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Do bom combate: Tomando a "espada do Espírito"

Introdução: Incompatibilidade entre a ideologia e cristianismo

A ideologia é a lepra da sociedade, e seu caráter corruptor está intimamente ligado à sua aversão ao ethos cristão. As forças da secularização sinalizaram, ainda no século XVIII, que tinham vindo não só para subjugar todo aquele que não estivesse comprometido com sua causa, mas que não hesitariam em dinamitar toda a ordem exterior e romper com o casco da experiência histórica a fim de dar vasão a sua sanha transformadora. Conforme seus erros e vícios foram se disseminando, esboçou-se uma reação por parte daqueles que, como o Velho do Restelo, não podiam se esquivar e muito menos deixar de fazer suas advertências. Como se encarnassem a figura de Nestor, cujo discernimento e experiência não eram menosprezados nem mesmo por Agamenon, tentaram dissuadir seus adversários lembrando que é preciso sempre cortejar a prudência e se curvar à Verdade. Essas atitudes, pelo que há de próprio e particular em cada uma delas, dão mostras de que Ocidente estava visivelmente cindido na passagem do século XVIII para o XIX; que estava dividido contra si mesmo entre aqueles “que creem em uma ordem moral transcendente de um lado, e, de outro, todos os que confundem a nossa existência efêmera de indivíduos com a origem e o fim de tudo.”[1] Ou se preferir: entre aqueles que creem numa ordem moral transcendente, ou que pelo menos são capazes de reconhecer a contribuição dada pelo cristianismo (mesmo não crendo na Revelação), e os ideólogos, “vários de opiniões e de costumes,/levados de conceitos fabulosos”[2] que, enfastiados com a realidade, se divorciam dela para se refugiar junto de sua doutrina armada.[3]

A incompatibilidade entre a ideologia e o cristianismo ― que está no cerne disso tudo ― culminou na autoflagelação do Ocidente. Não poderia ser diferente, já que a força inspiradora do cristianismo foi sendo substituída pelo evangelho do progresso. Todas as desgraças que se abateram e que possibilitaram a secularização e o enfraquecimento de sua cultura, tudo isso se deve a penetração da ideologia. E aqui não podemos imaginar que se trata de algo fortuito ou incidental. Longe disso. Tal como Sauron, antigo servo de Melkor, o ideólogo sente-se naturalmente propenso a transformar a realidade. Em uma passagem de The Silmarillion [O Silmarillion], de J.R.R.Tolkien (1892-1973), Sauron lamenta o fato de que os sábios, aqueles que poderiam se unir a ele e ajuda-lo em seus intentos, recusam-se a fazê-lo. “Que lástima a fraqueza dos grandes!” ― disse-lhes Sauron, aos elfos de Eregion ― “Pois rei poderoso é Gil-galad [filho de Fingon, e último Rei dos Noldor na Terra-Média], e sábio em todas as tradições o Mestre Elrond [o Meio-elfo, filho e Eärendil, e irmão de Elros, primeiro Rei de Númenor]. Mas, mesmo assim, eles não me querem ajudar em meus esforços. Será possível que não desejem ver outras terras se tornarem tão venturosas quanto a deles?” Presunçoso, tenta se valer de sofismas para aliciar os elfos: “Porque deveria a Terra-média permanecer para sempre desolada, escura, se os elfos poderiam torná-la tão bela quanto Eressëa [a Ilha Solitária, onde viveram os Noldor e os Sindar, depois da Primeira Era]?”

(…) Já que não voltaram para lá [Eressëa] como poderiam, percebo que vocês [os elfos] amam a Terra-Média, como eu amo. Não será então nossa missão trabalhar juntos para aperfeiçoá-la e para elevar todas as estirpes de elfos que perambulam por aqui, incultas, ao apogeu de conhecimento e poder que têm aqueles que estão do outro lado do Mar [em Valinor]?[4]

É interessante observar que essa inquietação de Sauron, essa sua aparente preocupação com o destino da Terra-média ocultava aquilo que, na verdade, era uma revolta contra o Criador na cosmogonia de Tolkien, Ilúvatar. No fundo, era isso que o demovia ― a crença de que poderia reparar a obra do próprio Criador. O ideólogo procede de maneira análoga ― como disse Eric Vogelin, “a ideologia é a existência em rebelião contra Deus e o homem.”[5] Ou como venho sustentando: caracterizada por sua postura intransigente de negação da transcendência, a ideologia termina bloqueando o caminho que permite ao homem agir de acordo com sua consciência, deixando as comportas abertas para justificar todo e qualquer tipo de atrocidade contra seu semelhante. Trata-se, portanto, de uma disposição ― uma forma de agir e de pensar ―, assentada sob uma pretensa verdade que termina por inibir a consciência humana. As consequências disso são inequívocas: se não há a quem prestar contas a não ser o Estado ou àqueles que lideram a revolução, então já não existe mais mecanismos e nem freios para conter os desvios da natureza humana e nem as paixões que incitam o homem ao erro; se a salvação é coletiva, e se ela se dá através da construção de uma sociedade a partir de um ideal pré-estabelecido, então também não há mais espontaneidade no desenvolvimento da cultura e nem margem para o uso dos recursos próprios de cada época. Assim, a ideologia não é apenas nociva, mas também supérflua ― tudo o que necessitamos consta no Evangelho, de modo que não precisamos de uma doutrina política e social para empreender qualquer tipo de transformação da realidade que permita ou promova a superação das adversidades que enfrentamos nesse mundo decaído. Antes, ela deve ser interior, por meio da conversão, para que, naturalmente, e de forma espontânea, nossas atitudes sirvam e sejam capazes de tornar suportável a existência de nossos semelhantes.

Não há a mínima chance de a ideologia prosperar onde o cristianismo não puder ser suplantado, da mesma maneira como também há qualquer possibilidade de os valores cristãos restarem preservados onde os ideólogos tiverem prevalecido. Assim, não há como duvidar que a negação da transcendência contribui sobremaneira para que essa dinâmica se perpetue, tornando o fosso que os separa simplesmente intransponível. Contudo, a incompatibilidade entre o Cristianismo e a ideologia não decorre e nem está atrelada apenas a esse aspecto. Na verdade, isso não passa de uma sequela de sua alienação. Explico: não se pode imaginar que a negação da transcendência seja um fenômeno restrito ou mesmo exclusivo daqueles que integram o conglomerado ideológico, pois é certo que muitos daqueles que obstaculizam e frustram as investidas desse grupo não creem na Revelação. No entanto, isso não serve e nem funciona como uma espécie de salvo-conduto para que migrem e busquem refúgio junto à ideologia, pois a despeito de seu ceticismo ou agnosticismo, compartilham de um valor que é próprio daqueles que reiteradamente se manifestaram contrários ao ideal revolucionário ― a busca da Verdade. Enquanto o ideólogo rejeita sumariamente a Revelação Divina, seus adversários se deixam consumir pelas dúvidas. E é isso o que os diferencia, pois a Verdade só pode ser encontrada quando não há empecilhos ― e a ideologia se comporta como um.

