In dubio pro ciência

Tratamentos antecipados e vacinas, tudo farinha do mesmo saco que merece um mero “não sei” em nome do in dubio pro ciência. Os cidadãos e os indivíduos não devem pagar pelos erros dos outros, principalmente quando estes erros derivaram de falta de bom senso (ou seria vergonha na cara?) de quem ocupa cargos do mais alto escalão do Estado. Nossos representantes esqueceram que bom senso precisa de método. 

Membros da CPI do COVID19 devem voltar à escolinha de matemática para aprender bom senso. Devem fatiá-lo, provar cada fatia sua. É um conselho de ninguém menos do que Rene Descartes. E conservadores, sendo céticos por natureza, escolhem a melhor via de acesso à verdade. Escolhem a comunidade científica da dúvida, ao contrário de membros de comissões parlamentares da vergonha, encastelados em seus grupos de WhatsApp com nome “Fora Bolsonaro”.

E Descartes também foi profeta quando disse que a ciência tornará os homens senhores e possuidores da natureza. Membros da CPI do COVID19 duvidando do Conselho Federal de Medicina e afrontando pareceres médicos sobre tratamento precoce como se fossem donos da verdade e da natureza. Existe algo mais evidente? “Penso, logo existo”.

Rene Descartes fundou o moderno método científico, revolucionando a busca das certezas, nos brindando com critérios universais da verdade. Ele simplesmente disse: “Penso, logo existo”. Mas seria como se quisesse dizer, na escalada da certeza: “duvidem até ter certeza”. A partir de então, eis o segredo do bem viver: a dúvida radical. Locke, mais tarde, o elogiou dizendo: “o mais alto grau de certeza é o cogito”.

Embora com boas intenções, Descartes iniciou ousando. Ele afrontou o diabo. Um demônio chegou no seu ouvido e disse: “E você? Você existe? Descartes, sabendo da intenção demoníaca e da existência de Deus, respondeu: “Eu insisto: penso, logo existo; não tem sentido duvidar da existência daquele que duvida. Se aquele que pensa, duvida, então existe, é”. 

A partir de então, o método científico tomou esse rumo do in dubio pro ciência. Este método não mereceu o apoio logo no início, não foi brindado à altura do que, tempos depois, se viu merecer. É que, como hoje, os fundamentos foram deixados em segundo plano por causa das urgências científicas do momento. Humano, demasiadamente humano. Político, demasiadamente político.

Tratamento antecipado é eficaz? Vacina é eficaz? Ivermectina é eficaz? Hidroxicloroquina é eficaz? Só sei que existo. Tomei Ivermectina, estou vivo e ainda duvidando como um bom cartesiano. A vacina ainda vale a pena, depois de ter contraído o vírus? Não sei. 

Nem sempre temos como critério o “não sei” para duvidar de tudo, principalmente quando nossos governantes pisam no nosso calo mais dolorido, na liberdade. Ela é o bem nosso mais precioso e custou um preço muito alto para entregarmos de mão beijada a tiranos. Por isso, fatiando o bom senso como recomenda Descartes, pergunto: o passaporte sanitário afeta direitos individuais? A resposta parece evidentemente positiva. 

O que a prudência impõe? Prudência. Ou melhor, prudência e providência. Este é o recado do espírito prudente. Façamos nossa parte e Deus faz a dele. 

Quanto ao afirmado, Descartes também adverte por quatro regrinhas provisórias de sua moral recém estabelecida ainda naquele momento conturbado de euforia científica: 1. Obedecer leis e costumes do país; 2. Ser derrotado apenas por mim mesmo, e não pela sorte, e mudar eu mesmo os meus próprios desejos, para que o mundo não o faça por mim; 3. Somente nosso próprio pensamento está em nosso poder; e 4. Cultivar sempre a razão e progredir sempre no possível conhecimento da verdade.

A CPI da COVID19 não respeita direitos, nem a dúvida, muito menos a verdade.

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Sergio Renato de Mello

Sergio Renato de Mello

Sergio Renato de Mello, brasileiro, casado, Defensor Público de Santa Catarina, residente em Rio do Sul, Santa Catarina.

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