Em defesa da Lava-Jato

A operação Lava Jato foi realizada por todo um desassombrado coletivo de juízes, procuradores e agentes policiais que expuseram e estancaram o maior esquema de corrupção de toda a nossa história. A operação já repatriou bilhões de reais para os cofres públicos e prendeu políticos que faziam o que de pior se possa imaginar no sentido de ferir a democracia e fragilizar as instituições. Desde seu início, a operação teve de enfrentar pressões inimagináveis dos poderosos partícipes do esquema pró-corrupção, sendo salva pelo apoio popular expresso por milhões de brasileiros que ocuparam as ruas várias vezes. Quando juiz, Sergio Moro não deu trégua aos corruptos. Agora, como ministro da Justiça, continua não lhes dando trégua; e, dentre outras iniciativas, elencou medidas contra o crime organizado e a corrupção; medidas estas levadas ao Congresso Nacional na forma do Projeto de Lei 1.864/2019, conhecido como “pacote anticrime”. Com a operação Lava-Jato, os corruptos e seus defensores sofreram duros golpes: foram presos vários chefões de esquemas de corrupção, outros estão já processados e outros tantos estão sob investigação. A aplicação da lei – que é para todos – levou-os ao desespero e foi neste clima de desespero que engendraram a trama do site The Intercept .

A franja pró-corruptos no Brasil é bastante intensa e tem um lema com o qual vai às ruas, pauta a grande imprensa e invade a cena internacional: “Lula Livre!”. Com efeito, melhor lema não poderia ser levantado pelos defensores dos corruptos, sendo o ex-presidente Lula da Silva, notório corrupto brasileiro, réu em vários processos, já condenado e preso em um deles por corrupção e lavagem de dinheiro. Um dos fundadores do site The Intercept, Glenn Greenwald, o “jornalista” norte-americano que vive no Brasil e que está à frente da trama é uma estrela da esquerda com atuação no Brasil e no mundo, e o PT já avisou que vai levar o resultado do crime do site do seu aliado para fortalecer a campanha “Lula Livre” na ONU. Como é de especialidade da esquerda, eles já preparam uma “narrativa” internacional contra Sergio Moro e a Lava Jato.

Aqui no Brasil, a campanha, arrimada em um crime escancarado, tem como fito imediato a destituição de Sérgio Moro do cargo de ministro da Justiça e, para isso, conta com o empenho dos setores “progressistas” da grande imprensa e com o entusiasmo de algumas figuras carimbadas e poderosas, como o senador Renan Calheiros e alguns ministros do STF. A esquerda aproveitou a cortina de fumaça lançada pelo site para fazer o que mais sabe: chantagear e colocar o país em xeque. É quase uma rebelião de presídio tentando fazer os policiais de reféns.

Muito já se falou acerca do necessário respeito ao estado democrático de direito e não seremos nós a desmerecer as teses que o defendem. Não obstante, é preciso notar que a força tarefa da Lava–Jato atuou em um contexto no qual o estado de direito já estava sob grave ameaça e que nem sempre se defende a democracia com mero legalismo. Talvez possa haver alguma irregularidade no fato de um juiz trocar mensagens com um procurador, mas o que os puristas que exigem uma conduta formalmente irrepreensível de Sérgio Moro não compreendem é que, embora não se deva combater o crime com as armas do crime, tampouco se combate um esquema criminoso dessas proporções com excessivo formalismo jurídico.

O que, basicamente, os vazamentos criminosos do site The Intercept mostraram é que o juiz Sérgio Moro, autoridade de primeira instância responsável pela operação Lava-Jato, estava atuando intensamente para combater a corrupção, ou seja, fazendo exatamente o que se espera de um juiz decente: enfrentando as poderosas forças da corrupção que mandavam e desmandavam no Brasil sem haver quem ousasse desafiá-las. Todos sabemos que a Lava Jato não apurava um crime qualquer, mas um esquema bilionário de corrupção que afundaria ainda mais o Brasil caso não tivesse sido corajosamente interrompido pela força tarefa que hoje se vê sob ameaça de descrédito por mero formalismo ou cacoetes exegéticos de advogados (e ordem de advogados) cuja ideologia salta aos olhos e cujo sentimento de amor à pátria é nulo; do contrário não trabalhariam em prol do que se configurou como um crime de lesa–pátria.

