Gênero ou Gênesis, os dois não dá

Antes de tudo, como funciona a sabatina dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Antes ainda do que isso, o que é o Supremo Tribunal Federal (STF), resumidamente.

O STF é o superior do Poder Judiciário, o que julga questões constitucionais, interpretando a Constituição e o direito constitucional. É ele quem diz a última palavra sobre a mais importante norma jurídica. Embora a atual composição do STF não deixe que um artigo isolado faça verão, prevalecendo sempre princípios e valores acima de individualismos, a Constituição é soberana e deve ser interpretada para que todos a cumpram. É soberana inclusive acima da vontade individualista dos próprios ministros do STF. Tudo isso, claro, sempre em tese.

Para ser a voz da Constituição, então, é preciso ser aprovado pelo Senado Federal. Uma sabatina, é o nome que se diz. O Presidente da República indica o nome de algum preferido seu e o Senado diz se aprova ou não. Aprovado, segue a posse. Vejam que se trata de uma mistura de função, dos poderes, executivo, legislativo e judiciário. Em tese, o controle de um poder sobre o outro.

O mais novo ministro do Supremo Tribunal Federal, André Mendonça, indicado pelo Presidente da República Jair Bolsonaro, custou a ser sabatinado pelo Senado. Além disso, sua aprovação foi apertada. O receio não teve nada a ver com ele. É que Jair Bolsonaro não agrada a todos, provoca o medo, principalmente no intelectualismo hipócrita, do neofascismo de boteco misturado com uma nova Idade Média (a Era das Trevas) que pode atrasar o projeto de “homem bom” (ou “gênero bom”) da Agenda 2030, entre outras fantasias ideológicas que sonham com um final feliz do mundo (ou sou pessimista de carteirinha, não tenho sonhos humanitários impossíveis).

No discurso da sabatina, André Mendonça disse que vai usar tanto a Bíblia quanto a Constituição. Na vida a Bíblia; no STF, a Constituição, disse ele. 

Fiquei com uma pulga atrás da orelha. Será que é fácil separar o jurídico do religioso? O que diz a Constituição e a Bíblia a respeito de assuntos polêmicos, como o gênero por exemplo?

Se Mendonça é o que diz ser, um evangélico de fato e de verdade, ele vai ter que se virar como pode. Vai ter que passar pela prova de fogo, deixar o cinismo de lado sem passar a impressão de ser preconceituoso e santo demais. Coragem é a máxima das virtudes aristotélicas, será preciso.

Pergunto-me se algum dia, no Dia D, decisivo, quando chegar o momento entre optar entre Gênesis e o gênero, Mendonça vai conseguir deixar de ser cínico e optar abertamente entre a crença no Gênesis e a crença na ideologia de gênero?

O que ambas têm em comum? Ou nada elas têm em comum? Já respondo aqui mesmo, sem novo parágrafo. A ideologia não vive sem a crença cristã. A ideologia é parasita da religião. Isso porque a religião nasceu primeiro, depois vieram especulações, fantasias, aventuras, idiotices e bizarrices sobre como se livrar dela. E, a partir do Renascimento, Iluminismo, racionalismo, ano de 1789, parece que está dando certo. O diabo não tem pressa. Ele já está derrotado mesmo, e sabe disso.

Tudo começa com o conceito de imagem de Deus e requer uma certa visão, digamos, antropológica. Deus tem a sua, digamos, antropologia, e foi copiado bem baratamente pela política humana revolucionária de mudança de mundo (totalitarismo, marxismo, hegelianismo, comunismo, etc.). A antropologia de Deus é única. O resto é balela, conversa pra boi dormir e enganar sonhadores. 

A Bíblia diz que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. Imagem significa que Deus é um e o ser humano outro. Deus é criador e o ser humano sua criatura. E, ainda, que Deus sendo livre criou o ser humano para ser livre. Imagem de Deus significa ter os atributos de Deus.

Mas a imagem de Deus não é total com o homem apenas, se completando com a mulher, numa relação entre os dois como marido e mulher, não apenas marido e mulher. A relação entre os sexos serve para tolerar o outro, o semelhante, pois foi concebida para viver em comunidade. 

O ser do humano é integrado com o outro. Não existe homem sem homem e mulher. A escritura confirma quando diz que não é bom que o homem viva só. Em Gênesis 1:26-27 está escrito (ver o destacado): “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.”.

Contra a antropologia de Deus vem a androgenia feminista. Ela usa Platão para justificar filosoficamente um possível domínio masculino. 

Pelo visto, o feminismo quer transformar a natureza humana por meio de uma racionalidade desvairada, tirá-la da propriedade de Deus, com um certo existencialismo sui generis. Isso é próprio da teoria feminista, que é anti-humanista, ou seja, se utiliza de uma racionalidade pura para ver no homem um produto de fatores externos a ele, não sendo um sujeito consciente de si e com autodeterminação. O estruturalismo é uma filosofia que agrada o feminismo. Reflexo romântico de Rousseau, que encara o homem como vítima do meio. 

E vira piada quando sabemos que a argumentação feminista é com base na defesa dos direitos humanos. Direitos humanos usados de uma forma que vire contra os seus próprios titulares não são direitos humanos.

Não posso fazer nada se as feministas e adeptos descrentes não têm fé. O que posso fazer se não querem ter fé e, assim, entender (credo ut intelligam), como proclamou Santo Anselmo?

E, quanto a Mendonça, estou curioso para ver o que ele vai decidir sobre o gênero quando chegar o momento de julgar algo relacionado a ele.

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Sergio Renato de Mello

Sergio Renato de Mello

Sergio Renato de Mello, brasileiro, casado, Defensor Público de Santa Catarina, residente em Rio do Sul, Santa Catarina.

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