Quando inexiste um apreço autêntico e genuíno pela contemplação da Verdade, não há e nem nunca poderá haver qualquer reflexão sincera a respeito da Revelação Divina ― ela será simplesmente rechaçada para dar lugar à crença de uma salvação coletiva no plano terrestre. Quando inexiste o apreço pela contemplação da Verdade, não há e nem pode haver qualquer possibilidade de acomodação (ou diálogo) com aqueles que não partilham os mesmos anseios, pois a maneira desvirtuada como se enxerga a realidade não deixa margem para uma atitude conciliadora. Desse modo, está claro que a ideologia representa e será sempre um óbice à busca da Verdade. E não devemos nunca perder isso de vista, dado que esse aspecto influi na maneira como se dá a simbiose entre essas forças. A própria posição daqueles que veneram as coisas permanentes[6] é um reflexo não de uma soberba descabida como a que os ideólogos ostentam, mas de sua predisposição para empreender essa busca. E é isso o que os distingue: a busca da Verdade e o temor a Deus ― atitudes que encontrarmos nos personagens do legendário de Tolkien que nos ajudam a compreender a sua reação diante do antigo servo de Melkor. Tal como Gil-galad e Elrond, que em The Silmarillion resistem e recusam às ofertas de Sauron, aqueles que se opõem à ideologia sabem que não podem usurpar o poder do Criador. Tal como Gil-galad e Elrond, aqueles que se opõem à ideologia reconhecem que não podem concorrer com as forças desse mundo e alterá-las. Sabem também que, como escreveu Roger Scruton, “as coisas admiráveis são facilmente destruídas, mas não são facilmente criadas.” E que isso é verdade, sobretudo, “em relação às boas coisas que nos chegam como bens coletivos: paz, liberdade, lei, civilidade, espírito público, a segurança da propriedade e vida familiar, tudo o que depende da colaboração com os demais, visto não termos meios de obtê-las isoladamente.”[7] Esse senso de moderação e prudência é uma virtude que somente aqueles que buscam a Verdade e não se curvam à ideologia podem cultivar. A presunção, pelo contrário, tem levado os ideólogos a tratarem tudo quanto foi construído por gerações sucessivas ao longo dos séculos com desdém e desprezo, o que denota que nunca chegaram a assimilar do poeta a lição: “Não se aprende, Senhor, na fantasia/ Sonhando, imaginando ou estudando/ Senão vendo, tratando, pelejando.”[8] Assim, compreende-se não só a influência negativa e sempre perniciosa que exercem, mas também a mecânica de sua atuação: após o contágio todo o tecido social torna-se esgarçado, amargando os efeitos de sua ação corruptora; sendo estéril, ela é incapaz de confeccionar e fornecer uma alternativa para tudo àquilo que ameaça destruir. Combinados, o resultado não poderia ser outro ― a terra desolada. De fato, isso é tudo o que conseguem: arrastam-nos a todos para os abismos até que estejamos pertos demais da região de Averno para empreender o caminho de volta.

O atrito entre as forças que emergiram no século XVIII com a Revolução Francesa se deu num momento em que o processo de secularização avançava a passos largos. Isso levou Christopher Dawson a pensar que o conflito se dava não entre forças religiosas e antirreligiosas, mas entre aquilo que seriam duas religiões rivais ― de um lado o cristianismo tradicional, e, de outro, a religião secular.[9] São muitas as objeções que poderia levantar a respeito da noção de religião secular para descrever uma das forças que protagonizam esse embate ― prefiro falar em mentalidade revolucionária ou mesmo em disposição revolucionária ―, no entanto, sou obrigado a reconhecê-lo: ele estava certo quando disse que os esforços antes direcionados contra o cristianismo institucionalizado e dogmático agora se voltaram contra o ethos cristão ― contra a moral e o idealismo humanitário que dele decorrem.[10] Nenhuma ideologia (seja ela qual for) se limita a querer eliminar o cristianismo ou seus valores, ela pretende antes substitui-lo.[11] Os apóstolos do progressismo não só negam Revelação Divina, mas acreditam que o homem deve seguir apenas a luz da razão e viver sob o império da ciência ― imaginam que, do ocaso da Civilização que ergueu em torno da fé no Deus de Israel, surgirá um mundo livre, de igualdade ou com o predomínio de uma raça tida como superior. Não é nem a ingenuidade desses devaneios, e nem mesmo sua irracionalidade o que causa perplexidade, mas o fato de os ideólogos persistirem nesse erro mesmo não tendo nada a oferecer em troca a não ser a promessa vazia e a convicção de que esse mundo virá e que ele será melhor. São incapazes de conceber ou mesmo de intuir o que essa sua promessa de progresso trará quando os valores que dão sustento a essa Civilização tiverem sido totalmente pervertidos. De fato, eles não possuem nada que se possa igualar àquilo que o cristianismo nos deu, e sua consciência está corrompida de tal maneira que não lhes é dada a chance de compreender isso. Não lhes ocorre que privar o Ocidente do cristianismo seria o equivalente a condená-lo, pois não haverá nada para substitui-lo a não ser as inúmeras ideologias que tomarão assento e se mostrarão hostis não só a liberdade e a justiça, mas a todo aquele que não está de acordo com sua filosofia. Se o cristianismo sucumbir, a Civilização Ocidental será arrastada com ele para a ruína ― “Não acredito que a cultura da Europa possa sobreviver ao completo desaparecimento da fé cristã,” escreveu T.S.Eliot (1888- 1965). “Se o cristianismo se for, toda nossa cultura irá com ele. E então será preciso começar de novo, dolorosamente, [pois] não se pode vestir uma nova cultura pronta. É preciso esperar que a grama cresça para alimentar as ovelhas que darão a lã de que seu novo casaco será feito.”[12] É isso o que pensavam também homens como o sociólogo Pitirim Sorokin (1889-1968) e o filósofo Nikolai Berdiaev (1874-1948), que tiveram de partir para o exílio por determinação de Lênin, o poeta Robert Graves (1895-1985), Eric Voegelin (1901-1985), Christopher Dawson (1889-1965), Russell Kirk (1918-1994).[13]

Quando sua ação tem por alvo os valores cristãos, a ideologia não se presta tanto a querer quebrar a resistência de seus adversários, mas a esvaziar seus costumes e sua cultura de seu conteúdo cristão ― o que equivaleria fazer o Ocidente perder sua identidade e, por tabela, sua razão para continuar resistindo. Em outras palavras, ao tentar enfraquecer os valores cristãos o que se quer é privar o Ocidente de sua identidade e de sua capacidade de reação. Se os valores cristãos forem deturpados e pervertidos, seus adversários tombarão em suas trincheiras e, com isso, essa cidadela ficará desguarnecida e poderá ser tomada mais facilmente. Como não é possível imaginar que as forças contrárias à ideologia irão simplesmente depor as armas e ceder, o resultado é um estado permanente de tensão entre essas duas forças, no qual esses conglomerados, que reúnem as mais diversas ideologias de um lado, e as correntes políticas do outro, esforçam-se para resistir e repelir as sabotagens um do outro e impor-lhes alguma derrota. Tendo isso em vista, não podemos imaginar que aquilo que conhecemos como Guerra Fria foi um mero desdobramento ou um efeito colateral da guerra de Hitler. Trata-se de um prolongamento ou uma nova etapa do embate entre essas duas forças que remonta ao século XVIII ― entre a mentalidade revolucionária e a disposição antirrevolucionária, ou do cristianismo contra a religião secular, se preferir utilizar os termos da interpretação de Dawson.[14] Muitos têm ignorado isso e tentado inutilmente buscar suas causas nas ações ou mesmo na política externa americana ou soviética ― ou seja, se dedicam a procurar saber quem deu o primeiro tiro, como se isso fosse esclarecer alguma coisa a respeito desse período. Quando não o fazem, procuram qualificá-lo como um mero conflito ideológico ― outro equívoco recorrente. “O rompimento teve razões ideológicas,” escreveu René Rémond. “A Guerra Fria relaciona-se, em parte, com um desacordo doutrinário fundamental entre os Aliados da véspera.”[15] De fato, havia um descordo. Mas o desacordo aqui se devia não a uma mera divergência no campo geopolítico, mas porque de um lado imperava a ideologia e de outro havia princípios. A luta travada no Leste Europeu entre nazistas e soviéticos foi uma guerra ideológica. Nela as forças revolucionárias se digladiaram, dispostas a exterminar uma a outra. Na Guerra Fria, não. Nela as forças concorrentes não tinham a mesma filiação ou partilhavam qualquer pressuposto em comum.