A população brasileira tem uma dívida de gratidão com aqueles que enfrentaram (e ainda enfrentam) o maior esquema de corrupção da história e que lutam para soerguer o país do descalabro. Nós temos uma dívida de gratidão com Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, cujas conversas foram hackeadas por criminosos. Será que a ninguém espanta que estejamos diante de um esquema criminoso tão poderoso cuja rede é capaz de hackear o celular de qualquer autoridade da República, desde um deputado e um procurador até o Ministro da Justiça e o presidente da República? Seguiremos fazendo tempestade pelo fato de o juiz ter conversado com o procurador sem atinarmos para a gravidade de terem sido interceptados justamente aqueles que trabalham incessantemente para interceptar o descomunal esquema de corrupção no nosso país? O que é mais escandaloso: que cerca de 301 políticos tenham estado envolvidos em corrupção e lavagem de dinheiro ou que um juiz e um procurador conversem sobre o caso para apurar o esquema e debelá-lo? O que deveria causar mais escândalo: que um juiz e um promotor conversem em um chat privado sobre a organização criminosa responsável pelo maior esquema de corrupção da história contemporânea ou que essa organização criminosa exista? Alguns se escandalizam com a corrupção, outros com os que a combateram com firmeza. Cabe ainda a questão: o que deve ser considerado crime: que o juiz Sérgio Moro tenha ferido certos preceitos da ética da magistratura para combater um gigantesco esquema de corrupção que estava acabando com o nosso país ou que um sujeito sem a menor credibilidade atente contra a soberania nacional por meio de espionagem criminosa com o objetivo de obstruir a justiça e libertar um corrupto?

Pouca gente tem atentado para a gravidade do precedente aberto por Glenn Greenwald que – conforme explicação dada pelo professor de direito do Insper, Evandro Pontes, no Podcast “Direito e Espionagem”, do site Senso Incomum – desenvolve um “mercado de corretagem de informação ilícita.” Sendo o Estado o detentor da investigação e da pena, não se pode permitir que, a pretexto de investigação privada, haja a violação do direito de privacidade. O artifício de Greenwald, explica o professor, foi se prestar ao papel de intermediário de informações ilícitas aproveitando-se da brecha constitucional que assegura o sigilo da fonte. Deixando a espionagem em sigilo, Greenwald deu voz a um crime (interceptação telefônica ilegal), protegeu um criminoso (o hacker espião) e tentou soltar outro (Luiz Inácio Lula da Silva).

Como se sabe, o PT, mesmo tendo sido alijado do Governo Federal, estende seus tentáculos de influência por muitas instituições brasileiras, dentre as quais a escancaradamente ideológica e partidária OAB cujo presidente chegou a afirmar que “Moro banca o chefe da quadrilha”. Para esses que estão preocupados unicamente em fazer estardalhaço político, o fato levantado pela PF de que quase mil autoridades da República tenham tido suas conversas íntimas vasculhadas não é motivo de preocupação; o fato de que as autoridades hackeadas tratam de questões de Estado e que tais questões devem ser sigilosas para a segurança do país também lhes é de somenos importância; tampouco haverão de se preocupar com os cidadãos comuns que poderão vir a ser vasculhados sem maiores cerimônias por hackers ciosos da proteção que haverão de ter por parte dos que hoje se unificam na defesa de Glenn Greenwald e do fio vermelho que leva a ele.

Há forças políticas no Brasil que estão, mais que nunca, em confronto aberto. Confronto este que se dá no Parlamento, no STF, na Imprensa, nas Redes Sociais, etc. Quem definiu essa batalha de forma sintética foi o jornalista Jr. Guzzo ao tuitar: “A clonagem do telefone do ministro Sérgio Moro é apenas um episódio a mais na única disputa de verdade que existe hoje no Brasil: a guerra para derrubar Moro, liquidar a Lava Jato, soltar Lula, sabotar o governo e devolver o país aos ladrões – centrão, PT, empreiteiras. Só isso.”

