As atuais classes falantes do Brasil contam com um pouco mais de dez mil pessoas, entre elas estão os youtubers, jornalistas, radialistas, publicitários, professores universitários, políticos, religiosos, escritores e pequenos grupos ligados diretamente ou indiretamente com a grande mídia, artistas de televisão e teatro, músicos e produtores. Este número reduzido de pessoas é responsável por muitos dos conceitos políticos e culturais que se fixam na cabeça de duzentos milhões de brasileiros, que conforme as pesquisas realizadas, é um dos países que menos tem contato com a literatura, seja ela qual for, e mesmo os que leem um pouco mais têm muita dificuldade em compreender o que está lendo, e este fenômeno atinge inclusive os graduados, pós-graduados, mestres e doutores, ou seja, a grande massa de brasileiros está sendo conduzida quase que em sua totalidade pelas ideias, valores e crenças de uma classe falante composta por pouquíssimos integrantes e que certamente possui seus interesses políticos e econômicos.
O fato é que para pensar com a própria cabeça é preciso anos de estudo sério, revisitando obras filosóficas, historiográficas e literárias do mais alto nível intelectual, sem se deixar influenciar pelos movimentos sociais, políticos e culturais da atualidade. Para se fazer uma leitura crítica das múltiplas situações que acometem diariamente todos os brasileiros é preciso mais do que coragem, é necessária a força de um Hércules e a paciência de Jó, pois o brasileiro, mesmo que quisesse compreender o drama que seu país vive desde sua gênese teria que abrir mão de sua família, de seu trabalho, de seus amigos e até de si mesmo, abnegando anos de sua vida para talvez um dia conseguir enxergar além das muralhas erigidas pelas diversas ideologias. E infelizmente não há outro caminho para aqueles que desejam sair do campo de influência dúbia e compreender, mesmo que minimamente, o real estado de coisas do século presente.
Em meio a tantas outras mazelas monumentais, o falatório do brasileiro se faz notável e não poderia ser diferente, pois as pessoas não sabem de onde saem suas ideais, elas apenas reproduzem o discurso pronto e acabado que recebem da mídia, dos jornais e dos veículos mais amplos de comunicação. Os absurdos, as incoerências, a falta de fundamento, os jargões e a incapacidade lógica para discorrer sobre o que quer que seja torna o falatório um coro dissonante, um arremedo sem pé nem cabeça, uma espécie de ecolalia intelectual o que torna a ignorância ainda mais nítida e cômica. Em alguns casos não há mais condições de reverter o quadro, visto que existem muito mais coisas envolvidas e nem todos tem coragem de olhar para si e admitir que estavam sendo manipulados a todo momento, agindo como verdadeiros idiotas úteis.
Portanto, o rumo do país depende exclusivamente daqueles que criam, dominam e exercem o discurso e anteveem com um certo grau de certeza todos os seus desdobramentos e consequentemente ganham as mentes e os corações. Os cargos políticos são apenas parte do jogo de poder, mas não é o poder em si mesmo. O poder é exercido a partir do domínio cultural e da configuração do imaginário das massas, certo de que as pessoas só farão aquilo que previamente elas puderam acreditar, ainda que seja por meio da fraude, da manipulação ou pela força e pelo medo. Desenvolver uma classe intelectual que realmente ame o país e seu povo é o primeiro passo para a mudança e qualquer coisa que se pretenda fazer antes disso é apenas mais uma bombinha de São João, que pode até assustar, mão não produz efeito algum naqueles que só tem olhos para si mesmos e para a classe a qual pertencem.