É importante termos claro o que significou esse período e entender que ele é apenas o desdobramento de um fenômeno que remonta ao século XVIII. A tendência a vê-lo como um efeito colateral da vitória sobre a Alemanha de Hitler nos faz perder de vista aquilo que ele realmente representou. É um fato consumado que, sendo uma força em ascensão desde fins do século XIX, os ideólogos conseguiram, no decorrer do século XX, criar e consolidar um estado revolucionário que empalmou uma turba de intelectuais e simpatizantes que se encarregariam de divulgar seu evangelho e conceder-lhe credibilidade ― além de fazer o trabalho de sabotagem no Ocidente ―, mas nada que se compare àquilo que assistimos no pós-guerra. Na segunda metade do século XX eles conseguiram estender sua influência nos mais diversos níveis e se espraiar por instituições, remodelando à sua imagem e semelhança tudo quanto tocassem. “O entusiasmo que arrebatou as instituições de ensino nos anos 1960 foi uma das mais eficazes revoluções intelectuais na história recente, e recebeu um tal apoio daqueles afetados por ele que pode ser comparável a poucas revoluções no mundo da política,”[16] como escreveu Scruton. Naquele momento,

acadêmicos e estudantes enlouqueceram com fantasias de libertação, arremessando para longe suas tradicionais disciplinas e forjando novos laços, novas instituições e novas ortodoxias para além da matéria-prima do conhecimento. Esta foi a era da ‘produção intelectual,’ na qual a identidade do estudante, como membro honorário da classe trabalhadora, foi estabelecida ― precisamente quando a real classe trabalhadora estava desaparecendo da história e sua sobrevivência poderia ser garantida somente nesta forma teatral.[17]

Na Europa e nos Estados Unidos, as universidades foram tomadas por uma geração que seria facilmente cooptada e ludibriada por ideólogos que estavam dentro e fora de seus campi. “Nada é mais marcante do que o entusiasmo com o qual este novo público recebeu os pensadores mais medíocres, tediosos e ignorantes, desde que estes tocassem algum acorde de afinidade radical.”[18] E a mensagem daquilo que Scruton chamou de “nova esquerda” e que eu prefiro chamar de “ideologias do pós-guerra” ― pois, como venho sustentando, podemos reconhecer a ideologia quando estamos diante de uma pretensa verdade capaz de inibir consciência humana e bloquear o caminho que permite ao homem ter uma vida movida por princípios, ao passo que a esquerda é formada por aqueles dissidentes (ou hereges) que se desgarraram do conglomerado ideológico quando renunciaram ao expediente revolucionário ― era simples e, ao mesmo tempo, arrebatadora:

Todo poder no mundo é opressor e todo poder é usurpado. Extirpemos este poder e teremos justiça e libertação juntas. A nova geração não estava disposta a perguntar a questão fundamental: como a justiça social (entendida segundo um paradigma igualitário) pode ser conciliada com a libertação. Desejou somente a garantia da autoridade que validaria seu parricídio, e recebeu tal garantia das encantações elegíacas da esquerda. Os novos pensadores desviaram sua atenção da difícil tarefa de descrever o futuro socialista e focaram na fácil diversão da destruição. Tornaram a fúria respeitável, e o bla-bla-blá a marca do sucesso acadêmico. Com a rápida expansão das universidades e politécnicas, além do recrutamento em massa de professores desta superexplorada e subnutrida geração, o status da Nova Esquerda foi assegurado.[19]

Como isso foi possível? Como os ideólogos conseguiram tamanha influência? No pós-guerra, o grupo que indubitavelmente se saiu fortalecido com a derrota da Alemanha de Hitler fora o dos comunistas de toda a Europa[20] ­― ou para dizer de forma mais precisa, os ideólogos e, na sua esteira, as correntes políticas de esquerda. As forças revolucionárias haviam se digladiado nos campos de batalha do Leste Europeu, e dessa luta, uma delas emergiu combalida, com cerca de 27 milhões de mortos e um território devastado, mas virtualmente fortalecida por ter derrotado um concorrente que subjugara o Continente. Considerando sua associação com a União Soviética, então tida como a grande vencedora da Segunda Guerra, o comunismo começou a aparecer como uma força que não poderia ser nem negligenciada e nem contida no cenário político europeu. Por todo o Continente, seus quadros cresceram exponencialmente e, por isso mesmo sua influência foi sentida não só nos países que acabaram sob seu domínio, mas principalmente no Ocidente, onde sua ação se faria sentir nas décadas seguintes, em especial no decurso da década de 1960.

Embora ninguém possa negar isso, está claro que se contassem apenas com esse prestígio recém-adquirido os ideólogos não teriam ido tão longe. O que explica a sua influência nesse cenário é presença de um indutor. Explico: numa Europa exaurida pelo conflito, a fé na capacidade do Estado acabou se fortalecendo em virtude da experiência recente ― a calamidade humanitária provocada pela guerra ―, pois na ausência de qualquer outra instância reguladora, apenas o Estado se interpunha entre indivíduos e sua sobrevivência. Nesse aspecto, no final da década de 1940, até mesmo os democrata-cristãos alemães e os conservadores britânicos estavam dispostos a aceitar uma efetiva participação do Estado na economia. E não só isso: por todo o Continente, quase todos os partidos ou grupos políticos muniram-se de um discurso que visava criar um Estado de Bem-Estar Social abrangente.[21] Criou-se, assim, uma crença na capacidade ― para não dizer o dever ― do Estado para resolver problemas e mobilizar e orientar pessoas e recursos para finalidades coletivas,[22] sob a qual vivemos ainda hoje. Nessa conjuntura, as organizações políticas ou os grupos em melhores condições de obter vantagens com essa inclinação estatizante eram justamente os partidos comunistas[23] e, claro, seus aliados naturais, os partidos de esquerda. Essa situação proporcionou aos ideólogos uma oportunidade única ― eles ganharam vulto no cenário político e cultural no pós-guerra, pois não só estavam munidos de uma reserva moral proporcionado pela vitória e pela luta contra os nazistas e fascistas, como tiveram a oportunidade, num momento em que se construía um consenso em torno dessa orientação estatizante, de atuar nas instituições que foram sendo criadas a partir de então e, com isso, irradiar sua influência ― e aqui podemos pensar nos casos de Julian Huxley, irmão do autor de Admirável Mundo Novo, e o primeiro Presidente da UNESCO, Jean-Paul Sartre, editor da Le Temps Modernes, a revista mais influente na França do pós-guerra, aqueles intelectuais e pensadores da Escola de Frankfurt, como Marcuse ou Adorno, que atuaram em Universidades americanas, para citarmos apenas alguns.

A essa oportunidade, o que se seguiu foi uma escalada meteórica em direção à hegemonia cultural e política no Ocidente. Se hoje vivemos acossados e assediados pelas mais diversas ideologias ― globalismo, igualitarismo, secularismo, relativismo, marxismo ―, isso se deve não somente a essa oportunidade que se lhes apresentou quando uma das forças concorrendo no campo ideológico fora eliminada, mas ao fato de que realmente nós não soubemos neutralizar seu laxismo e nem mesmo conseguimos nos contrapor a seus esforços (contínuos e insanos) de tutelar a sociedade ― como é o caso da União Europeia, um experimento em estado avançando, que é analisado pelo embaixador americano e hoje professor do Calvin College, Todd Huizinga em seu livro.[24] Pensando nisso, nessas faltas, teci, nas linhas que se seguem, algumas parcas considerações a respeito. Não tenho a pretensão, aqui, de reintroduzir o leitor a temas ou discussões que outros autores já fizeram a respeito dessas ideologias ou de figuras que atuaram e que ajudaram a erigir esse estado de coisas ― Adorno, Marcuse, Sartre, Foucault, Althusser ―, e nem cansá-lo com uma análise histórica pormenorizada desse processo. Longe disso. Esforcei-me para tentar aclarar algumas questões relativas ao caráter assimétrico que o debate político acabou assumindo e, humildemente, dar meu contributo às discussões que tem se dado em nosso meio elaborando e expondo algumas considerações a respeito daquilo que entendo ser necessário não para criarmos um antídoto, visto que isso significaria combater a ideologia com outra ideologia (criada exclusivamente para esse fim), mas oferecer uma perspectiva a todo aquele que, como eu, descobriu que cair na tentação de adorar ao bezerro de ouro da Modernidade é a via mais rápida para a perdição.

