Estágio com genocidas. Parte II

Acanhado entrou no local com todos aqueles papéis enrolados por debaixo do braço, e emocionado deparou-se com os seus maiores ídolos, os santos de que era devoto.

Naquele imenso pátio que dava a impressão de não se findar, compunham-se decorativos peculiares. As mesas não eram em quantidade demasiada, mas o tamanho das poucas compensava a miudeza quantitativa.

Pela soma total contavam-se 5 mesas, quatro eram distribuídas “aleatoriamente” e a maior fixa-se no centro, e com a circunferência exuberante acomodava doze cadeiras. Os assentos eram diferentes e mais luxuosos; almofadas não eram puro trapo, o banquete não assemelhava-se ao de Platão, mas àqueles doze apóstolos do inferno eram servidos os mais belos e apetitosos pratos.

As largas paredes não eram cruas. Decoravam-nas quadros enormes, com imagens que conservavam hereditariedade entre si. O primeiro quadro era de Caim e contava alguma data tão distante que o tempo já havia mastigado os números que ficavam no rodapé de cada imagem. A última imagem era de Fidel e entre Hitler e Mao estava emoldurado Stálin.

Enzo só se assustou o tamanho de tudo e o susto se elevou quando ao lado viu o antigo estagiário empalhado, aliás, a cabeça apenas do antigo estagiário empalhado. Ao ver a cabeça, logo trouxe a mente o episódio de Lamarca, quando o mesmo esmigalhou a cabeça de um prisioneiro e não pestanejou em procurar o herói entre os quadros.

Nesse esforço percebeu que os quadros seguiam hereditariedade e também hierarquia. As molduras com as fotos de Lamarca, Marighella e outros, estavam em lado oposto às maiores, num ato de reverência aos mestres supremos. Encontravam-se emoldurados os brasileiros numa seção chamada “os que lutaram pela democracia no Brasil”.

Ao canto tinha uma salinha, com uma madeira desgastada que trazia consigo o escrito “Escravo por opção, não?”. O garoto acanhado perguntou para um sujeito ao lado dele que estava a distribuir charutos cubanos quem estava lá e o que acontecia dentro do ambiente. Ao tocar o servente surpreendeu-se a ver – por coincidência – um sujeito oculto usando a máscara do “maior ditador que já vimos” (conforme ele aprendeu na universidade). Era a máscara de Médici.

O garoto estranhou. No inferno um ditador deste porte deveria ter o maior quadro, sentar-se na maior mesa e melhor cadeira. E não ser um simples distribuidor de charutos. O “monstro” do AI-5 era maior do que uma bandeja. Todavia raciocinado rápido o estagiário concluiu que as coisas podiam ser invertidas: o inferno não era tão ruim quanto a avó católica dizia.

As honrarias eram distribuídas conforme a luta pela vida, contra os Pobres e pela democracia. Pensou que era certo um ditador daquele porte ser humilhado servindo os salvadores da humanidade.

Enfim, depois de tudo perguntou e recebeu do mascarado a resposta:

– Já percebi que você é novo aqui. Lá é onde Foucault apanha diariamente.

Entendido, quando ia virar-se viu um monte composto por tábuas de passar roupa, vestidos, maquiagens, navalhas pronto para pegar fogo. Simone de Beauvoir segura o isqueiro e Frida a ajudava. As duas colocaram fogo em tudo, com raiva e o que o garoto ouviu foi somente:

– Agora é moda publicarem livros nos condenando. Ai meu Marx! Moda não… isto é imposição de padrão de beleza.

Descartes bisbilhotando só passou atrás do sujeito que queimava bíblias, um tal de Robespierre, e balbuciou metodicamente:

– Será?

E saiu gargalhando.

Ao perguntar para outro servente, desta vez sem máscara, o motivo pelo qual o último estagiário não foi promovido e ainda foi morto e empalhado, recebeu a resposta:

– Primeiro, tenha certeza de que foi para o bem comum. Em segundo lugar, Lenin não gostou das Fake News que ele estava trazendo e decidiu preservar a verdade dos fatos. ‘Padrão Jornal Nacional’ eles disseram quando terminaram de empalhar.

