Imagem: Agência Lusa

A esquerda fede

A esquerda é um verdadeiro laxante moral, uma diarreia de hipocrisias. Poucas coisas são tão abjetas quanto o famoso “dois pesos e duas medidas”; no entanto, eu ainda sou piedoso, julgo como um bom e velho sacerdote que entende muito bem que as falhas estão indelevelmente cravadas em nossas almas, e que a hipocrisia é mais um claudicar constante de nossa condição coxa de sobrevivência.

No entanto, quando essa laxidão moral da esquerda brasileira se torna algo consentido e deliberadamente escolhido, quando o ato de apoiar um assassino é algo refletido e bem quisto; isto então se torna um dos escândalos mais repulsivo dos últimos tempos. A posição de sustento que a esquerda mantém em relação a Nicolás Maduro é um desacato histórico à democracia, à liberdade e à moral comum dos homens.

A mudez fétida de alguns setores da esquerda, que não apoiam abertamente Maduro, mas que mantém um silêncio ensurdecedor frente às suas atuações, é igualmente um diploma histórico do caráter podre que a esquerda sustém como flâmula de orgulho. Assim como aplaudiram — pública ou particularmente, não importa — a guilhotina de Robespierre, os fuzilamentos de Lênin, os gulags de Stálin, os campos de trabalho forçado de Mao Tsé e de Pol Pot, o Paredón de Fidel Castro; agora novamente os socialistas ovacionam com taciturnidade os mais recentes cadáveres que Nicolás Maduro chancelou como um ato heroico de seu bolivarianismo pútrido e sicário.

O remanso moral da esquerda, todavia, se acende seletivamente quando o defunto deixa como legado da sua morte uma história que caiba em sua narrativa ideológica oficial; é nojento, me dá ânsia. Há socialistas que, no entanto, não se vendem totalmente ao asco, que repudiam a ditadura de Maduro rompendo com apoios oficiais. Todavia, não escaparão incólumes de suas consciências, esse cão-guarda que jamais deixa de rememorar nossas escolhas erradas. Maduro já era ditador há tempos, desde quando optou por uma política de cerceamentos a liberdades básicas; quando seu bolivarianismo centralizador começou a ditar tudo dentro das raias do país; desde quando seu exército começou a matar civis contrários à tirania. Maduro não é ditador há 2 ou 4 semanas, Maduro é um ditador constante há anos; repudiá-lo, hoje, não abona o fato de que muitos o apoiaram incondicionalmente ontem, apostaram nele por alguma leviana esperança de que o ditador poderia se converter num democrata — apesar de todos os sinais apontarem o contrário.

O apoio incondicional da esquerda, manifesta hoje (22/02) em Roraima, pelo PT, PSB, PCB, CUT e MST, onde livremente se posicionaram a favor da ditadura venezuelana, ignorando todos os incontestes crimes hediondos do governo bolivariano de Maduro, só reforça o fato de que a esquerda nunca viu na democracia um esteio seguro da sociedade, um modelo real de liberdade na Polis. A democracia para os comunistas é tão somente uma narrativa vazia para enganar trouxas desavisados e universitários inocentes, serve apenas para encher lacunas textuais em monografias, e para rimar em cantos de revolução. A ditadura faz comunistas salivarem, a esquerda se excita por um tirano.

O “apagão moral”, como denominou Vera Magalhães se referindo ao fenômeno do silêncio consentido da esquerda em relação ao déspota venezuelano, é algo constante, quase que perene; a ética dos comunistas é seletiva, a revolta da esquerda é pinçada das possibilidades que façam sua ideologia ser evidenciada.

A esquerda foi forçada a se desnudar, novamente, diante do cataclisma venezuelano. Hoje nós vemos a sua face assassina a olho nu, hoje é possível ver quem mantém o dedo em riste para cima, autorizando os gladiadores sanguinários a concluírem seu trabalho, isto é: matar em nome do imperador. A esquerda brasileira fede a cadáver, não que já não estejam acostumados ao odor, mas talvez muitos daqueles que os admiram não conhecessem o aspecto da carne podre que jaz embutido naqueles que alicerçam uma ditadura como a de Nicolás Maduro.

Não há como apoiar Maduro e manter o caráter intacto e ereto; ou se é um Homem de bem, ou um apoiador da ditadura venezuelana, os dois é impossível.

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As posições expressas em artigos por nossos colunistas, revelam, a priori, as suas próprias crenças e opiniões; e não necessariamente as opiniões e crenças do Burke Instituto Conservador. Para conhecer as nossas opiniões se atente aos editoriais e vídeos institucionais

Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, colaborador do Jornal Gazeta do Povo, ensaísta e editor chefe do acervo de artigos do Burke Instituto Conservador.

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