 

Hegemonia cultural dos ideólogos no pós-guerra:

A Grande Guerra (1914-1918), a guerra que deveria acabar com todas as guerras, não conseguiu impedir a repetição da violência ― logo viria o Armagedom. A guerra que pretendia dar uma sobrevida aos resquícios do Ancién Régime fê-los simplesmente desaparecer da Europa Continental ― a Europa que até então era predominantemente agrária, nobiliárquica, monárquica, deixou de sê-lo.[25] Em seu lugar, um verdadeiro cinturão de democracias equipadas com constituições redigidas em conformidade com os mais modernos princípios liberais, que se estendia do Mar Báltico aos Bálcãs, passando pela Alemanha e a Polônia,[26] surgiu. Muitas dessas constituições refletiam o estado apreensivo e as diversas preocupações que se colocaram ao fim do conflito. De um lado procuraram encarnar o liberalismo clássico do século XIX, e de outro procuraram estender as reivindicações populares de então. É certo que esse arranjo era uma tentativa de conciliar o parlamentarismo antiquado com as pressões contemporâneas de uma sociedade de massas moderna que emergia da devastação provocada pela guerra.[27] Contudo, isso não só se revelou insuficiente como não foi capaz de aplacar os problemas que, aos poucos, foram se acumulando. A fraqueza e a paralisia experimentada pela democracia no intervalo entre as duas guerras mundiais decorreu da desconfiança que se estabeleceu sobre as possibilidades desse sistema em fazer as reformas que quase todos consideravam necessárias. Ou para dizer de outra forma: o fato de o poder se concentrar num Legislativo extremamente fragmentado, que deixava incrédulos todos os que ansiavam por mudanças. O desejo de uma democracia aberta e moderna levou a adoção de uma representação proporcional para formar um Legislativo que expressasse da forma mais precisa possível às vontades populares.[28] No entanto, o que tinha de atrativa, essa ideia se revelou desastrosa, pois, com o tempo, a sensação de fragmentação acabou inviabilizando a manutenção da democracia nesses termos.

Nessa conjuntura, muitos partidos políticos começaram a ser acusados ― na maioria das vezes pelos fascistas, que despontaram como força política no decorrer da década de 1920 ― de atuarem como intermediários entre interesses seccionais quando deveriam representar interesses nacionais. De todo, essa fragmentação, bem como essa proliferação de partidos e de ideias, acabou aumentando ainda mais a desconfiança para com a democracia, intensificando a tensões latentes. Havia partidos de camponeses; o socialdemocrata e o comunista para o operariado; havia até um Partido da Classe Média, dos Artesãos e Comerciantes na Tchecoslováquia. Organizavam partidos por etnias e por classes.[29] Nesse aspecto, o Parlamento parecia mais uma lente de aumento das tensões sociais, nacionais e econômicas do que qualquer outra coisa. Em boa medida, isso favorecia os fascistas, que viram suas críticas parecerem justificadas, e puderam, assim, explorar essa situação com seu discurso nacionalista e de união.

Tudo isso criou a sensação de que se tinha chegado a um impasse. E de fato tinha. Com parlamentos como esses, que expressavam ânimos acirrados, acordos em épocas difíceis, como a partir de 1929, ficavam mais difíceis. A própria recusa, ou o desconforto demonstrado por algumas forças políticas para se alinharem a outras também dificultava ― em alguns lugares os comunistas se recusavam a se alinhar aos socialdemocratas, em outros, os conservadores demonstravam desconforto em se alinhar a esquerda para fazer frente aos ideólogos. Assim, experimentando essa paralisia e tendo que enfrentar essa torrente de dificuldades, a democracia não parecia defensável em boa parte da Europa. Não é atoa que, com o tempo, seus defensores simplesmente se escassearam.

Não bastassem os problemas domésticos, havia também a ameaça externa representada pelo regime soviético, que emergiu dos escombros do Império Russo, e que se consolidou no final da década de 1920. É impossível pensar o avanço dos ideólogos no Ocidente sem termos em mente aquilo que ocorria no interior do bloco soviético ― ou para colocar isso de outra forma: sem pensar na ameaça que os ideólogos que erigiam um estado revolucionário no lugar do antigo Império dos Czares representavam. A consolidação do regime de Stalin contribuiu sobremaneira não só para alarmar reacionários e conservadores por todo o continente, que reagiram a isso tentando bloquear a tentativa de uma revolução em seus países, mas deu a fascistas e nazistas a oportunidade para mobilizarem o anticomunismo a seu favor[30] e, assim, se contraporem a seus adversários políticos e ideológicos com a energia que lhes era característica.

E aqui chegamos ao ponto que gostaria de frisar: em meados da década de 1930 havia, na Europa, três estados ideológicos ― o fascista, o nazista e o soviético. Desses, o mais vigoroso, e aquele que representava uma verdadeira ameaça para o Ocidente era a Alemanha nazista ― era ela que reunia as condições para dominar a Europa e, com isso, destruir a Civilização Ocidental. “A Europa se defrontada com um programa de agressão, calculado e determinado no tempo, que vem se desvelando estágio por estágio,” disse Winston Churchill num discurso na Câmara dos Comuns, em março de 1938, após a Alemanha anexar a Áustria. “Vocês verão, dia após dia, semana após semana, a total alienação daquelas regiões,” disse o futuro Primeiro-Ministro britânico meses depois, após o infame Acordo de Munique ter sido selado. “Muitos daqueles países, por medo do crescimento do poder nazista, já têm políticos, ministros e governos que são pró-germânicos (…).” Ao que acrescentou: “De fato, parece-me que todos aqueles países da Europa, todos aqueles países do Danúbio irão, um depois do outro, ser puxados para este vasto sistema de poder ― não só por força de uma política de [cunho] militar, mas também de poder econômico que irradia de Berlim, e acredito que isso pode ser conseguido de maneira bem rápida e não irá, necessariamente, exigir sequer um tiro…”[31]

As ambições de Hitler acabaram arrastando o Reich para uma guerra destinada a impor a hegemonia alemã sobre o continente. Nesse sentido, o confronto que visava torná-la uma realidade representou um ponto de inflexão no desenvolvimento político e cultural do mundo ocidental, pois ele acabou se revelando útil e servindo aos propósitos de outro estado ideológico que também possuía condições e capacidade para avançar sobre a Europa caso tivesse a oportunidade de fazê-lo ― a União Soviética. Stalin não via o Exército Vermelho apenas como um instrumento de defesa, mas como uma arma para promover a Revolução em escala mundial.[32] O próprio Molotov, em conversa com o Ministro das Relações Exteriores da Lituânia, explicou toda a estratégia (exposta e defendida por Stalin em diversas ocasiões) de usar a guerra para promover a revolução mundial. Disse que a União Soviética supriria a assistência material à Alemanha depois que ela estivesse em guerra com as potências ocidentais a fim de evitar que ela aceitasse qualquer proposta de paz. Com isso, os soviéticos esperavam que a guerra, ao se alastrar ou se prolongar, levasse as “massas famintas das nações em luta” a se sublevarem. Diante desse quadro, a União Soviética teria a oportunidade de avançar sobre a Europa Ocidental e ocupá-la.[33]

No decorrer da década de 1920, Alemanha e União Soviética não só estabeleceram contato, como se esforçaram para manter algum grau de colaboração em áreas de interesse comum. Naqueles anos, os dois Estados tinham acordos e vinham estabelecendo uma estreita colaboração no âmbito econômico e militar ― Yuri Dyakov e Tatyana Bushuyeva sustentam que, “por 11 anos (1922-1933), escondido do resto do mundo, o exército alemão foi preparado para se reerguer. Em boa medida, foi aqui na Rússia que as fundações da futura ofensiva armada das forças alemãs foram criadas.”[34] Tendo iniciado em 1921, as negociações chegaram a um estágio mais avançado no ano seguinte quando um acordo de cooperação foi assinado entre o Exército Vermelho e o Reichswehr.[35] E essa cooperação militar se deu de várias formas, e em muitos níveis: eles iriam compartilhar conhecimentos e métodos de treinamento enviando pessoal de comando para participar de manobras, exercícios de campo e cursos acadêmicos; ela envolvia também experimentos com armas químicas e a criação e a organizações de escolas de tanques e de aviação. A cooperação entre o RKKA e o Reichswehr se deu no interior de três centros criados e estabelecidos em solo soviético ― Lipetsk, Kama e Tomka ―, onde muitos oficiais foram treinados.[36] O resultado disso não poderia ser outro: uma Alemanha preparada para a guerra. Ninguém “cria uma poderosa força aérea e poderosos tanques de guerra ‘do nada’ durante seis anos ― de 1933 a 1939 ―, nem mesmo um gênio no campo militar,”[37] como lembraram os autores. Desse modo, fora a combinação desses fatores ― um exército alemão treinado e armado, e um país munido e inebriado por uma ideologia ― que provocou o caos que engoliu a Europa.