Ouvindo o curto diálogo, passou Pilatos ao lado dos dois e disse:

– No meu tempo, era mais simples, eu sou o primeiro relativista irônico, não é mesmo novato? O que é verdade não interessa. Joga pro povão.

O garoto já estava muito deslocado e nervoso quando foi percebido por Napoleão, que o apresentou tudo quanto pode do ambiente. Mostrou-lhe Marx ainda finalizando O Capital¸ Hitler suicidando-se novamente, Nero admirando a fogueira. Mas só quando passaram por Mao o garoto quis fugir do lugar. Mao propôs que ficassem a sós, mas logo recebeu ressalvas de Napoleão.

Quando Robespierre ameaçava abrir seu volume único de Rousseau, Napoleão mandou com que todos cessassem com os afazeres, Hitler caminhava para arrumando o bigode com uma das navalhas que restaram, ignorando a ordem. E só parou pois Stálin o provocou novamente, o velhaco alemão errou o corte, e com medo diante do soviético e mão trêmula, fez com que a navalha cortasse a própria jugular.

Todos ignoraram isto e mesmo sem o líder alemão, respeitaram o pedido de Napoleão. Che já empolgado, pensou que a chamada séria era para estourar mais miolos, e muniu-se. Todos pararam, menos Foucault que ainda apanhava. Ao final de cinco minutos, fazia-se silêncio e Napoleão poderia apresentar o menino.

Apresentações feitas, o menino anunciou o motivo da vinda: apresentar-lhe-iam um novo genocida. Ao saber disso a festa foi gerou: Hitler ressuscitou, Foucault levou mais uma chicotada, Fidel acendeu um charuto que guardava para quando Lula morresse, até Mao soltou a criança que havia botado no colo e Che atirou para o alto.

As perguntas começaram. A primeira foi de Fidel, e suas manias de sexagenário:

– Diga garoto de qual país é nosso novo amigo?

– É do Brasil…

Nesse instante a festa parou. Todos começaram a lembrar dos ditadores mequetrefes que o Brasil lhes havia proporcionado. O tal Médici era um frouxo, não matou nenhum civil deliberadamente.

– Deve ser só outro “torturador” que veio daquela ditadura militar.

– Acertou, camarada Trótski. E além de tudo é fascista!

– Mamma mia, até que enfim estou fazendo discípulos, disse Mussolini.

– Acalmem-se pessoal, deixem o garoto falar, disse Marcuse.

– Desligue essa música, Adorno.

– Já desliguei, era um álbum do Chico e do Caetano, em homenagem ao Brasil. Ouvi dizer que o Chico combate o fascismo brasileiro num apartamento de luxo em Paris.

Napoleão novamente pediu silêncio e propôs que uma pergunta fosse feita por vez. Mas antes de iniciar o interrogatório, disse para tranquilizar:

– Amigos, vocês não ficaram sabendo que no Brasil a censura está imperando? Certamente o responsável é este novo genocida. O mais novo ditador. Naõ é verdade, Enzo?

– Na verdade, não é censura. É só combate às Fake News.

Guevara interferiu: 

– Entendo, estão falando mal dele e ele está, à pretexto dessa figura de linguagem, prendendo que quer. Prendendo quem discorda dele. Ótima estratégia, não é Lênin? 

– Não pessoal, quem está lutando contra as notícias falsas é o STF. Eles estão prendendo quem apoia esse genocida e censurando nas redes sociais. Respondeu o garoto.

Com dúvida Stálin ficou:

– Como assim? A corte tem mais poder do que ele? Que ditador age assim?

– Acalmem-se eu trouxe alguns jornais para explicar melhor, disse inocentemente o garoto.

– Alguns jornais? Nessa ditadura circula mais que uma fonte de informação? Isso me parece democracia, retrucou Mao.

Todos colocaram em dúvida esse novo integrante. Quando mais um tentou acalmar:

– Eu ouvi dizer que ele disse ser o “editor do Brasil”, editor até rima com ditador; gostei desse sujeito…

– Não camarada, quem disse isto foi um dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Vou mostrar-lhes depois um debate ótimo de um jovem filósofo no Brasil com um dos ministros. O nome do Filósofo é Felipe Neto, um o adoro, até sou membro no canal dele.