De fato um dos objetivos do esquema criminoso dos hackers com o The Intercept é a soltura do ex-presidente Lula. Mas se Sérgio Moro e Deltan Dallagnol desmoronarem e a Lava Jato com eles, Lula não será solto sozinho; virá com ele uma penca de corruptos. O Intercept e a imprensa vendida que está comendo o milho criminoso da sua mão falam em conluio de Sérgio Moro com os procuradores da Lava-Jato. Até agora, porém, o que ficou demonstrado foi um conluio de hackers estelionatários com os defensores de corruptos na tentativa de desmoralizar os homens que conduziram a maior operação anticorrupção da história. Tudo que se enxerga por trás da fumaça criminosa do site The Intercept é que, sejam autênticas ou adulteradas, não há nada demais nas mensagens roubadas por bandidos e presenteadas ao site; a ilegalidade está no roubo. O que o Intercept e a mídia progressista defensora dos corruptos têm nas mãos é pouca coisa; quando muito, os farelos da sua malícia e mediocridade. Mas é com isso que insistem em tentar desmoralizar a Operação Lava-Jato, soltar os corruptos já presos e garantir aos corruptos soltos o conforto de uma total impunidade.

O jornal Folha de São Paulo estabeleceu uma parceria com o site Intercept a fim de divulgar as mensagens privadas trocadas em vários grupos do Telegram, desde 2014, pelos procuradores que atuaram na Lava-Jato, incluindo as conversas com o então juiz Sergio Moro. O material – chamado despudoradamente pelo repórter da Folha de “acervo” – inclui, além das mensagens, vídeos, áudios, fotos e documentos compartilhados no aplicativo. O descaso com que o direito à privacidade tem sido tratado nessa polêmica só não espanta mais do que a insistência com que se tenta prejudicar a reputação dos integrantes da força tarefa da Lava-Jato apontando algumas pequenas transigências na ética profissional que não guardam o menor senso de proporcionalidade em relação ao gigantesco esquema criminoso com o qual se batem.

Em uma das supostas mensagens repercutidas por esse jornal, Moro teria sugerido, a despeito da imposição de sigilo pelo STF, que se tornasse pública a informação de que a Odebrecht havia pago propina às autoridades da ditadura venezuelana. Provavelmente não foi essa a intenção da Folha, mas as mensagens que o jornal divulgou sobre a atuação da Lava Jato, de Sergio Moro e, particularmente, do procurador Deltan Dallagnol em relação à Venezuela, se realmente verídicas, são de molde a elevá-los ao panteão dos heróis da liberdade, preocupados genuinamente em combater não apenas a corrupção em seu próprio país, mas em denunciar o esquema no país vizinho e favorecer o povo subjugado pela narcoditadura corrupta de Nicolás Maduro.

Na reportagem está registrado que “integrantes da Força Tarefa da Operação Lava Jato se mobilizaram para expor informações sigilosas sobre corrupção na Venezuela após receber uma sugestão do então juiz Sergio Moro em agosto de 2017” e que os diálogos “indicam que o objetivo principal da iniciativa era dar uma resposta política ao endurecimento do regime imposto pelo ditador Nicolás Maduro ao país vizinho, mesmo que a ação não tivesse efeitos jurídicos”. Em meio a discussões técnicas e pragmáticas, o procurador Dallagnol procura convencer seus colegas da legitimidade moral da ação sugerida por Sergio Moro, afirmando o propósito de “contribuir com a luta de um povo contra a injustiça, revelando fatos e mostrando que se não há responsabilização lá é porque lá há repressão.”

