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Nem todo socialista é criminoso, mas todo socialismo é um crime

O que poucas pessoas entenderam sobre o debate político na modernidade, é que na essência dos problemas político-sociais está a ideologia. Ideologia é um planejamento político, construído geralmente por intelectuais que busca, através de conjecturas dogmáticas, erigir na sociedade uma solução universal dos problemas humanos. Questões como bem e mal, certo e errado, justo e injusto, moral e imoral, são questões tratadas por esses ideários de partidos ou aglomerações sociais diversas através de um front único de observação. Agem de maneira superficial e/ou doutrinária sobre assuntos extremamente complexos que legaram à filosofia mais 4 mil anos de debates intensos.

Não obstante, a partir de um dogma ideológico inconteste, tais ideologias julgam poder resolver aporias humanas naturalmente labirínticas a partir de meros ajustes políticos e doutrinais. A igualdade plena entre os indivíduos, que sequer a natureza grandiosa e sábia parece poder dar cabo de concretizar — se é que a igualdade plena seja de fato um valor absoluto —, o comunismo propõe resolver através de golpes de estados, tomada de propriedades e doutrinações intelectuais. Não demorou muito para ver até em pênis e vaginas uma diferença a ser suprimida e embaçada, via Estado e imposições culturais.

 

O dogma inconteste:

No caso do comunismo se trata da luta de classes o dogma ideológico inconteste ao qual me referi acima; tudo que é presumido como solução deve antes ser visto através desse óculos obrigatório do embate de classes; ricos e pobres; empresários e empregados; gay e hétero; homem e mulher; negro e branco; etc., tudo é fator de divisão e opressão. Se o motor de sua solução política não tiver como hipótese primária a luta de classes, então já está errado, dizem os doutos pedreiros de utopias.

Não bastaria a sensatez Ocidental arregimentada sobre um estrondoso arcabouço humano, tendo por seus impulsos uma paleta divina das mais variadas ações, intenções, e razões de ser e agir, para mostrar a tais mentes possuídas por essa ideia de luta de classes o quão ridículo é diminuir os porquês humanos a uma esfera econômica de contraposições de castas. Não é possível aceitar a luta de classes como motor da história, sem antes mutilar o bom senso e a percepção histórica mais rasteira; entender que a realidade se move por mil outras vias além do suposto prélio de grupos, é a condição mínima para a compreensão do óbvio. A mente que enxerga numa rosa oferecida a uma dama, a declaração política de poder e empoderamento masculino, tal mente não precisa de argumentos, mas de tratamento psíquico.

A suspeita de tudo:

Agora imagine tal cenário de esquizofrenia política se tornando o éter cultural de uma sociedade inteira. Nós experimentamos isso na história em graus variados, na URSS talvez tenha sido seu auge. A consequência foi uma população amedrontada, onde filhos entregam pais, vizinhos denunciam vizinhos, irmãos entregam irmãos; tudo isso num sistema de vigilância política jamais experimentada na história humana, segundo Alexander Soljenítsin — dissidente soviético.

“Pode se imaginar, portanto, como é difícil, dificílimo mesmo, a um militante comunista que faça parte do Aparelho, opor-se a suas decisões. Esse militante, em geral, é uma pessoa sem vontade própria, nem consciência própria. Não se pertence: de unidade (indivíduo) converte-se em parcela inseparável de uma entidade (o partido). Em suma, o homem do Aparelho é, espiritualmente, um alienado. Eu era um homem do Aparelho” (PERALVA, 2015, p. 31)

Como consequência desse dogma instaurado, a luta de classes, os indivíduos começam a enxergar o mundo pré-determinado pelos ideólogos, colocando sempre num inimigo exterior — o capitalista, o yankee, o hétero, o machista, os pais — as causas de suas frustrações e tomadas de decisões erradas. Quando o país quebra economicamente, a culpa é sempre do capitalista americano; quando uma mulher não alcança o patamar que um homem hoje ocupa, é culpa de um machismo internalizado; quando um negro não passa na federal — a despeito de tantos outros brancos, pardos e amarelos que também não passam — a culpa é do racismo institucionalizado. Cria-se, pois, um clima de hostilidade social: sempre existe alguém responsável pelo meu fracasso pessoal, sempre há um algoz a ser liquidado, um vilão social a ser suprimido por vias políticas através de um salvador social.