– Ah, eu desisto. Não se fazem mais ditadores como antigamente. Mas vocês disseram-me que ele era também um genocida, talvez o ponto maior dele seja este: mata como ninguém.

 Com esta lembrança do alemão o garoto se acalmou novamente. Alguém de longe perguntou quantas pessoas ele matou. O garoto prontamente disse:

– Em quatro meses, ele matou mais de 80 mil pessoas.

Todos ficaram estupefatos, ninguém dentre eles havia alcançado está marca em tão pouco tempo. Interessado Caim perguntou:

– Como ele mata as pessoas? Como Che, fuzilando? Como Stálin, em campos de concentração? Ou melhor, é tão reacionário que mantem a guilhotina?

– Bem – respondeu Enzo – digamos que ele mata as pessoas de doença. É isso! Bolsonaro mata as pessoas de doença.

Disse Mao surpreendido:

– Meu santo Marx, quem diria, uma guerra bioquímica. Adivinharei o que ele fez: criou um vírus em laboratório, omitiu este feito e disseminou o vírus. Depois se associou com organizações mundiais para esconder isto e dizer que não era contagioso entre os humanos para que se espalhasse rápido; mas logo voltou atrás para desestabilizar os regimes democráticos. Até cunhou um termo: “o vírus brasileiro, ou melhor a peste brasileira”. 

– Não, na verdade não foi assim. Murmura um tal de Olavo e alguns de seus alunos que quem fez esse procedimento foi a China. É melhor eu me corrigir, digamos que Bolsonaro matou por dar mal exemplo.

– Mau exemplo? – respondeu Sartre – você sabe o que acontece por aqui com quem tenta nos enganar? Onde já se viu matar com mau exemplo. Explique e não te mato, moleque.

– Fique calmo, benzinho, respondeu Beauvoir.

– Tentarei explicar. O vírus começou a se disseminar no Brasil em Março; o fascista até tentou cancelar o carnaval, mas outros políticos, prefeitos e governadores não deixaram. Depois do carnaval o genocida declarou emergência nacional, um estado crítico e daí começou uma série de medidas para ajudar a população, preocupando-se com a vida e com a economia. Ao mesmo tempo ele quis convencer a todos que a doença para alguns não passava de uma “gripezinha” e chegou até a frequentar manifestações que pediam democracia. O Felipe Neto disse até que ele uma vez espirrou na mão com que depois cumprimentou apoiadores.

– Só isso, gritou Fidel.

– Só, porque o STF não permitiu que ele fizesse mais nada, as decisões em relação às políticas para o bem comum são de responsabilidade da corte, dos prefeitos e governadores.

– Ora, um ditador que tem menos poder que um prefeito, essa é nova.

– Ah, mas agora vou falar sobre a cloroquina! Um remé…

E todos começaram a cogitar esperançosos:

– Ele envenenou a população! Genial.

– Matou dizendo que curava.

– Um sádico dos maiores, merece uma moldura das nobres.

Então Enzo concluiu:

– Exato. Ele começou a recomendar esse remédio sempre, e ele próprio tomou. É verdade que muitos médicos norte-americanos usam, que existem mais de 50 trabalhos que atestam a eficácia do remédio nesse tipo de vírus, que é cientificamente comprovado, mas a OMS e o Átila dizem que não, e o fascista insiste em recomendar e até mesmo usar.

– Então não pode ser veneno, imbecis, ele próprio tomou.

Todos perceberam a farsa, o garoto tentou correr e chegou até a abrir a porta para fugir, mas não deu tempo. Meses depois quando outro estagiário chegar, não verá mais nenhuma moldura, mas verá mais uma cabeça empalhada – com cabelo colorido em homenagem ao Felipe Neto.

Assim todos voltaram ao normal, esperando o próximo e Napoleão, fechando a porta balbuciou silenciosamente: É… esse tal de Olavo tem mesmo razão.

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Yuri Ruiz

Yuri Ruiz

Um jovem conservador, antifeminista, antimarxista e cristão.

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