O espírito de porco e o espírito do povo

Todos os anos, desde 2013, o Porta dos Fundos faz o seu Especial de Natal para ridicularizar a data cristã mais importante. Sem vocação para o humor ou criatividade, os atores exploram a religião alheia como sarcasmo e imoralidade, desrespeitando a própria religião e seus adeptos.

Fala-se muito em polarização, certo? Aqui já há uma. Enquanto pessoas sãs, com algum senso conservativo, enfim, inteligentes, comemoram o nascimento de Jesus com júbilo, entendem o propósito do 25 de dezembro, estúpidos, torpes, fúteis, ávidos por motivação pessoal e financeira, debocham dele, fazem escárnio dele. O judiciário, quando provocado sobre o caso, parece barata tonta ou dá uma de jacobino. Ou nem se dá conta do insulto satânico, tipo cego em tiroteio, ou contribui, se omitindo, para a revolução materialista em curso, inebriado por uma tal “liberdade artística” que despreza valores superiores. 

Nada de novo. Jesus disse que veio para dividir, trazer espada, não paz.

Na peça, Jesus está num prostíbulo. A historinha, como sempre, vem da Bíblia. É irritante, grosseira e, além de tudo, sem graça. Não quero perder tempo contando a história. Isso não importa.

A Bíblia, de fato, tem histórias marcantes, é um repositório de fé, humanidade, divindade. Sempre traz alguma lição para entender tudo que circunda a vida e o propósito humano e divino. Materialistas não entendem isso. 

Eu destaco uma história que se adequa ao Porta dos Fundos. 

Em Mateus 8, 28-34 está escrito:

Quando ele chegou ao outro lado, à região dos gadarenos, foram ao seu encontro dois endemoninhados, que vinham dos sepulcros. Eles eram tão violentos que ninguém podia passar por aquele caminho.

Então eles gritaram: “Que queres conosco, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do devido tempo?”

A certa distância deles estava pastando uma grande manada de porcos.

Os demônios imploravam a Jesus: “Se nos expulsas, manda-nos entrar naquela manada de porcos”.

Ele lhes disse: “Vão!” Eles saíram e entraram nos porcos, e toda a manada atirou-se precipício abaixo, em direção ao mar, e morreu afogada.

Os que cuidavam dos porcos fugiram, foram à cidade e contaram tudo, inclusive o que acontecera aos endemoninhados.

Eu creio que o Porta dos Fundos acredita na Bíblia. Logo, não pode o Porta dos Fundos, sem entrar em contradição, negar a veracidade do relato bíblico dos porcos endemoninhados se o Especial de Natal se inspira no Livro Sagrado, de onde vem a sua historinha escarnecedora. 

Olhem só onde aqueles espíritos vieram parar! Os suínos morreram, mas as almas continuaram mais vivas do que nunca. Elas estão no Porta dos Fundos. Bem que Platão, no Fédon, falava que a alma é imortal, reencarnando-se em corpos bons ou maus dependendo do passado de virtude ou vício.

O que é espírito de porco? É aquele que zomba para provocar ira no zombado, se incorpora em um sujeito desagradável, desconsidera, desdenha os sentimentos do zombado. Porta dos Fundos não se trata de fazer arte, mesmo que das piores delas. Trata-se de claro espírito zombeteiro das coisas cristãs. 

Claro que não ia ficar por isso mesmo. A humanidade ainda tem jeito se depender de mentes minimamente prudentes, preocupadas com o verdadeiro interesse público. 

O judiciário foi acionado. O Centro Dom Bosco de Fé e Cultura processou as empresas sobre o desenho do Especial de Natal deste ano e pediu o cancelamento do show e danos morais. Tem um porém. O juiz Luis Gustavo Esteves, da 11ª Vara Cível de São Paulo, achou que é apenas liberdade de expressão intelectual, artística, científica e de comunicação. Negou o pedido. 

E o Supremo o que acha disso? Liberdade de expressão! Foi assim que ele decidiu quando do especial de Natal de 2020. Um desembargador carioca tinha tirado a palhaçada do ar, a zombaria, mas um semideus, Gilmar Mendes, achou que era genuína liberdade de expressão. 

Enquanto isso, o deputado Daniel Silveira e o caminhoneiro Zé Trovão seguem em prisão domiciliar, como se a poeira toda do 7 de Setembro não tivesse baixado. Três meses se passaram. Cadê o risco para a ordem pública depois de três meses?

Está tudo muito claro. Não temos liberdade de expressão, que só existe quando todos podem usá-la. Ah! Agora entendi! Liberdade de expressão para quem se veste de uma vestimenta, fantasia, igualitária, certo? Isso tem nome: fascismo de esquerda. Em suma, para o Supremo Tribunal Federal, em um eterno cinismo ético, para progressistas liberdade de expressão, para conservadores um eterno, expressão vinda lá do alto do prédio do Supremo, silêncio eloquente.

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Sergio Renato de Mello

Sergio Renato de Mello

Sergio Renato de Mello, brasileiro, casado, Defensor Público de Santa Catarina, residente em Rio do Sul, Santa Catarina.

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