastro histórico: que foram os partidos comunistas brasileiros senão meros satélites da União Soviética, recebendo financiamento e treinamento e seguindo bovinamente as ordens do Partido Comunista soviético? Que são esses mesmos partidos senão repetidores do discurso comunista oficial, em defesa de Cuba (PSOL), Coreia do Norte (PCdoB), Venezuela (PSOL, PCdoB) e outras ditaduras que ferem os direitos humanos?
Posteriormente, quando o regime militar se torna rarefeito e abre livre passagem para a mencionada dominância cultural de esquerda, que é a esquerda brasileira senão um bando que absorve, promove e aplica ipsis litteris as ideias do italiano Antonio Gramsci para fazer do Brasil um produtivo campo para a revolução socialista por meio da colonização sorrateira, porém feroz, das “superestruturas”? Estratégia essa responsável pelo ambiente universitário absolutamente dominado pela esquerda brasileira que vemos hoje e que qualquer observador razoavelmente honesto pode constatar.
Quero ainda dar um exemplo um tanto pitoresco, porém bastante claro. A mesma esquerda que reclama de propagandas com marcas americanas clássicas (Coca-Cola, McDonalds etc.) ou do consumo excessivo de blockbusters originários da terra do Tio Sam, vendo aí signos inconfundíveis do “imperialismo estadunidense” esticando suas garras sobre os tristes e subdesenvolvidos trópicos, é constituída tão fortemente de uma massa amorfa e sem personalidade que repete até mesmo os neologismos intraduzíveis da moda, importados diretamente dos mesmos Estados Unidos da América (desnecessário mencionar coisas já mais sedimentadas no imaginário geral, também advindas da América do Norte, como a parada gay, marcha para maconha, marcha das vadias e outras aberrações adjacentes).
 
Leia também: Por que a esquerda não funciona?
 
Foi exatamente assim que procedeu talvez um dos maiores símbolos da esquerda brasileira, pelo menos a “progressista” – Gregório Duvivier –, quando decidiu tentar emplacar um texto romântico sobre seu término com a igualmente esquerdista Clarice Falcão. O “humorista” aprendeu com a namorada essas palavras que o “word” deixa grifado e cuja tradução tem sonoridade ainda pior que o original (e que ninguém além da elite falante “progressista” se importa): “Aprendi o que era feminismo e também o que era cisgênero, gas lighting, heteronormatividade, mansplaining”.
Na hora de “lacrar”, parece que uma boa dose de imperialismo americano não faz mal a nossa esquerda lacradora. Tampouco na hora de virtualmente orbitar por completo, como um satélitezinho natural mequetrefe, em torno da esquerda americana, que dita totalmente os rumos do “progressismo” tupiniquim, seja pelo jargão a ser aderido, a verba a se receber de George Soros (ou da Fundação Ford, ou da Fundação Rockefeller – caramba, não é que esses megacapitalistas e banqueiros até que são “legais”?), a defesa das políticas de Barack Obama, a torcida por Hillary Clinton. Tudo isso é desempenhar (e muito bem!) o papel de cachorrinho adestrado de esquerdas estrangeiras, provando que não há qualquer esquerda brasileira relevante, apenas isso que está aí, uma esquerda no Brasil.

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André Assi Barreto

André Assi Barreto

Bacharel, licenciado e mestre em filosofia pela Universidade de São Paulo. Licenciado em História. Professor de Filosofia e História das redes pública e privada da cidade de São Paulo. Pesquisador da área de Filosofia (Filosofia Moderna - Dercartes, Hume e Kant - e Filosofia Contemporânea - Eric Voegelin e Hannah Arendt) e aluno do professor Olavo de Carvalho. Trabalha, ainda, com a revisão de textos, assessoria editorial, tradução e palestras. Coautor de “Saul Alinsky e a anatomia do mal” (ed. Armada, 2018).

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