Ora, vê-se claramente que o objetivo da ação foi o mais louvável. A ditadura de Nicolás Maduro é tão perversa e repulsiva quanto todas as outras ditaduras e regimes genocidas de que já tivemos notícia. Que alguém tome iniciativa contra esse regime que reprime, prende, tortura e mata de bala e de fome o seu povo é uma exigência da consciência civilizada. No século passado, na Alemanha, o nazismo cresceu e avançou sobre a Europa com o caminho facilitado pela leniência e pusilanimidade de dirigentes dos países democratas; até que Winston Churchill os desmascarou e desmoralizou, levando à reação que haveria de derrotar o nazifascismo.

Em relação à ditadura da Venezuela, para além de leniência e pusilanimidade, houve apoio (inclusive apoio com dinheiro de corrupção, que foi denunciada pela própria Lava-Jato) e ainda há cumplicidade por parte do PT e da quase totalidade da esquerda brasileira. Não fosse isso o bastante, querem agora, com material suspeito obtido de forma criminosa, criminalizar e destruir a reputação de uns poucos que tiveram a coragem de enfrentar o fascismo bolivariano. Não há ilicitude alguma em denunciar o esquema de corrupção da mais cruel ditadura latina; trata-se antes de dever moral. É o que afirma – e eu apenas replico e assino em baixo – a intrépida e coerente deputada Janaína Pascoal:

“Só digo uma coisa: se Moro e Lava Jato estavam mesmo preocupados em desmascarar a ditadura na Venezuela, ditadura financiada pelo governo petista, gosto ainda mais deles. Ditadura é ditadura, não importa se de direita ou esquerda. Revelar os meandros do financiamento a ditaduras não constitui ilicitude. Pelo contrário, constitui dever! Os líderes do petismo são diretamente responsáveis pelo que ocorreu e ocorre na Venezuela. Os omissos também!”.

 

O fio vermelho

Segundo indicaram as investigações da Polícia Federal, Walter Delgatti Neto, o “Vermelho” hackeou cerca de mil autoridades da nossa República, dentre os quais o presidente, o ministro Paulo Guedes, ministros do STF e do STJ, a atual procuradora-geral, Raquel Dodge, os presidentes da Câmara e do Senado e dezenas de deputados e senadores. A ponte dos hackers com Glenn Greenwald, o notório “Verdevaldo”, foi feita pela “vermelha” Manuela D’Ávila, ex-deputada do Partido Comunista do Brasil e candidata a vice-presidente na eleição passada, na chapa do Partido dos Trabalhadores. O outro suspeito preso com Walter Delgatti dissera em interrogatório que “Vermelho” lhe havia confessado que o interesse do hackeamento seria vender o produto do crime ao PT. O mesmo “Vermelho” que confessara o interesse pecuniário de vender ao PT as mensagens criminosamente obtidas disse em interrogatório que as deu ao site de graça. Convenhamos que, dada a ficha criminal do estelionatário, é improvável que ele tenha dado de graça os produtos do seu mais audacioso crime a quem quer que seja. Se os passou de graça ao site, o mais provável é que alguém o tenha pago para assim proceder. Quem teria feito isso?

Em qualquer investigação policial há uma pergunta básica: a quem interessa o crime? No caso em pauta, o crime tem interessado a corruptos e aos defensores dos corruptos. O PT, por exemplo, tem feito das mensagens divulgadas pelo site de Greenwald o eixo de sua atual mobilização política. Com elas pretendem soltar o chefe Lula da Silva, desmoralizar a Justiça brasileira, aniquilar a Operação Lava Jato e prender o ministro Sergio Moro. Não é pouca coisa. Do circunstancial apelido de Walter Delgatti ao matiz ideológico de Manuela D’Ávila e do PT, parece cada vez mais provável que haja um fio vermelho a envolver toda a trama verdevaldeana.

Em entrevista exclusiva à revista Crusué, o ministro Sérgio Moro teceu algumas importantes considerações sobre o caso. Destacamos os seguintes trechos:

“A minha impressão, pelos ataques e pela forma como estavam sendo divulgados, focada em supostos escândalos da Lava Jato, era que tinha um direcionamento específico para impedir novas investigações […] Está claro também que o rol de atingidos transcende a Lava-Jato. Por que, até o momento, só foram divulgados supostos materiais relacionados à Lava-Jato?”

