Toda e qualquer sociedade humana é constituída por diferentes tipos de pessoas que convivem em grupos distintos de maneira estratificada, e que a fim de suprir suas necessidades básicas e solucionar questões de ordem utilitária, harmonizam-se em um todo complexo, possibilitando que suas partes exerçam uma pressão natural umas sobre as outras dinamizando o aglomerado social sem que haja a disrupção civilizacional.
A ideia de uma sociedade justa e igualitária pressupõe que as sociedades atuais são injustas e desiguais e que a causa da injustiça é justamente a existência de uma divisão de classes. Portanto, o argumento falacioso é que existe a necessidade do surgimento de um grupo especial, uma elite suprassocial e transcendente que esteja imunizada contra a injustiça e que seja capaz de trazer o equilíbrio total abolindo qualquer estratificação humana, seja ela social, intelectual, econômica ou religiosa, ou seja, todos necessariamente devem ser vistos como iguais em todas as esferas possíveis e imagináveis. Dessa forma, este mesmo grupo que irá erigir a sociedade perfeita deve necessariamente ser intelectualmente e moralmente superior, além de possuir todos os meios materiais para que faça a revolução, e por conseguinte deve se tornar capaz de controlar tudo e todos, tornando-se uma força invencível e muito superior à sociedade a qual se pretende mudar. A promessa é que após o processo revolucionário haverá uma sociedade sem classes, justa e igualitária, porém sob o domínio de uma imensa e totalitária burocracia estatal e controlada por uma elite com poderes ilimitados.
Então quando é chegada a hora de devolver o poder para as mãos do povo isso não ocorre pela justificativa de que irão surgir novos desequilíbrios sociais e novas irrupções revolucionárias serão necessárias. Ainda que as premissas sejam verdadeiras a conclusão é inevitável e catastrófica: o processo revolucionário não pode parar e a Elite ou o Partido irá se perpetuar no poder alimentando a utopia de que um dia haverá a tão esperada sociedade justa e igualitária. O Nazismo, o fascismo e o comunismo não nos deixam dúvida de que a egolatria aliada à máquina estatal e ao aparato técnico só ampliaram o poder secular dos senhores da guerra em nome da utopia baseada na farsa do homem universal e seus direitos.