Vim parar aqui por ser um conservador e posso ser até preso por isto, mas, e você leitor, como veio parar aqui?
Conservadores do Brasil

Como você conservador veio parar aqui?

Como veio parar aqui?

Recebi meu jornal diário, com a pontualidade que prezo. Recebi-o no momento de indecisão do café, quando ele não está nem frio nem quente; mas num morno vulgar, que agrada a todos. Abri o jornal e triste por não ter outra coisa pela qual me interessar, procurei a seção de política. Logo achei-a, com manchetes escandalosas, com aquelas letras enormes, mas fininhas, parecendo estar com fome.

Era tudo política. Da fonte aos parágrafos. Deve-se estar perguntando o leitor como eu sei disso. Bem, digo que sou advogado aposentado e por motivo de subsistência tive de aceitar os respingos da lama de Brasília em minha carreira.

As manchetes lá estavam: “Felipe Neto: o novo ministro da cultura”, ou então, “Henry Bugalho, maior filósofo do país…”; “Paulo Coelho se torna um imortal na academia brasileira de letras…” Não me espantei com as notícias. O motivo não foi a preocupação que me causavam e nem a falta de importância, mas a inferioridade desta em relação a outra notícia – esta por sua vez não recebeu fontes grandes – cuja abertura era “prisões brasileiras lotam com terroristas” e o miolo dizia: “graças as medidas tomadas ante as ameaças, e as prisões feitas, a estabilidade foi preservada”.

Como já dito, sou advogado e desde cedo acompanhei os presídios. E por isso, pela experiência, apeguei-me naquela notícia, e como um menino segurando o doce, também segurava as palavras “estabilidade”, “preservada” e a pior: “ameaças”. Agora permita-me leitor uma breve digressão – não é por luxo de escritor, é para situá-lo na minha indignação.

Ontem, às 10 da manhã recebi uma ligação, um velho jornalista, amigo íntimo de meu falecido pai, pedia-me ajuda em um caso envolvendo um artigo publicado na internet que foi censurado. Às 12 outra ligação me foi feita. Era um delegado, telefonou-me a pretexto de um convite: visitar a prisão.

 – Venha visitar-nos, nunca se viu tanta ordem, tanta calma e respeito imposto numa prisão, disse-me ele.

Após o almoço, fui ao local. À medida que me aproximava – como já estava acostumado com o barulho dos presos brutos – encostava o ouvido na janela do táxi para ouvi-los, e desta vez o fiz com mais seriedade, para tentar provar que o delegado estava errado. De nada serviu o esforço, o silêncio não se sintonizava com a rudeza do ambiente e era mais incomodo que a baderna dos presos que eu conhecia.

Chegando lá, fui recebido por velhos conhecidos e depois encontrei o delegado, que por sua vez ofereceu-me o maior prisioneiro da falsa cortesia: o café. Aceitei uma xícara. E, ao invés de visitarmos as celas, num gesto de orgulho, o delegado preferiu conversar (aproveitar o silêncio).

– O bom filho a casa torna, não é mesmo, doutor Miguel? disse-me ele.

– Não considero que aqui seja meu lar. Em compensação, os que aqui moravam realmente, parece-me que mudaram de casa, estou certo?

– Como sempre, o doutor está meio certo. Veja, continuou ele, mudaram-se alguns e vieram outros. Pense que trocamos uma ceata permanente, pelo chá patriarcal.

Os motivos citados e causadores da mudança no presídio formaram uma lista tão grande que me esqueci, dentre eles estavam as palavras dos jornais do dia seguinte, o “Supremo Tribunal Federal”, a “Democracia” etc.

Enfim entramos. E lá dentro ainda figuravam sujeitos perigosos, dos quais eu mesmo combati no tribunal.

Do lado direito, havia dez celas, cada uma com pouco mais de dez metros de largura. Lá estavam estupradores, homicidas e até um assaltante medíocre – de acordo com colegas ele roubou uma loja de doces. No lado esquerdo, mais dez celas, sujas, mal cuidadas e dentro figuravam rostos que eu nunca tinha visto antes. Não tinham a aparência, as feições sugadas dos outros presos, que muito se assemelham a ameixas secas, sugados pela experiência da prisão. Eram robustos, fortes, até mesmo as mulheres, digo, a mulher, naquele momento apenas uma lá estava.

Passamos lá pouco tempo. O delegado se gabando e eu impressionado, essa dualidade não durou muito tempo. As perguntas que fiz a ele foram poucas e quase todas sem respostas. Obviamente não pude deixar de perguntar o motivo que levou aquelas pessoas cheias ao ressecamento progressivo.

– E então, delegado. O que fez esta dama? Perguntei.

– Não sei. De um tempo para cá as coisas mudaram, meu filho, primeiro condena-se, faz-se busca e apreensão e depois, se assim quiserem os donos do poder, o motivo é revelado; mas o dessa senhora, creio que não será.

Eu como advogado aposentado não me tinha atentado para isto, estava mais preocupado com meu café esfriando e meus jornais. Ia-me embora quando mais um chegou. O delegado chamou-me:

– Venha, doutor Miguel, veja como ele nem resistirá. Os tempos mudaram, venha, meu amigo.

Fui, e não levado pelas pernas, mas pelo embasbacamento. Chegamos ao local onde estava o mais novo integrante da calmaria. Aparentava ele ter 30 anos, casado e pai. A profissão ainda não sabia, mas gostaria, para compor a biografia completa do preso pacífico (ou melhor inocente). O novo preso que de nada estava sendo acusado; e se estava, não tinha ciência do que era.

Acompanhei toda a cerimônia, até o levarem para a cela (da esquerda). Quando ele entrou, cumprimentou os que lá estavam, como se os conhecessem e de fato conhecia. O estuprador perguntou-lhe:

– E você, engomadinho, que crime cometeu?

– Estava andando sem máscara na rua. E além de tudo, sou colunista de um jornal conservador…

– Gabinete do ódio! Interrompeu o criminoso, aqui nós usamos as expressões certas, idiota.

Gabinete do ódio? O que seria isto, perguntei-me para mim mesmo. E voltei a observar os que já estavam na cela. O que teria feito a dama, vestido a camisa do Brasil? Teria sido ela patriota demais?

E o gordo com terço em mãos, machucou o estado laico? E o careca segurando uma pequena foto com a família que guardava na carteira, implorando para o guarda deixa-lo fazer uma ligação, o que teria cometido, amou demasiadamente o patriarcado?

O sujeito com terno, e lápis na mão – provavelmente outro jornalista – teria também incorrido em no discurso de ódio? Ou melhor, era ele um propagador de “fake news”?

Pensativo, saindo do presídio, ansioso por voltar para casa, ouço novas sirenes.

– É mais um, é mais um! Obrigado Barroso, obrigado Alexandre de Moraes!

Sim, leitor, era mais um preso, não o vi, mas de relance vi a camiseta e nela estava escrito “Olavo tem Razão”. Vim parar aqui por ser um conservador e posso ser até preso por isto, mas, e você leitor, como veio parar aqui? Manifestou-se, acendeu bombinhas de São João? Seja bem-vindo a prisão, terrorista! As prisões estavam lotadas de pessoas assim. Conservadoras, inocentes. E os estupradores, homicidas, todos a estavam deixando. E tudo pela ordem.

A digressão é suficiente, abdiquemos do jornal, o café esfria…

Isso pode acontecer não em um futuro tão distante.

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Yuri Ruiz

Yuri Ruiz

Um jovem conservador, antifeminista, antimarxista e cristão.

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