Mesmo estremecida após a chegada de Hitler ao poder, os esforços para manter esse estado de colaboração foram contínuos, e o Pacto de Não-Agressão veio sepultar as dificuldades divisadas nos anos anteriores. Esse pacto, que serviu muito bem a Hitler e Stálin, como frisou John Lukacs, foi seguido por uma série de acordos econômicos, o que permitiu que as necessidades materiais do Reich em guerra fossem supridas. E aqui, as demonstrações de lealdade de Stálin à Alemanha não tinha nada de fingimento ― ele realmente honrou o compromisso. Essa demonstração de lealdade por vezes era “assídua e explícita a ponto de às vezes ser fervorosa e pusilânime.” Seu séquito não agiu de modo diferente ― o próprio comissário das Relações Exteriores, Molotov, congratulou os alemães pela conquista da Dinamarca e Noruega. Em 18 de junho, congratulou-os pelo “esplêndido sucesso” da conquista da França. “Stálin queria que Hitler soubesse que a União Soviética era amiga da Alemanha.” Ele admirava a Alemanha bem mais do que a Inglaterra, e Hitler acabara desenvolvendo também uma espécie de respeito por Stálin, respeito esse que expressaria confidencialmente no decorrer da guerra.[38] E é bom não nos esqueceremos de que, por breves momentos, tanto Hitler quanto Stalin chegaram a pensar no que poderia ter sido se tivessem colaborado mais um com o outro. Diz-se que Stalin teria afirmado que “junto dos alemães teríamos sido invencíveis.” Em fevereiro de 1945 Hitler sugeriu que, dentro de certos limites, ele e Stalin “poderiam ter criado uma situação em que fosse possível um entendimento duradouro.”[39] Isso acabou não acontecendo por força dos imperativos de suas ideologias. Ou para dizer de outra forma: para que a sua Revolução triunfasse, o estado do outro deveria perecer. Ou ainda: para que a sua Revolução triunfasse, a do adversário deveria ser abortada.

Assim, para chegar ao estado em que as coisas se encontram, com os ideólogos tendo alcançado a hegemonia cultural, foram necessários à combinação desses fatores: de um lado a ação corruptora da ideologia, que lançou a Europa numa guerra autodestrutiva, e de outro o efeito reverso e involuntário da aliança das potências ocidentais com uma das forças revolucionárias ― o caminho para os ideólogos ficou livre quando, com a ajuda do Ocidente, seu principal oponente fora derrotado. Fortune rota volvitur: descendo minoratus; alter in altum tollitur.[40]

Nesse aspecto, muito do que foi escrito a respeito das consequências da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos ter a União Soviética como aliada, da atitude “esquizofrênica,” como diria um historiador,[41] de Churchill com relação a Stalin, possui fundamentação. Aos olhos de muitos críticos, a conduta do Primeiro-Ministro britânico parecia irrefletida e até mesmo cínica ― ele, que se opôs com veemência à política de apaziguamento com relação à Alemanha de Hitler, esforçou-se para aplacar as diferenças com Stalin. Se nunca tivera ilusões com relação ao Führer, acalentou e exprimiu estimas por Stalin em público e em privado[42] ― em carta a sua mulher, de 13 de outubro de 1944, Churchill escreveu: “As conversações com o velho urso tem sido ótimas. Cada vez que o vejo gosto mais dele. Agora eles nos respeitam e tenho certeza que querem colaborar conosco.”[43] Num brinde, durante a Conferência de Teerã, como lembra Charles Bohlen, Churchill referiu-se ao líder soviético como “Stalin, o Grande.”[44] George Kennan estava particularmente preocupado com a atitude de Churchill com relação a Stalin, e isso ainda em 1941, o que o levou a escrever a um amigo do Departamento de Estado, logo após o ataque alemão à União Soviética: “Estou plenamente convencido de que nada devemos fazer em nosso país que dê a impressão de que estamos seguindo o curso que Churchill parece seguir, ou seja, o de ampliar o apoio moral à causa russa no atual conflito germano-soviético.”[45]

Tudo isso é verdade ― essas declarações foram feitas, essas preocupações expressas. No entanto, convém examinarmos essa questão tendo em mente não só as opiniões e as atitudes protocolares de Churchill (como em Teerã, a respeito de Stalin), mas um quadro mais amplo que possa incluir a realidade a sua volta. Diferente de Roosevelt, Churchill tinha uma visão mais acurada a respeito do regime soviético e do comunismo. Ainda no governo Lloyd George, fora a voz mais estridente em favor de uma ação efetiva para ajudar o Exército Branco contra as forças de Trotsky. Num discurso em abril de 1919, disse: “De todas as tiranias da história, a tirania bolchevique é a pior, a mais destruidora, a mais degradante. (…) As atrocidades cometidas por Lenin e Trotsky são incomparavelmente mais odiosas e mais numerosas do que qualquer coisa feita pelo Kaiser.”[46] No entanto, com o tempo, o modo como ele passou a encarar Stalin se tornou totalmente distinto do modo como via e encarava o regime soviético. Além disso, ainda durante a guerra, ele começou a ver a Rússia, e seu líder, como uma realidade nacional e não ideológica.[47] Um erro que, como frisou Bohlen, Roosevelt também cometera. Um erro que, como seus críticos apontaram, custaria caro para o Ocidente. A este respeito, um deles escreveu: “Churchill deveria saber que qualquer vitória da aliança com Stalin traria o comunismo para o coração da Europa, substituindo a tirania nazista pela opressão bolchevique. Valeu a pena levar o país a bancarrota e sangrá-lo, assim como arruinar o Império, para isso?”[48] Inflexível, Buchannan parece não ter dúvidas quanto àquilo que representou a aliança selada por Churchill entre as potências ocidentais e a União Soviética: “A destruição da Alemanha, à qual Churchill se dedicara, deixou um vácuo de poder na Europa que Stalin inevitavelmente [acabou] preenchendo. A Inglaterra lutou contra a tirania nazista durante seis anos, somente a fim de pavimentar o caminho para uma tirania ainda maior.”[49]

John Lukacs respondeu a essas acusações rastreando o raciocínio que Churchill teria feito: naquela conjuntura, ou toda a Europa seria dominada pela Alemanha (um dado que Buchannan e outros autores parecem ignorar), ou ― na pior das hipóteses ― a metade leste do Continente passaria para a esfera e o domínio da Rússia; e, como lhe pareceu, manter metade da Europa era melhor que nada.[50] Tirando o fato de que esse argumento demonstra um certo desdém com relação às milhares de pessoas que ficariam sob jugo soviético ― em uma biografia recente, Richard Holmes sugeriu que Churchill parecia não “ter qualquer objeção a jogar outros povos aos lobos, se isso realmente ajudasse o trenó inglês a chegar são e salvo”[51] ―, existe um fator que Churchill considerou à época que não pode ser negligenciado: haveria possibilidade de defrontar e arrostar o poder de uma dessas potências depois que elas tivessem consumado sua hegemonia sobre a Europa? Dificilmente. Sabemos que o poderio miliar e econômico alemão eram superiores aos da União Soviética. Sabemos também como lembrou Lukacs, que foram necessários à combinação das forças da Grã-Bretanha, Estados Unidos e da União Soviética para derrotar a Alemanha de Hitler. Nenhum deles ― nem mesmo a aliança entre duas dessas potências, nem mesmo todo o peso material do Império Britânico e da economia americana ― poderia realizar isso.[52] Assim, como frisou Lukacs, “Churchill compreendeu algo que muitas pessoas hoje ainda não entenderam. A grande ameaça a Civilização Ocidental não era o comunismo. Era o nacional-socialismo. A grande força do mundo, a mais dinâmica, não era a Rússia soviética. Era o Terceiro Reich alemão. O maior revolucionário do século XX não foi Lênin e nem Stalin. Foi Hitler.”[53] É verdade também, e não podemos nos esquecer disso, que Stalin enfrentaria uma série de dificuldades para consolidar seu domínio sobre o Leste Europeu ― algo que Churchill previra numa conversa com de Gaulle, ainda em 1944, e que viveria para testemunhar ―, no entanto, tudo isso se tornaria um detalhe irrelevante quando a União Soviética anunciou possuir armas atômicas e passou a contar com apoio maciço e a simpatia da intelectualidade europeia no pós-guerra. Evidentemente, Churchill não tinha como prever esses reveses ― e muitos de seus críticos se esquecem disso ―, mas nos idos de 1941 e 1942, era perfeitamente razoável atrair o líder soviético para uma aliança com as potências Ocidentais para deter Hitler.