“Na divulgação, pelo sensacionalismo utilizado, pelo desrespeito às boas regras do jornalismo e pelo teor das matérias, me pareceu que o objetivo era anular condenações da Lava-Jato e impedir novas investigações. Se isso foi direcionado a um ou a vários indivíduos, é uma questão que não me cabe responder

O PT sempre insistiu obcecadamente em acusar Moro e jurar inocência de Lula. Tudo no PT é uma grande farsa que se mantém porque, como para todo partido de matriz totalitária a lei só vale para os adversários, enquanto ele próprio como partido e nas figuras dos seus grandes líderes estará sempre acima da lei. Vejam que Lula, o líder idolatrado, foi julgado e condenado em 1ª Instância, em 2ª Instância e no STJ. Tendo recorrido várias vezes ao Supremo Tribunal Federal, saiu sempre derrotado. Se Lula fosse de fato inocente, toda a Justiça brasileira seria uma farsa e o PT não deveria estar tão preocupado com um único juiz, mas sim em submeter todo o sistema judiciário brasileiro ao seu domínio e controle; aliás, não se duvide que seja esse o seu recôndito interesse, inconfessado objetivo.

 

A batalha com ministros do STF

Não é só do PT que vêm os ataques à Lava Jato. Os que se destacam nessa força tarefa atuando em defesa da Justiça e dos interesses do Brasil precisam enfrentar também os poderosos ministros do Supremo Tribunal Federal. Eis, de modo sintético a complexa trama na qual os senhores ministros do STF enredaram o procurador Deltan Dallagnol:

O presidente do STF, Dias Toffoli, mandou suspender as investigações baseadas em informações do Coaf e da Receita Federal que não tenham sido autorizadas judicialmente (tal decisão é tomada em um contexto no qual as esposas dos ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli estavam às voltas com o fisco); O noticiário dá conta de que os todo-poderosos do STF “articulam o afastamento do procurador da República Deltan Dallagnol do comando da Lava Jato, em Curitiba”. A ira do ministro do STF contra Dallagnol deve-se ao suposto conteúdo dos diálogos obtidos criminosamente por hackers e que indicavam uma movimentação do procurador no sentido de incentivar investigação de membros do Supremo); O ministro Alexandre de Moraes suspende investigações da Receita Federal que atinjam ministros da Corte e seus parentes; Após o ministro Fux impedir destruição do material obtido de forma criminosa pelos hackers, Alexandre Moraes determina o envio das mensagens hackeadas ao STF, dando a este Tribunal acesso ao conteúdo de conversas pessoais de mais de mil agentes públicos que tiveram seu direito à privacidade violado por estelionatários, aumentando com isso ainda mais o seu poder pela posse do referido material.

O site Uol, a já assim batizada Folha de S. Verdevaldo e outras mídias que aderiram à hipócrita “vaza-jato” usaram dos seus parcos recursos literários para distorcer fatos e dar-lhes uma interpretação na qual tentam transformar o mocinho em bandido, o herói em vilão, o certo em errado. As matérias tendenciosas, produzidas a partir de transcrições de mensagens hackeadas, deram ânimo ao ministro Gilmar para que elevasse ainda mais o tom contra a operação Lava-Jato. Mas o que houve de tão escandaloso nas mensagens transcritas pelo Uol para inflamar ainda mais a ira do ministro Gilmar Mendes? É que Dallagnol teria sugerido a um partido político, o Rede Sustentabilidade, que acionasse o ministro Gilmar Mendes na Justiça; isto em função de suspeitas levantadas em órgãos de imprensa quanto a uma possível proteção dele em relação a pessoas investigadas por corrupção. E que órgão da Justiça, pela sugestão de Dallagnol, deveria ser acionado? O STF, justamente o órgão no qual atua o referido ministro. O portal Uol explica, em tom de estupefação, que um procurador de primeira instância (no caso Dallagnol) não poderia procurar, quer dizer, investigar, um juiz do Supremo.

