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A guerra do jornalismo: a dura arte da isenção

A crítica pela crítica é um câncer, uma arma política que deveria suscitar vergonha; isso mesmo, a crítica política deve vir através de uma análise sincera e responsável, e não com lábios sangrentos de assassinos de reputação, movidos por vingança ou sentimentos análogos.

E são tais coisas que parecem mover muitas críticas ao governo atual. Ah… como é gostoso criticar o Bolsonaro, confesso que pessoalmente sofro dessa tentação também; a sua incapacidade de calar quando deve falar, e falar quando devia estar calado, é algo monumental e jamais visto no executivo nacional. Pessoalmente já o critiquei muitas vezes, meus textos críticos ao homem estão espalhados por ai, desde a Gazeta do Povo ao Burke instituto Conservador. No entanto, se existe algo que carrego como um mantra profissional é a liberdade de crítica, não importando quem é o merecedor da “lisonja” e nem as opiniões dos que os cercam. Já perdi empregos, namoradas, e até mesmo um cachorro em nome da minha liberdade de falar o que penso, segundo meu discernimento momentâneo. Esse é o ônus daqueles que se aventuram nesse pasto da análise política, nessa colina o espólio da dignidade está na capacidade de ser livre.

Critico quando devo e elogio quando é merecido, isso se chama sinceridade, isso se chama brio. Bolsonaro erra em muitas coisas, não é um homem de trato humano fácil, seus métodos de dialogar são desesperadores, sua visão econômica é dúbia, seus heróis são vilões e 1964 já passou há tempos e ele ainda não percebeu; mas disso, transformá-lo em um saco de pancadas somente porque ele não se achega às nossas patotas de ideias… Bom, vamos com calma.

Qual é o erro maior, Bolsonaro não ser “articulado” politicamente, ou Maia fazer birra e barrar medidas que poderão desafogar o país inteiro simplesmente porque o executivo não lhe presta culto? Alguém seriamente duvida, após mais de 30 anos de conchavos criminosos constantes e jogatinas pseudopolíticas de corrupção, que a articulação política que o “centrão” pede é simplesmente o ato de “liberar verbas” a parlamentares? Alguém realmente acha que isso é teoria da conspiração e “balela”? Por favor, parem. A tal “articulação” que o centrão quer, é o mesmo modus operandi da Câmara dos Deputados há décadas; e isso não é segredo a ninguém.

A tensão entre o Presidente da República e o do Congresso tende a acabar em breve, pelo endurecimento de Bolsonaro, e pela esperteza de Maia que logo perceberá que dessa pedra não sairá leite algum.

Bolsonaro é criticado por não confiar na grande mídia que havia declarado guerra contra ele antes mesmo das eleições; durante a campanha presidencial tentaram queimá-lo com matérias de cunhos pessoais que corriam em segredo de justiça; inventaram uma matéria para dizer que ele recebia doações de empresários em forma de disparos de mensagens no Whats App, hipótese jamais comprovada ou sequer lembrada pela própria jornalista que escreveu a matéria e os demais jornais do país que ignoraram a Fake News do ano de 2018.

Bolsonaro é criticado por não articular uma proposta que já está no congresso para ser avaliado pelos Deputados; que sandice política é essa da qual o Presidente tem que ir ao Congresso convencer parlamentares de que a reforma mais urgente de todas no Brasil é realmente urgente, e que eles precisam trabalhar nela sendo que eles foram eleitos justamente para isso. O presidente deve lembrar aos parlamentares quais são as suas funções? Será que alguém está escutando o que suas próprias bocas dizem?

É verdade que Maia e Bolsonaro não se ajudam também, mas até onde é somente culpa do Presidente? Esta é a questão que poucos da grande mídia exploram.

Bolsonaro é criticado por ir ao cinema com a esposa, por viajar para encontros internacionais, e até mesmo por não confiar naqueles que fizerem de suas vidas o ato puro e simples de atacá-lo diariamente, sem escrúpulos e sem preocupações com o país.

