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O comunismo que deu errado é o único que dá certo

Por não ter nascido em uma família rica, nunca tive brinquedos de ricos, tinha, por vezes, apenas a minha imaginação. O que sobrava a mim e minha irmã (e os demais amigos de rua) era usar o faz-de-conta e demais brincadeiras tradicionais, tais como jogar bola, correr, lutar e, não raro, brigar de verdade. Certa vez brincávamos com uma bola de tênis, e na ânsia desmedida de tentar acertar uma bolada em minha magrela irmã, errei o arremesso e acertei a janela que estava atrás dela; quebrei o maldito retângulo de vidro que, naquele momento, julguei ser de má qualidade por não aguentar nem uma mísera pancada de uma bola de tênis. Como artifício bandoleiro para a minha infração, a fim de fugir da reta punição que meus pais sem dúvida infligiriam a mim, joguei sem demora a culpa do ocorrido na minha desvairada irmã mais nova que quis me acertar com uma bolada e acabou por quebrar o vidro da sala.

Tal subterfúgio dos covardes — também denominada de “mentira — cabe bem diante de uma traquinagem infantil como a que narrei acima; aliás, tal desonestidade foi muito bem corrigida pelo tamanco de minha mãe assim que ela chegou do trabalho. Poucas coisas corrigem tão bem o caráter de uma criança quanto um tamanco Azaleia número 35. Eu tinha por volta de 10 anos, e minha irmã 5, estávamos na época de “torcer o chuchu”; mas como corrigir o caráter sinceramente desonesto de um adulto que livremente, sem nenhuma coação, escolhe ser um alienado ideológico?

É o que fez, por exemplo, Luciana Genro quando no programa do Danilo Gentili disse que os países “mais” comunistas que existiram não foram comunistas, justamente porque implementaram os princípios comunistas. Calma, você vai entender esse pensamento dialético geralmente exercido nos manicômios e nas universidades brasileiras.

Depois de ser jogado em sua face que a ideologia defendida por ela havia matado por volta de 100 milhões de pessoas após ser implementado em governos diversos ao redor do globo, a douta política decretou que os países citados, que utilizaram muito bem todas as diretrizes determinadas pelos ideólogos comunistas, na verdade não eram comunistas. Tão genial quanto velha a desculpa: deu errado, então a culpa é de outrem; é simplesmente a evasiva mais velha que existe na humanidade, é usada desde quando Adão quis escapar do julgamento de Deus após ter dado uma mordidinha na fruta de Eva.

No entanto, parte do que fora afirmado por Luciana é verdade, tenho que acatar, o comunismo ideal — aquele que vinga somente no mundo das ideias — jamais será possível na realidade, pois, os pilares da ideologia socialista não são fincados na realidade, mas na pura vontade vazia de factualidade. Nós conservadores avisamos: o comunismo das montanhas de corpos e mares de sangue é o único comunismo possível; e por isso mesmo que, o comunismo que deu errado é, no final, o único que dá certo.

Seguindo a mesma esteira de sandices desonestas, Milton D’León, editor da La Izquierda Diario Venezuela, concedeu uma entrevista ao Left Voice com tradução do Esquerda Diário. O companheiro Milton, vendo que o comunismo venezuelano “deu ruim” — ou seja, deu certo —, veio a público para dizer que — vejam só que genial novamente — que a Venezuela, na verdade, não é socialista. Ainda segundo o grande intelectual e arquiteto de desculpas para o fracasso próprio, a culpa é de quem? Dou um abraço hétero para quem adivinhar. Sim, meu caro, do imperialismo yankee, dos EUA, do capitalismo e seus aliados.

Calma, ainda tem mais, segundo Milton, o partido socialista de Nicolás Maduro: Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), cujo o lema é o socialismo do século XXI “[…] não foi nada mais do que uma farsa. Uma fraude construída a partir do termo ‘Socialismo’, mas em defesa do capitalismo na prática – e não qualquer capitalismo, mas o de uma economia rentista totalmente dependente do petróleo”.

Em resumo, para o distinto crítico, a culpa do fracasso comunista na Venezuela, a mesma Venezuela das práticas de intervenção estatal na economia, do fechamento severo do mercado; de atos despóticos como o de prisão de opositores, ataques militares contra cidadãos desarmados, e fechamento de emissoras que não se alinhavam às ideias oficiais; o governo que criou o seu próprio Parlamento — não sem antes fechar o Parlamento oficial por um tempo —, o governo que comprou a sua própria Suprema Corte; mesmo após tudo isso, livremente seguindo os passos das ditaduras comunistas fracassadas do século XX, ainda assim a culpa, obviamente, não é de Maduro e nem do comunismo, e sim do capitalismo.

Paradoxalmente, o que podemos constatar de tal leitura de Milton é a seguinte pérola da dialética marxista: a culpa do fracasso da Venezuela é o capitalismo, ainda que os pressupostos adotados em larga escala pelos último 3 governos tenham sido as diretrizes estatistas do socialismo. Ou seja, em última análise, a culpa do fracasso oriundo da implementação do comunismo na Venezuela, é do capitalismo americano. GENIUS…

A declaração de posse da presidência de Juan Guaidó, com apoio das principais democracias mundiais, além do largo apoio popular dos venezuelanos, está despertando vários atos na esquerda; os atos vão desde o abandono paulatino da ideologia assassina após mais um fiasco, à justificação desta por meio de ilogicidades como o de Luciana Genro outrora, e, agora, a nova apologia de Milton D’León.

Mais uma ruína comunista para a lista infindável de países comunistas que, depois de mais um esperado fracasso, passaram a não ser mais comunistas — by. Luciana Genro —, e sim um apêndice demoníaco do neoliberalismo opressor, machista, patriarcal, sexista, classista…

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As posições expressas em artigos por nossos colunistas, revelam, a priori, as suas próprias crenças e opiniões; e não necessariamente as opiniões e crenças do Burke Instituto Conservador. Para conhecer as nossas opiniões se atente aos editoriais e vídeos institucionais

Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, colaborador do Jornal Gazeta do Povo, ensaísta e editor chefe do acervo de artigos do Burke Instituto Conservador.

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