Nos últimos anos, uma expressão vem tomando maiores proporções nas redes sociais, nos bares e nas conversas do cotidiano. O assunto “meu corpo, minhas regras” tem dividido opiniões. O artigo que vai ler agora tem como objetivo mostrar que essa prática não precisa ser levada às últimas consequências. Tudo precisa ter limites dentro da nossa sociedade e queremos mostrar isso a você.
Os fantasmas interiores
Perguntaram-me o que eu acho das manifestações que utilizam o corpo como forma de protesto (seios de fora, não depilar as axilas etc). Acho relativamente perigoso e produz o efeito contrário do que se pretende.
Em que sentido? Ora, produz a dissolução das fronteiras responsáveis por distinguir aquilo que diz respeito ao espaço público do privado e pessoal. Confundindo, portanto, hábitos privados com costume públicos.
A ideia
Meu corpo, minhas regras na verdade, marca a radicalização de um individualismo vulgar. Invertendo a noção de presença do corpo no espaço público. A intimidade do corpo, obviamente, tem regras próprias. Se eu quero me depilar, sem dúvida é um problema só, e somente, meu. Se uma dama pretende cultivar os pelos das axilas, sem dúvida isso é um problema dela. Pode ser contrário a um costume estético, mas não tem absolutamente nada a ver com política, com sociedade preconceituosa ou opressora.
O problema da intimidade do corpo na comunidade não é social, mas privado. O corpo enquanto expressão pública consiste no meio pelo qual se estabelece o encontro fundador de uma comunidade possível. A politização do corpo íntimo é uma forma de instrumentalização ideológica da estética doméstica. Marcando o ocaso da política.
O engraçado é que para essa mesma gente, as crenças em uma religião histórica devem ser jogadas para o foro íntimo e ser hermeticamente limitadas à experiência sentimental da vida privada; enquanto a cor dos pelos do sovaco, por outro lado, torna-se a expressão mais acabada de um revoltado grito de liberdade pública.
Enfim, o problema sério: toda essa confusão permite, de forma impositiva, que os tormentos e fantasmas interiores, patrimônio da intimidade pessoal, passem a ditar as regras do convívio público.
Link: https://medium.com/@franciscorazzo/meu-corpo-minhas-regras-82016fd85d7
Texto original escrito por: Francisco Razzo
Adaptado por: Burke Instituto