Estranhamente, as mensagens roubadas não dão conta de que o procurador tenha tomado alguma direta iniciativa em relação ao ministro suspeito, mas apenas teria sugerido isso a outrem. Assim, os autores da matéria arrancam dos procuradores da República até mesmo o direito de sugestão. Está lá na matéria do Uol:A articulação, que envolveu o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), resultou na apresentação de uma ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) no Supremo para impedir que Gilmar soltasse presos em processos que ele não fosse juiz da causa”. Que resultado terrível, não foi mesmo? Jamais alguém deveria desconfiar que Gilmar Mendes fosse capaz de exorbitar em sua competência para soltar alguém envolvido em corrupção…

Pois bem, os redatores do Uol contam, com notável vigor dramático, que os procuradores da Lava Jato, empolgados com a renovação no Senado nas eleições de 2018, conversaram sobre a possibilidade de impeachment do ministro, a ponto de chegarem “a fazer contas em um chat particular sobre os votos necessários para o impedimento de Gilmar”. Outro procurador, Diogo de Castro, teria chegado ao cúmulo de, em conversa privada, indagar a um colega:“Dá para sonhar com o impeachment de GM? Coitados dos procuradores! Não só lhes é interditado sugerir, como também não podem fazer contas nem sonhar. Como eu não sou procuradora, confesso que tenho sonhado com o impeachment de Gilmar Mendes e de outros ministros do STF.

Os meticulosos redatores também informam que o procurador Dallagnol não escondia sua animosidade em relação ao ministro Gilmar Mendes; isto especialmente em função de uma entrevista de Gilmar ao jornal O Estado de São Paulo, onde o ministro afirmava que “no projeto das 10 medidas contra a corrupção, apadrinhado por Dallagnol, havia iniciativas ‘completamente nazifascistas’. Atente-se para o fato de que o projeto das 10 medidas contra a corrupção foi um projeto de iniciativa popular, subscrito por mais de 2 milhões de brasileiros. Tudo nazifascista!? Não satisfeito, Gilmar, do alto da sua dignidade de ministro, acrescentou isto: “É coisa de tarado institucional”. Sendo pessoa imediatamente visada pela incontinência verbal do ministro Gilmar, o procurador Dallagnol, ainda em conversa no chat privado, teria dito: “Vou responder dizendo que Gilmar é um brocha institucional”.

Enquanto essa novela não terminava o ministro Gilmar Mende tratou de blindar o precioso Verdevaldo, o grande receptador e atravessador de material criminosamente interceptado, concedendo uma medida cautelar que impede autoridades públicas de investigarem e responsabilizarem o “jornalista” Glenn Greenwald pela publicação de mensagens vazadas da Lava Jato e determinou que qualquer iniciativa nesse sentido deve ser suspensa.

Vê-se que os que trabalham em prol do establishment corrupto, os que estão ou têm comparsas na mira da operação Lava Jato, ao mesmo tempo em que apostam tudo contra o ministro Sergio Moro, miram também insistentemente no coordenador da força-tarefa, o procurador Deltan Dallagnol. Primeiro tentaram neutralizá-lo e prejudicá-lo com base nos supostos diálogos publicados pelo site The Intercept. Como não se pôde provar que as mensagens eram verdadeiras; como, mesmo se o fosse, não havia ali nenhuma conduta ilícita e, por fim, como ficou claro que a ilicitude não estava em qualquer conversa do procurador mas na violação da sua privacidade por meio de interceptação criminosa, então o procedimento foi arquivado. Não obstante, dois representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – essa entidade vergonhosamente parcial e ideológica, cujo presidente lulista chamou o ministro Sergio Moro de “chefe da quadrilha” achou por bem pedir o desarquivamento da reclamação disciplinar contra Dallagnol.

Note-se bem que essa primeira investida contra Deltan baseia-se no hackeamento criminoso blindado sob o pretexto da liberdade de expressão do “jornalista” Glenn Greenwald. Liberdade de expressão essa que será negligenciada pela outra frente de ataque ao procurador, aquela que move contra ele processo administrativo e disciplinar (que pode resultar inclusive em demissão) por ter feito críticas ao Supremo Tribunal Federal durante uma entrevista à rádio CBN. Na referida entrevista Dallagnol referiu-se a Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski como “os três mesmos de sempre (…) dão sempre os habeas corpus, que estão sempre se tornando uma panelinha assim…que mandam uma mensagem muito forte de leniência a favor da corrupção”.