O problema (ou o dilema) enfrentado pelo Ocidente é que a vitória sobre uma força revolucionária fatalmente deixaria a outra virtualmente fortalecida. De muitas maneiras, ela criou as condições para que os ideólogos, herdeiros do estado erigido por Lênin, tivessem a oportunidade de fazer uma revolução cultural sem precedentes no Ocidente. Christopher Dawson advertia no decorrer do conflito contra a Alemanha nazista para o risco de que, mesmo a vitória, poderia encerrar os germes da desolação futura:

Temos de combater, pelas armas, a agressão do inimigo externo e, ao mesmo tempo, resistir ao inimigo interno ― o crescimento em nossa sociedade do poder do mal com o qual lutamos. E essa segunda guerra é a mais perigosa das duas, já que pode ser perdida pela vitória, bem como pela derrota.[54]

A apatia do Ocidente me faz lembrar um poema do poeta alexandrino Konstantino Kavafis (1863-1933), cuja obra foi promovida por seu amigo, o escritor inglês E.M.Forster (1879-1970), autor de Howards End [Retorno a Howards End] e A Passage to India [Uma Passagem para a Índia].

 

― Que esperamos, reunidos na ágora?

É que hoje os bárbaros chegam.

― Por que tanta abulia no Senado?

Por que assentam os Senadores? Por que não ditam as normas?

Porque os bárbaros chegam hoje.

Que normas vão editar os Senadores?

Quando chegarem, os bárbaros ditarão as normas.

― Por que o Autocrátor levantou-se tão cedo

e está sentado frente à Porta Nobre da cidade

posto em seu trono, portando insígnias e coroa?

Porque os bárbaros chegam hoje.

E o Autocrátor espera receber

o seu chefe. Mais do que isto, predispôs

para ele o dom de um pergaminho. Ali

fez inscrever profusos títulos e nomes sonoros.

(…)

Por que de repente essa angústia,

esse atropelo? (Todos os rostos de súbito sérios!)

Por que rápidas se esvaziam ruas e praças

e os antes reunidos retornam atônitos às casas?

Porque a noite chegou e os bárbaros não vieram.

E pessoas recém-vindas da zona fronteiriça

Murmuraram que não há mais bárbaros.

E nós, como vamos passar sem os bárbaros?

Essa gente não rimava conosco, mas já era uma solução.[55]

 

Os bárbaros vieram. Uma primeira onda foi contida, mas o segundo assalto foi impossível deter ― e hoje, mais do que nunca, a Europa anseia pela chegada dos bárbaros. Ainda que muitos líderes ocidentais e os Estados Unidos tenham se esforçado para impedir que os ideólogos lograssem êxito em seus intentos no decurso da Guerra Fria, o caminho para sua ação nunca fora totalmente bloqueado. Aliás, dificilmente seria no mundo das democracias Ocidentais com sua tolerância e seu apreço pela liberdade de expressão ― a situação da França, da Alemanha e dos países escandinavos hoje evidenciam isso. Como lidar ou mesmo impedir as atividades de ideólogos acampados em instituições de onde difundiam suas doutrinas, que eram depois assimiladas e propaladas por seus discípulos na sociedade? A guerra nem havia terminado (na verdade, caminhava para fim) quando, em 1944, Friedrich Hayek denunciou em seu The Road of Serfdom [O Caminho da Servidão], os anseios totalitários de alguns setores da intelectualidade inglesa. “Como sucedeu na Alemanha, a maioria das obras que estão preparando o caminho para a adoção de processos totalitários neste país são produto de idealistas sinceros e muitas vezes de homens de considerável força intelectual.”[56] Contando com a indolência (para não dizer a impotência) das democracias ocidentais que pareciam incapazes de lidar com aqueles que lhe eram fracamente hostis, os ideólogos procuraram por em prática sua revolução pacífica ― conforme concebida por Antonio Gramsci.[57] E são muitas as razões pelas quais, a essa altura, os ideólogos poderiam dispensar e até mesmo desconsiderar a ideia de fazer uma revolução violenta ou tomar de assalto um estado e impor tudo de cima para baixo. Eles perceberam que poderiam criar algo muito mais duradouro do que um estado revolucionário ― foi assim que a ditadura do proletariado deu lugar àquilo que o então Cardeal Ratzinger, em 2005, chamou de ditadura do relativismo.

Quantos ventos de doutrina conhecemos nestes últimos decênios, quantas correntes ideológicas, quantas modas do pensamento… A pequena barca do pensamento de muitos cristãos foi muitas vezes agitada por ecstas ondas lançada de um extremo ao outro: do marxismo ao liberalismo, até à libertinagem, ao coletivismo radical; do ateísmo a um vago misticismo religioso; do agnosticismo ao sincretismo e por aí adiante. Cada dia surgem novas seitas e realiza-se quanto diz São Paulo acerca do engano dos homens, da astúcia que tende a levar ao erro (cf. Ef 4, 14). Ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, muitas vezes é classificado como fundamentalismo. Enquanto o relativismo, isto é, deixar-se levar “aqui e além por qualquer vento de doutrina,” aparece como a única atitude à altura dos tempos hodiernos. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e as suas vontades.[58]

Embora houvesse, à época, intelectuais e pensadores da envergadura de um Sir Isaiah Berlin (1909-1997), Raymond Aron (1905-1983), Russell Kirk (1918-1994), Robert Conquest (1917-2015), políticos como Winston Churchill (1875-1965) e Dwight Eisenhower (1890-1969), ou mesmo dissidentes como Alexander Soljenitsin (1918-2008) para fazer frente a essa turba de ideólogos, nada parecia ser capaz de deter seu avanço e de suas ideias.

É como se eles fossem instrumentos do Espírito como concebido por Hegel ― os agentes da transformação que deveria ser realizada naquele momento. Nesse aspecto, não foi por falta de quadros para responder as investidas dos ideólogos do pós-guerra que chegamos a essa situação com a qual nos defrontamos hoje. É certo que essa fortaleza nunca esteve desguarnecida, no entanto, não se pode negar que sua resistência está combalida e que em seu interior uma postura derrotista parece ter se disseminado ― é o que o que o Cardeal Müller dá a entender numa entrevista que concedeu recentemente, por exemplo. Tendo em vista que houve uma falha operacional, seria interessante esforçarmo-nos para tentar aclarar aquilo que acabou resultando inócuo nesse enfrentamento nas últimas décadas e que permitiu aos ideólogos avançarem em seus propósitos de minar as bases de nossa Civilização. Esse esforço não é somente necessário como pode se mostrar decisivo para que tenhamos a chance de recobrar nossas forças, evitando, com isso, cair no desalento e na desesperança que a falta de perspectiva, nessas circunstâncias, pode provocar.

A principal dificuldade para enfrentar a ideologia, no passado como no presente, decorre de um dado que nunca pode ser negligenciado: há um abismo que separa as forças que concorrem e que estão envolvidas nesse embate desde o século XVIII. O Primeiro-Ministro polonês durante a Segunda Guerra, Stanislaw Mikolajczyk (1901-1966), em suas memórias, narra um episódio que sintetiza isso muito bem: durante a guerra, numa entrevista com Stalin, que teve lugar após uma intensa discussão com Churchill a respeito da definição da fronteira polonesa, Mikolajczk perguntou ao líder soviético se ele pretendia fazer da Polônia um estado comunista. “E lhe recordei,” escreveu, “que eu não era, e nem nunca seria, comunista, e que sempre seria adversário de suas doutrinas.” Ignorando a provocação, Stalin tentou tranquilizá-lo: “O comunismo não foi feito para os poloneses. São demasiado individualistas, demasiado nacionalistas. A futura economia da Polônia deve permanecer baseada na propriedade privada. [A] Polônia será um estado capitalista.” Mikolajczk continuou testando o líder soviético: “‘Darias ordens para que o Partido Comunista Polonês não tente chegar ao poder por meio de uma revolução, depois da guerra?’ ― perguntei. ‘Acaso os partidos não comunistas poderão atuar sem serem taxados de ‘fascistas’ ou ‘reacionários’?” Stalin parecia determinado a não perder a oportunidade para passar a impressão de que podia ser um homem cordato: “Darei essa ordem,” disse. “A Polônia não será molestada por lutas fratricidas.” Mas não pôde deixar de acrescentar logo em seguida: “No entanto, existem algumas pessoas ― tanto de esquerda quanto de direita ― que não podemos admitir na política polonesa.” Mikolajczyk reagiu a isso dizendo que numa democracia não era possível ditar quem poderia e quem não poderia participar da política. Mas isso parece que foi demais para o líder soviético, que nem se dignou em responder. “Stalin [simplesmente] olhou para mim como se eu fosse um lunático e deu por encerrada a audiência,”[59] escreveu Mikolajczyk.

