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O PT e o confessionário

Errar é feio, em qualquer sentido; esta é uma das primeiras lições domésticas que aprendemos. O homem foi moralmente constituído e capacitado — através de suas crenças, tradições e inclinações morais — a fim de perceber em atos e escolhas aquilo que condiz com uma postura correta diante da sociedade e diante da sua consciência; ou seja, identificar aquelas posturas tortas frente a um padrão mínimo de coerência entre o que se professa como verdade, e o que se diz renegar como falsidades e erros. Assim sendo, tão natural quanto errar — por nossa condição corruptiva —, é o ato de se desculpar por nossas caneladas e farpas trocadas. Se desculpar por um erro nunca foi um ato inglório, pelo contrário; pedir perdão — perante nossas raízes cristãs — é a condição básica para a remissão e salvação.

O confessionário tem muito mais a ver com sucessos do que com fracassos.

 

Orgulho e petralhada:

Aqueles que se veem impossibilitados de se desculpar por seus erros, estão diante de uma aporia moral não rara na humanidade. Basicamente há dois tipos de pessoas que não pedem desculpas: os orgulhosos, aqueles que mesmo internamente sabendo de suas faltas, escolhem suprimirem as suas consciências e vozes morais diante daquilo que eles mesmo teorizaram e se convenceram de ser a verdade — apesar de tudo mais que aponta para a sua culpa. Os orgulhosos, no entanto, ainda possuem uma débil — porém ainda vigorosa — percepção moral de seus erros, tanto que geralmente sofrem diante das lembranças de suas faltas. Eles apenas escolheram não admiti-las sequer para si mesmo; sendo assim, a sua “salvação” é mais fácil, pois se trata antes de um erro de caráter que é totalmente passível de recuperação e mudança. O mundo está lotado de ex-orgulhosos adeptos do arrependimento.

Todavia, há os que corromperam as suas almas com o ácido imoral chamado: fanatismo ideológico (ou religioso), esses ideologicamente corrompidos se tornam incapazes de possuírem a uma reta percepção moral que os façam refletir diante de suas falhas; se tornam incapazes de objetivamente elaborar uma autocrítica interna ou externa de seus erros. E, quando o fazem, atuam como que num teatro, sem verdadeiramente ter um sentido de remissão e abandono do erro.

Tais mentes começam a pensar a partir de um arcabouço doutrinário, isto é: ele age como um centro de controle de consciências, ditadores de verdades. Não havendo mais valores intrínsecos e, por efeito, erros intrínsecos, consequentemente não haverá mais o certo e errado, mas tão somente as diretrizes daquilo que a ideologia determina; o que diverge da ideologia é o errado naquele momento — enquanto dura tal diretriz —, e aquilo que converge, é a verdade inconteste. O certo e o errado são, então, relativos; a verdade é apenas um conceito puramente inflacionário, isto é: vale muito se tiver ao meu lado, e nada se tiver contra minhas ideias.

Leia depois: Jovens e a corrupção quando “tudo isso aqui era mato”

 

O petismo inerrante:

A incapacidade de reconhecer erros, é, pois, o principal sintoma de uma alma corrompida, seja pelo orgulho, ou pela ideologia. O PT (Partido dos Trabalhadores) é o perfeito exemplo de uma alma massificada e fanática.

Findada as eleições de 2018, aquilo que saltou aos olhos dos bons observadores políticos, foi a incapacidade petista de reconhecer seus pregressos erros grotescos e gritantes. O partido claramente se corrompeu durante os governos de Lula e Dilma, documentos se amontoam numa colina de vergonhas, delações, vídeos, áudios e as próprias materializações dos crimes (entre sítio e triplex). Seu maior líder foi condenado em primeira e segunda instância, sendo que a segunda instância ainda aumentou a sua pena.

E vejam, o PT não foi o primeiro e nem será o último partido e grupo a se corromper; não quero passar aqui um ar de normalidade e de banalidade frente aos sórdidos crimes cometidos, mas há uma certa normalidade condenável em tais crimes político, econômicos e morais. A política é feita por homens, homens são corruptos, logo a política pode ser — e geralmente é — corrupta. Obviamente não devemos nos aconchegar a essa realidade e, na verdade, não o fazemos; a queda da Dilma e a eleição de Bolsonaro é a prova disso, entretanto, não podemos negar as constantes possibilidades de queda do homem. Tanto no Brasil, quanto nos EUA, há corrupções, a diferença é que aqui ela virou sistema de governo e sustentáculo político.