 

O socialismo como crime:

Sempre atando os males nos outros, erigindo métodos de destruição dos inimigos — via cultura ou militar —, embebecidos da utopia final a ser alcançada a todo custo, nesse panorama não há nada, absolutamente nada que não se justifique; até mesmo os mais sórdidos crimes. Até uma facada num candidato, até gulags e campos de concentração. Como um prudente conservador, não posso afirmar nunca que todos socialistas são criminosos em potencial. Afinal, mau caratismo não escolhe cor de bandeira e nem status social; o mal, em si mesmo, é um câncer metafísico que habita o homem enquanto tal, dependendo os indivíduos de retos princípios e disposições pessoais às virtudes para que os freios morais sejam mais eficazes que as barbáries caóticas. Todavia, se os indivíduos não necessariamente são maus por conta de suas tendências políticas; diferente é com as ideologias em si, o comunismo é um mau intrínseco. Pois baliza seus fins num pressuposto mentiroso de que a luta de classe é o motor da história, e toda a deflagração dessa percepção errônea finda necessariamente num mal. A não ser que achemos que premissas errôneas finalizam em conclusões corretas.

Uma teoria política que em seu fim mesmo está incutido os meios torpes de suprimir multidões de opiniões diferentes, através armas, censura, ou achincalhamento social, uma ideologia dessas é o que se não criminosa? A conta das mortes do comunismo na história explodem o número de 100 milhões de mortos, segundo O livro negro do comunismo — pesquisa histórica liderado por Stéphane Courtois e mais dez pesquisadores da história do comunismo.

Nesse sentido, aliás — sem obviamente fazer juízo de qualidade — o que o comunismo tem de melhor que o fascismo? Tendo sido a ideologia vermelha comprovadamente pela história muito mais letal que o cancro igualmente pútrido do fascismo. Aliás, afirma um dos maiores estudiosos do comunismo no mundo, Vladimir Tismăneanu, em seu livro Do comunismo: “O comunismo e o fascismo são gênios totalitários, são dois gêmeos totalitários” (TISMANEANU. 2015, p. 16. Grifos meus).

Para findar o artigo, deixarei as palavras de um ex-comunista, e ex-agente brasileiro no serviço de informação (KOMINFORM) da URSS, Osvaldo Peralva:

“Jamais potência alguma no mundo dispôs de uma arma tão diabólica, de um instrumento de ação tão efetivo e de tamanha amplitude como esse. Nem os maiores impérios, nem os mais poderosos trustes internacionais conseguiram esse grau de eficiência e essa capacidade de confundir os espíritos, deformar a opinião pública, apagar a lucidez do raciocínio em milhões de pessoas, desencadear, na base da falsidade e da mentira, tempestades de paixão coletiva, caluniando, denegrindo, infamando” (PERALVA, 2015, p. 257).

 

Referências:

PERALVA, Osvaldo. O retrato, 1ª Ed, São Paulo: Três Estrelas, 2015

TISMANEANU, Vladimir. Do comunismo: o destino de uma religião política, Campinas: Vide editorial, 2015

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As posições expressas em artigos por nossos colunistas, revelam, a priori, as suas próprias crenças e opiniões; e não necessariamente as opiniões e crenças do Burke Instituto Conservador. Para conhecer as nossas opiniões se atente aos editoriais e vídeos institucionais

Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, colaborador do Jornal Gazeta do Povo, ensaísta e editor chefe do acervo de artigos do Burke Instituto Conservador.

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