Nem o Primeiro-Ministro polonês era um lunático, e nem a reação de Stalin chega a surpreender a qualquer um que conheça a natureza da mentalidade revolucionária. E isso por uma única razão: não havia, entre eles, um pressuposto em comum. O ideólogo, acometido pela nosos, a “doença do espírito” de que nos fala Ésquilo (525-455 a.C.) e Platão (427-347 a.C.), como lembra Eric Voegelin (1901-1985),[60] é incapaz de cortejar a Verdade ― o que, por si só, inviabiliza qualquer colóquio, como sugere a dialética platônica.[61] Enquanto, de um lado a consciência é anestesiada, suscitando uma postura refratária em relação à tragédia e o esplendor da vida, criando, assim, uma ilusão de que é possível construir um mundo perfeito, como escreveu Russell Kirk,[62] do outro se observa um pendor todo particular em considerar a “prolífera variedade e mistério da existência humana, como algo oposto à uniformidade limitada, ao igualitarismo e aos propósitos utilitários dos sistemas mais radicais.”[63] Portanto, não podemos negligenciar esse dado ― há um abismo que nos separa desses homens ocos, para usar a expressão de T.S.Eliot. Se não há um pressuposto em comum, consequentemente não haverá diálogo. Assim, o que precisamos fazer é isolá-los e blindar a sociedade contra seus apelos, o que só pode ser feito por um movimento Conservador convertido em uma força expressiva na cultura nacional. E aqui vem o ponto que gostaria de reforçar: não existirá movimento Conservador que resista desguarnecido de um caldo cultural e por valores cristãos fortemente enraizados. Não existirá movimento Conservador onde não houver pessoas dispostas a defender o cristianismo e a Igreja. Se quisermos neutralizar a ideologia em nosso meio, precisamos, antes, termos claro para nós mesmos os sacrifícios que estamos dispostos a fazer ― pois, se o que se quer é defender os valores cristãos, a Igreja, a Tradição, a Família, tudo isso exigirá um calvário para cada um dos envolvidos nesses intentos. Enquanto as forças mais conservadoras em nossa sociedade e na Igreja estiverem dispersas, enquanto não resgatarmos elementos formadores de nossa cultura ibérica, enquanto não estivermos visivelmente articulados, estaremos à mercê de uma classe política ludibriada por uma visão estatista da década de 1930, 1940 e 1950 e dos ideólogos que tomaram a imprensa e as universidades. Esse é um ciclo vicioso que precisa ser interrompido ― nem nós podemos continuar desfeitos e dispersos como estamos e nem eles devem continuar desfrutando a influência que possuem. Como eles são guiados por sua libido dominandi, então somos nós que temos que agir.

O embate entre as forças revolucionárias e antirrevolucionárias ― que remonta ao século XVIII ― continua ainda hoje, mas ganhou outra feição. As forças antirrevolucionárias estão dispersas na sociedade enquanto que os ideólogos controlam instituições nacionais e supranacionais. As forças antirrevolucionárias foram totalmente alijadas e perderam terreno nas instituições que compõem a sociedade, de modo que seu esforço de guerra tem se dado de forma desordenada e irrefletida. Se no decurso da Guerra Fria havia um estado revolucionário identificável de onde emanavam as ordens e as principais diretrizes que depois seus lacaios, em diversas partes do mundo, seguiam, hoje enfrentamos algo quase etéreo. Os homens ocos de nossos dias estão articulados, mas não estão concentrados e nem gravitam em torno de um Estado revolucionário. A ameaça totalitária, ao menos no Ocidente, não é evidente de imediato, mas o estamento burocrático (para usar um termo de Raymundo Faoro) se impõe de tal maneira que não falta muito para que ele acabe tragando as liberdades individuais e de espírito que restam.[64] Não tenho dúvida de que o Globalismo é a maior ameaça que enfrentamos hoje ― uma hidra com muitas cabeças, de modo que não seria absurdo dizer que todas as outras ideologias que infestam nossas vidas podem ser consideradas meros apetrechos em sua engrenagem.[65] E a despeito da correlação de forças ser monstruosamente desproporcional, nossa missão não é impossível ― Etiam periere ruinae.[66] Em que pese os parcos recursos de que dispomos, devemos perseverar, pois “caso permaneçamos presunçosos e apáticos neste mundo decaído, deixando deteriorar as obras da razão e da imaginação, chegaremos a conhecer a servidão do corpo e da alma,”[67] como escreveu Kirk.

Se a crise é espiritual, como sustentava Dawson, a solução precisa ser igualmente espiritual. E creio nisso ― “se a terra,” como escreveu Russell Kirk, “se torna uma desolação árida quando as águas da fé secam, então tais águas devem ter sido a fonte da vida pessoal e da comunidade [no passado].”[68] Nesse sentido, creio que a solução começa com os sacrifícios pessoais que estamos dispostos a fazer para salvar e redimir os valores cristãos. Resgatar a noção de sacrifício é importante numa época como a nossa ― o ideólogo é incapaz de compreender a noção de sacrifício e doação, e essa é uma das muitas vantagens que temos sobre eles. Num mundo hedonista e radicalmente individualista como esse que vivemos resgatar a noção de sacrifício é urgente. É urgente pensarmos nos sacrifícios que estamos dispostos a fazer pela nossa família, nosso país, nossa Fé. Pois sem sacrifício pessoal ― e vale dizer, sem penitências ―, nunca venceremos a Hidra Ideológica. As palavras de Horácio deveriam figurar em nossos escudos:

Justum et tenacem propositi virum

Non civium ardor prava jubentium,

Non vultus instantis tyranni

Mente quati solida; neque Auster

Dux inquieti turbidus Adrie,

Nec fulminatis magna Jovis manus:

Si fractus illabatur orbis,

Impavidum ferient ruinae.[69]

 

Referências:

[1] KIRK, Russell. A Política da Prudência. São Paulo: É Realizações, 2014, p.336.

[2] CAMÕES, Luiz Vaz de. Lírica de Camões. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 1932, p.319.

[3] A expressão de Edmund Burke foi também muito utilizada por Russell Kirk.

[4] TOLKIEN, J.R.R. O Silmarillion. São Paulo: Martins Fontes, 2017, p.366.

[5] VOEGELIN, Eric. Ordem e História: Israel e a Revelação. Vol. I. São Paulo: Loyola, 2009, p. 32.

[6] Expressão de T.S.Eliot.

[7] SCRUTON, Roger. Como ser um conservador. Rio de Janeiro: Record, 2015, p.9.

[8] CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. Porto: Porto Editora, 2003, p. 355.

[9] DAWSON, Christopher. O Julgamento das Nações. São Paulo: É Realizações, 2018, p.89.

[10] Ibidem, p.92.

[11] É interessante observar que a reação mais enérgica ao Governo Goulart partiu da Igreja Católica e daqueles setores mais conservadores, preocupados com o risco de ver instaurado um regime socialista no Brasil. Há muito a Igreja percebeu a incompatibilidade do cristianismo com os anseios dos ideólogos.

[12] A tradução dessa passagem da edição americana foi feita tendo como base a edição brasileira mais recente. ELIOT, T.S..Christianity and Culture. N.York: Harvest Book, 1960, p.200; ELIOT, T.S. Notas para a definição de Cultura. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 138-139.

[13] KIRK, Russell. A Política da Prudência. São Paulo: É Realizações, 2014, p.208.