Posso parecer muito idealista e até ingênuo, mas julgo ser a recusa petista em reconhecer os seus erros notórios e as consequências de tais desvios, muito pior do que os próprios crimes cometidos pela facção. Ainda que, depois das escusas pedidas, ninguém as aceitassem, a hombridade do ato em reconhecer as suas falhas é algo tão honroso e virtuoso, que talvez o ressurgimento do partido no cenário nacional fosse possível e se desse pelas lições e experiências que seus erros pregressos proporcionaram. Evitando assim a vergonha de seu atual chafurdar nos dejetos imundos de corruptelas.

Muitos socialistas sinceros simplesmente perceberam o grau de corrupção do partido; muitos que antes viam no PT a realidade política mais promissora para a esquerda latino-americana, passaram a enxergar nele as ruínas de um grupelho fechado em suas histerias e ilusões de perseguições.

 

A mente de um petista:

A mentalidade militante, reconhecida desde de Ortega Y Gasset até Voegelin, age numa auto-complacência consigo mesma. Ou seja, internamente a suas consciências já estão programada a pensar que “pela causa tudo vale a pena”, elevados em graus extremos, se trata da mesma mentalidade que justificou Holodomor, Auschwitz e os campos de Pol Pot. Quando José Dirceu foi preso, em 03/08/2015, a sua imagem erguendo os punhos cerrados no ar — tradicional símbolo comunista de luta —, mostra que a sua reação diante da prisão não é de consternação, arrependimento, ou até mesmo ira, mas sim uma espécie de aceitação consciente das consequências de suas atuações ideológicas. Quando de punhos cerrados e ele entrou no carro que o conduziria à prisão, ele mudamente dizia com o gesto: “isto é pela causa, pelo partido, pela ideologia”.

Mas há, ao meu ver, outro aspecto da mentalidade ideológica militante que cabe nos petistas. Isto é: existe uma cegueira auto-imposta pelos militantes, uma espécie de interruptor da consciência que, diante das evidências incontestes das burlas cometidas, o interruptor desce e desliga as capacidades racionais de avaliação do óbvio, não absorvendo assim as informações dadas, relativizando-as e sobrepondo-as com outros dados que elevam o acusado do crime ao patamar de mártir e herói. Não raro, eles próprios se elevam a tal patamar; lembrem-se que Lula não é mais um ser humano, e sim uma ideia.

 

Conclusão:

A incapacidade de reconhecimento de seus erros, é algo extremamente assustador e preocupante nos petistas, demonstra uma cegueira e um fanatismo que não cabem numa sociedade ordeira; a mentalidade doentia que enxerga em todos aqueles que não concordam com eles o espectro de culpados, fascistas e nazistas, só nos traduz aquilo que outrora desconfiávamos: o petismo é extremamente é instável e nutre um pensamento psicopático.

Não se trata, essencialmente, dos erros cometidos, nem dos bilhões desviados; não estou aqui sequer para julgar se tais questões são desculpáveis ou não; se trata antes da incapacidade confessa em reconhecer que cometeu crimes, e que eles não são justificáveis a partir das bonanças ou acertos que por ventura ocorreram sobre seus comandos.

O homem erra, o conservador, o liberal, o socialista, todos erramos. É uma condição de precariedade que não deixa de atingir nada e nem ninguém aqui nesse grande universo. Mas parece que, os únicos que fogem dessa lei cortante são os petistas. O PT jamais erra; e se um dia ele desviou bilhões de estatais, aceitou propinas, conchavos criminosos, se vendeu à cartéis, criou instabilidade política e econômica, e nutriu na sociedade um clima politicamente bélico; você tem que entender que tudo isso, no fundo, é culpa sua e não do PT.

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As posições expressas em artigos por nossos colunistas, revelam, a priori, as suas próprias crenças e opiniões; e não necessariamente as opiniões e crenças do Burke Instituto Conservador. Para conhecer as nossas opiniões se atente aos editoriais e vídeos institucionais

Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, colaborador do Jornal Gazeta do Povo, ensaísta e editor chefe do acervo de artigos do Burke Instituto Conservador.

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