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Jornalismo não é religião e jornalistas não são deuses

Um princípio da democracia liberal é que não há instituições políticas sagradas, que não há nada que não seja criticável. Todavia, parece que o jornalismo, ou melhor, os jornalistas, acham que estão acima da carne seca; que qualquer ataque a suas análises e modus operandi, são necessariamente um ataque à democracia e à liberdade num contexto mais amplo.

Não tenho dúvida alguma de que o jornalismo é um dos pilares mais profundos da democracia, e que derrubá-lo ou sequer colocá-lo em risco, é o primeiro e também o último estágio de um país democrático. Vejamos a Venezuela, por exemplo, o sinal mais claro de que ela se encaminhava para uma ditadura foi a perseguição a jornalistas e fechamentos compulsórios de veículos de informação no país caribenho.

No entanto, as críticas devem ser ponderadas e analisadas num contexto determinado, nem todas as críticas às mídias visam derrubar e achincalhar, mas há aquelas críticas que lapidam e afastam do tronco seguro do jornalismo, os parasitas que usam carteiradas de homens da informação a fim transmitir os seus bafos fétidos de sindicalismo. Assim como há jornalistas que são verdadeiros Atlas da liberdade, que carregam a independência jornalística toda em suas costas; há também os titãs, aqueles que tentam subir a todo custo no Olimpo da soberania popular com o intuito de caçar com as próprias mãos a deusa da democracia, para desocupar o trono da liberdade e ocupá-lo com seu próprio deus ideológico.

Caio Coppolla, jornalista e comentarista político da Jovem Pan, foi condenado, na última terça-feira (12/02), por criticar o que ele denominou de “jornalismo abutre”, isto é: o ato de Dimenstein usar a morte de Ricardo Boechat para criar uma narrativa contra o governo Bolsonaro, politizando e usando um caixão como palanque partidário. Um ato tão asqueroso quanto condenável em si mesmo, não precisando ser necessariamente um conservador para repudiá-lo. Caio Coppolla, ao precisar ser uma voz destoante no meio da multidão jornalística, a fim de condenar sozinho o ato desrespeitoso e repulsivo de Dimenstein, reafirmou o nível de esquizofrenia no qual o jornalismo militante do país está mergulhado.

Sequer comentarei as falas de Fefito (Fernando Oliveira) e Edgar — respectivamente: comentarista e âncora do programa matinal da Jovem Pan (Morning Show). Âncora esse, aliás, que faz pouco caso de um dos maiores pensadores políticos e estadistas que já viveram neste mundo, Edmund Burke; se orgulhando de sua ignorância assim como os vermes louvam um cadáver.

Criticar páginas como Catraca Livre, Brasil 247, Revista Fórum, Folha Política, assim como reportagens tendenciosas da grande mídia, onde o jornalismo é deixado de lado e o espírito de gado partidário assume a alma do redator, é antes lapidar o reto jornalismo; é usar da crítica como fermento do caráter da profissão. Como dizia Jordan Peterson, temos que perguntar “para os pais: vocês querem fazer com que seus filhos estejam seguros ou que sejam fortes”? (PETERSON, 2018, p. 48). Temos de questionar aos jornalistas: “vocês querem um jornalismo mimado, egocentrista e intocável, ou quer um jornalismo independente, forte, livre e capaz”?

As opções ao jornalismo são claras e a condição também; as opções são: ou habituam-se às análises contrárias e constroem suas índoles sob o teste constante do fogo purificador das opiniões críticas, deliberadamente descendo do Olimpo do ego, e se juntando às demais instituições de mortais que buscam equilibrar a existência comunitária entre os inevitáveis erros e acertos. Ou mantém-se nesse castelo de egomanias, fechando-se cada dia mais às realidades do povo, subindo — sem corar a face — nos cumes de seus palácios a fim de se autoproclamarem intocáveis, deuses incriticáveis. Jornalismo não é religião e jornalistas não são como deuses; não são intocáveis e nem muito menos imunes a críticas vorazes. Está muito mais do que na hora de descerem do salto e darem conta de seus erros.

A condição, então, se mostra a seguinte: ou prestam atenção nas inúmeras e recorrentes críticas às coberturas enviesadas e tencionamentos dos fatos, ou continuaremos a criticar com ainda mais força tudo aquilo que se mostra como um apêndice cancerígeno do jornalismo real — aquele que não tem lados para torcer, mas somente o fato para cultuar. O principal pilar da democracia é um jornalismo livre, assim como o pior câncer é um jornalismo ideológico.

 

Referência:

PETERSON. Jordan. B. 12 regras para a vida: um antídoto para o caos, Alta Books: Rio de Janeiro, 2018.

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Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, colaborador do Jornal Gazeta do Povo, ensaísta e editor chefe do acervo de artigos do Burke Instituto Conservador.

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