Perceber e questionar a própria existência, é o que faz do homem, um ser cósmico universal por excelência. Somos a única espécie animal dotada da capacidade de apreender o Universo de forma simbólica e de relacionar as suas partes com o todo. O ser humano é a complexidade máxima da matéria ao mesmo tempo em que é a sua transcendência. A transição entre estes dois campos antagônicos forma o enlace da vida humana, afirmando seu sentido em si mesma, com todas as suas possibilidades, necessidades e contradições.
Mais do que simplesmente existir, o homem sofre por existir, questiona o sentido mesmo de sua passagem fugaz pelas veias do tempo, acorda e sonha, afirma e nega, quer e não quer, acredita e refuta, e através desse binário de significações, vivendo a todo instante entre o sim e o não, ele edifica e dignifica o seu ser. E este mesmo sofrimento humano gerado pela dúvida perene é o seu próprio elã vital, o instinto tomando consciência de si mesmo.
A alma humana, portanto, é o evento mais incrível e majestoso de todo o Cosmos. Incrível, porque nos custa acreditar que possuímos uma essência, um eu mais profundo, e que jamais haverá outro ser idêntico a nós por toda a eternidade. A experiência humana jamais se repete e é exatamente isto que a torna majestosa, fazendo de nós imperadores de um reino exclusivo e individual. Amar a vida acima de tudo é o único sentido da própria vida. Não amar a vida é o mesmo que nunca ter existido, é tornar-se um nada, é a aniquilação suprema de tudo o que existe.
O amor aos estudos é o mesmo que o amor à vida, pois é através das faculdades mentais que podemos contemplar e compreender a realidade que nos preenche desde dentro. Abrir-se para a vida intelectual é desejar olhar o mundo novamente com os olhos de criança, é querer ver as coisas como elas realmente são, para além de conceitos meramente lógicos, é lançar-se sobre a presença total do ser com toda a força do coração. A educação genuína é aquela que leva em consideração as nuances da alma humana, oferecendo as condições necessárias para que pouco a pouco surja uma centelha de personalidade capaz de transmutar-se conforme a inteligência se ilumina atingindo o seu esplendor. Todo o conhecimento humano possui um fim em si mesmo, não é meramente um meio para se obter um papel social, conquistar dinheiro ou poder. A conquista do conhecimento é a realização última da humanidade, é a manifestação supracósmica e viva dentro do homem, é a verdade transcendental e eterna.