Vê-se que o que importa aqui não é a lei, não é o direito à privacidade ou o direito à liberdade de expressão. Tudo isso é instrumentalizado e relativizado de acordo com a conveniência ao propósito maior que é aniquilar a Lava Jato ao atingir seus principais nomes e reestabelecer o caos da corrupção e da imoralidade, começando por soltar o verdadeiro “chefe da quadrilha”, Luís Inácio Lula da Silva. Aliás, esse mesmo oportunismo, essa mesma falta de princípios, de lógica, de coerência e compromisso com a verdade fez-se presente por ocasião da divulgação dos áudios da Operação Cravada, da Polícia Federal. No áudio em questão uma das lideranças do PCC, o traficante Alexsandro Roberto Pereira, conhecido como “Elias”, revela que o Partido dos Trabalhadores mantinha com eles um “diálogo cabuloso”. Ora, mesmo se tratando de uma interceptação legal realizada pela Polícia no combate ao crime organizado e ao tráfico o PT, ofendido pelo vazamento do áudio, afirmou que entraria na justiça contra o ministro Sergio Moro para reparar os danos provocados pela sua divulgação. Quer dizer então que hackeamento criminoso da República com conteúdo manipulado e utilizado a conta gotas para fazer chantagem, prejudicar a Lava Jato e soltar Lula pode, mas interceptação legal da Polícia Federal do líder do PCC não pode porque macula a bela e moral imagem do Partido dos Trabalhadores?

Certa feita o pseudojornalista Glenn Greenwald acusou o site O Antagonista de ser porta-voz da Lava Jato, o que é uma falta de consideração com os milhões de brasileiros que querem ter essa honra. Porta-vozes da Lava Jato somos todos os brasileiros que vibramos de esperança e que começamos a nos entusiasmar pelos rumos da política porque passamos a acreditar que algo de bom estava sendo feito e que a praga da corrupção estava começando a ser eficazmente combatida por homens sérios e honestos com força e audácia suficientes para fazer frente ao circo de horrores que se havia tornado o exercício da política no Brasil. Porta-vozes da Lava Jato somos todos que confrontamos o establishment e que não nos deixamos mais intimidar pelo cerco ideológico que cerceia o pensamento e a liberdade e que só deixa expressar-se o bom-mocismo moderado e servil cuja crítica ao mecanismo não vai além de um arranhão que não muda estrutura alguma.

O povo já foi às ruas várias vezes para dar o seu recado, reafirmando que reconhece nos agentes da força tarefa da Lavo-Jato o heroísmo e a força dos bons e que saúda nos seus principais representantes a intrepidez e o idealismo de todos os que contribuíram para desarticular esse grandioso e pernicioso esquema de corrupção. Mas, para além do idealismo com o qual os saudamos, é necessário o realismo que compreende que um combate de tais proporções não poderia ter sido travado e vencido sem uma rede fortemente articulada e em sintonia. Ao final, o que todas as interceptações (verídicas ou não) mostraram foi isso: pessoas trabalhando em espírito de equipe, com força de vontade, hombridade, lucidez, patriotismo e sentimento de justiça. A Lava-Jato é o começo de uma nova era na política do Brasil; é a faxina necessária para a grande mudança; é o campo arado para a nova geração de políticos; é o prenúncio de um novo Brasil.

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As posições expressas em artigos por nossos colunistas, revelam, a priori, as suas próprias crenças e opiniões; e não necessariamente as opiniões e crenças do Burke Instituto Conservador. Para conhecer as nossas opiniões se atente aos editoriais e vídeos institucionais

Catarina Rochamonte

Catarina Rochamonte

Doutora em Filosofia e vice-presidente do Instituto Liberal do Nordeste.

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