E veja, não estou pedindo para que o amem, nem que jornais comecem a elogiá-lo; estou apenas esperando que jornais façam jornalismo e não militâncias; pouco me importa que sejam pessoalmente favoráveis ou contrários ao conservadorismo e ao liberalismo, as coisas nem sempre rondam o campo do nosso querer, mas a sinceridade no trato e a análise isenta deveriam voltar a ser a reza matinal de nossos jornalistas.

Bolsonaro numa só viagem conseguiu 10 bilhões na concessão de Alcântara ao uso dos EUA, conseguiu uma indicação na OCDE e uma possível entrada na OTAN, tudo isso em 3 meses de governo. No Chile conseguiu um puxão de orelha ao falar merda de Pinochet, mas também conseguiu uma união liberal de países preocupados em fazer a América do Sul crescer com a confiança do mercado.

Que Bolsonaro tenha caído em aprovação popular, acredito com ressalvas, mas será que tal queda também não seja pelo assassinato de reputação que está acontecendo agora mesmo em qualquer grande jornal do país? Fica a pergunta a ser respondida após os apelos ideológicos pessoais tiverem sido domados.

Temos que voltar a ter a verdade como meta, a sinceridade de análise como mantra. O jornalismo não é religião, jornalistas não são deuses, todos devemos reconhecer tropeços e, no silêncio de nossos quartos, ou debaixo de um chuveiro, deveríamos repensar constantemente nossas condutas com sinceridade e sem interferências. Quando nos encontramos, no exotismo de uma sessão de Yoga ou numa oração ortodoxa, devemos pensar se estamos sendo sinceros, se somos donos de nossas opiniões ou meras marionetes de ideias correntes, galhos secos à deriva sob a mão invisível – porém pesada – do sistema.

As críticas negativas são essenciais, todos nós nos forjamos diuturnamente através delas, isso se chama processo de maturação humana. Mas as críticas devem sempre vir com responsabilidades e análises reais, e não através do mero desejo de que o opositor fracasse. Sejamos homens para criticar com efusão e dureza, e mais homens ainda para elogiar com sagacidade e responsabilidade; que o mal seja mal e o bem seja bem; se dobrarmos a realidade por apego a visões ideológicas ou gostos políticos particulares, então já fracassamos enquanto analistas políticos e mais ainda como jornalistas.

O processo de isenção passa pelo ato de abstração das nossas ideologias de coleira; sei que é difícil, ninguém disse que seria fácil; mas o caráter não é provado com algodões doces, mas com fogo e ferro. Desde Platão até hoje, a caverna continua sendo um mistério, nossas opiniões continuam sendo formadas por sombras numa parede, conduzidas por ideias e pessoas que, por vezes, sequer conhecemos; e assim como era difícil na República ateniense, ainda hoje é custoso e dolorido se libertar das cavernas ideológicas e voltar para contar a verdade aos ainda cativos. O jornalista deveria ser aquele que transmite a todos os fatos enquanto fatos, aqueles que desnudam as ilusões mostradas nas paredes das cavernas com verdades investigadas e anotadas em jornais. No entanto, no Brasil, a militância virou praxe e orgulho; termos jornalistas que se tornaram emissários de ideologias, os porteiros que vetam aqueles que querem sair da caverna, algo é louvado e admirado.

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As posições expressas em artigos por nossos colunistas, revelam, a priori, as suas próprias crenças e opiniões; e não necessariamente as opiniões e crenças do Burke Instituto Conservador. Para conhecer as nossas opiniões se atente aos editoriais e vídeos institucionais

Pedro Henrique Alves

Pedro Henrique Alves

Filósofo, colunista do Instituto Liberal, colaborador do Jornal Gazeta do Povo, ensaísta e editor chefe do acervo de artigos do Burke Instituto Conservador.

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