[14] DAWSON, Christopher. O Julgamento das Nações. São Paulo: É Realizações, 2018, p.89.

[15] RÉMOND, René. O Século XX: De 1914 aos nossos dias. São Paulo: Cultrix, 1993, p.143.

[16] SCRUTON, Roger. Pensadores da Nova Esquerda. São Paulo: É Realizações, 2014, p.135.

[17] Ibidem, p.135.

[18] SCRUTON, Roger. Pensadores da Nova Esquerda. São Paulo: É Realizações, 2014, p.22.

[19] SCRUTON, Roger. Pensadores da Nova Esquerda. São Paulo: É Realizações, 2014, p. 23.

[20] LOWE, Keith. Continente Selvagem: O caos da Europa depois da Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2017, 85.

[21] APPLEBAUM, Anne. Cortina de Ferro: o esfacelamento do Leste Europeu. São Paulo: Três Estrelas, 2016, p. 266. JUDT, Tony. Pós-guerra: História da Europa após 1945. Lisboa: Edições 70, 2008, p.101.

[22] JUDT, Tony. Pós-guerra: História da Europa após 1945. Lisboa: Edições 70, 2008, p.95 e 101.

[23] LOWE, Keith. Continente Selvagem: O caos da Europa depois da Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2017, p.314.

[24] HUIZINGA, Todd. The New Totalitarian Temptation: Global govervance and the crisis of Democracy in Europe. New York: Encounter Books, 2016.

[25] MAYER, Arno. A Força da Tradição: a persistência do Antigo Regime. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 27.

[26] MAZOWER, Mark. O Continente das Trevas: o Século XX na Europa. Lisboa: 2014, p.20.

[27] Ibidem, p.23.

[28] Ibidem, p. 25.

[29] Ibidem, p.35.

[30] OVERY, Richard. Os Ditadores. Lisboa: Bertrand, 2016, p. 66-75 e 127.

[31] CHURCHILL, Winston. Never Given In! The Best of Winston Churchill’s Speeches. London: Pilmico, 2004, p.159 e 178.

[32] GELLATELY, Robert. A Maldição de Stalin: O projeto de expansão comunista na Segunda Guerra Mundial e seus ecos para além da Guerra Fria. Rio de Janeiro: Record, 2017, p. 62.

[33] Ibidem, p. 62.

[34] BUSHUYEVA, Tatyana; DYAKOV, Yuri.The Red Army and the Wehrmarcht. N. York: Prometheus Books, 1995, p.13. Para uma visão das negociações entre Alemanha e a União Soviética ver ROBERTS, Geoffrey. The Soviet Union and the origins of the Second World War. N. York: St. Martin’s Press, 1995.

[35] Assim era conhecido o Exército alemão até 1935, quando Hitler suspendeu os efeitos do Tratado de Versalhes e introduziu o serviço militar universal. A Wermacht foi criada com base no Reichswher.

[36] BUSHUYEVA, Tatyana; DYAKOV, Yuri. The Red Army and the Wehrmarcht. N. York: Prometheus Books, 1995, p.19.

[37] Ibidem, p.27.

[38] LUKACS, John. O Duelo Churchill x Hitler: 80 dias cruciais da Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2002, p.155.

[39] OVERY, Richard. Os Ditadores. Lisboa: Bertrand, 2016, p.33.

[40] “A roda da fortuna gira: eu caí, diminuído; e um outro se levantou [no meu lugar].” Versos do poema medieval Carmina Burana, musicalizado por Carl Orff, em 1937.

[41] CHARMLEY, John. Churchill’s Grand Alliance: The Anglo-American Special Relationship. 1940-1957. London: Hodder & Stoughton, 1995, p.172.

[42] LUKACS, John. Churchill: Visionário. Estadista. Historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2002, p.30.

[43] CHURCHILL, Winston; CHURCHILL, Clementine. Speaking for themselves: the personal letters of Winston and Clementine Churchill. Mary Soammes (org.). London: Doubleday, 1998, p. 506.

[44] BOHLEN, Charles. Witness to History: 1929-1969. New York: W. W. Norton, 1973, p.229.

[45] KENNAN, George. Memórias: 1925-1950. Vol. I. Rio de Janeiro: TopBooks, 2014, p.113.

[46] CHURCHILL, Winston. Never Given In! The Best of Winston Churchill’s Speeches. London: Pilmico, 2004, p.77.

[47] LUKACS, John. Churchill: Visionário. Estadista. Historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2002, p.31. LUKACS, John. O Duelo. Churchill x Hitler: 80 dias cruciais da Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2002, p.141.

[48] BUCHANNAN, Patrick. Churchill, Hitler and the Unnecessary War. N. York: Three Rivers Press, 2008, p.375.

[49] Ibidem, p.406.

[50] LUKACS, John. O Duelo. Churchill x Hitler: 80 dias cruciais da Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2002, p.201.

[51] HOLMES, Robert. In footsteps of Churchill: A Study in Character. New York: Basic Books, 2005, p. 188.

[52] LUKACS, John. O Duelo. Churchill x Hitler: 80 dias cruciais da Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2002, p.18-19.

[53] LUKACS, John. Cinco dias em Londres: Negociações que mudaram o rumo da II Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Zahar, 2002, p.203-204.

[54] DAWSON, Christopher. O Julgamento das Nações. São Paulo: É Realizações, 2018, p.77.

[55] KAVAFIS, Konstantino. Poemas de Konstantino Kavafis. São Paulo: Cosac Naify, 2012, p,17-19.

[56] HAYEK, Friedrich. O Caminho da Servidão. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises, 2010, p.178.

[57] SCRUTON, Roger. Pensadores da Nova Esquerda. São Paulo: É Realizações, 2014, p. 119.

[58] http://www.vatican.va/gpII/documents/homily-pro-eligendo-pontifice_20050418_po.html

[59] MIKOLAJCZYK, Stanislaw. La Violación de Polonia: modelo de agresión soviética. Barcelona: Ed. Científico-Médica, 1950, p.119.

[60] VOEGELIN, Eric. Ordem e História – Isarel e a Revelação. São Paulo: Loyola, 2009, p.32.

[61] “O método dialético,” escreve Platão, “é o único caminho que procede, por meio da destruição das hipóteses, a caminho do autêntico princípio, a fim de tornar seguros os seus resultados, e que realmente arrasta aos poucos os olhos da alma da espécie de lodo bárbaro em que esta atolada e eleva-os às alturas.” PLATÃO. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian 2005, p.327.

[62] KIRK, Russell. O Ópio das Ideologias. IN; Communio: Revista Internacional de Teologia e Cultura. Vol. XXVIII,n.3, ed.103, jul.-set.2009, p. 771.

[63] KIRK, Russell. The Conservative Mind: From Burke to Eliot. Washington, DC: Regnery Publishing, 1986, p.8.

[64] KEATING, Michael IN: DAWSON, Christopher. O Julgamento das Nações. São Paulo: É Realizações, 2018, p.61.

[65] E aqui remeto o leitor ao artigo do Professor Olavo de Carvalho publicado pelo Burke Instituto: https://www.burkeinstituto.com/blog/atualidades/a-revolucao-globalista/

[66] “Até as ruínas perecem.” Numa passagem de Pharsali [Farsália], Marco Anneo Lucanus descreve a visita de Júlio César ao local em que estariam as ruínas de Tróia. Corpus Poetarum Latinorum. London: George Bell & Sons, 1889, p.660.

[67] KIRK, Russell. Redeming the Time. Wilmington: ISI Books, 1996, p.47.

[68] KIRK, Russell. A Era de T.S.Eliot: A Imaginação Moral no Século XX. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 291.

[69] Nessa Ode, Horácio celebra a bravura e intrepidez do homem justo.

 

Nem o furor de amotinado Povo

Nem violento rosto d’hum Tyranno,

Nem a força dos austros sibilantes

Que as ondas Adriáticas revolvem,

Nem o potente braço

De Jove irado, que arremessa raios,

Turbão o peito do Varão constante,

Em seus justos propósitos firmado.

Estale o Ceo, e se desfaça o Mundo,

Villo-hão ferir impávido as ruínas.

 

HORACIO FLACCO, Quinto. Obras de Horácio. Lisboa: Imprensa Régia, 1806, p.97.

 

 

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