Diário do aluno de um astrólogo

As páginas que o querido leitor está prestes a ler foram escritas, ou melhor, rascunhadas meses atrás. Confesso também que pela falta de uma memória exuberante, as datas não correspondem aos dias corretos nos quais os testemunhos e as confissões se concretizaram. Por derradeiro, começo com minha primeira confissão; as linhas que se seguem encarnam histórias vividas no colégio estadual Dr. Amé****. 

05 de março de 20…

A aula me foi estranha hoje. Em pleno fervor das eleições, e também em plena aula de matemática, entraram em nossa classe uns dez ou doze jovens – não me lembro com exatidão – com as camisetas iguais, todas com a mesma estampa e com a mesma cor: no fundo azul relevavam-se as letras “UNE”.

De início não soube dizer o que a sigla saliente carregava em seu significado, por mais sugestivo que o fosse. Após entrarem, começaram a “discursar” – coloco entre aspas por saber que não é a melhor palavra para o que ali faziam – sobre os vindouros eventos que estavam a planejar. Dentre eles estavam um sarau literário, ou melhor “um sarau só com autores negros”; também um evento sobre ideologia de gênero, ou melhor “uma palestra para abrir nossos olhos e tirar-nos do que é retrogrado”.

Pedidos de sugestões também nos foram pedidos. A primeira sugestão, que originou-se duma menina, era uma palestra/debate sobre o aborto. Todavia a sugestão carregou consigo uma obrigatoriedade: que não tivesse ninguém contrário à pauta. Obviamente todos, menos eu, aplaudiram, considerando a ideia o suprassumo da genialidade.

Naquele instante sugestivo, o rosto do professor que até então lecionava sobre logaritmo estava impassível, apesar de completamente indignada. O que amoleceu a face – que parecia resistível a tudo; como se estivesse acumulado forças de todos os séculos passados – foi uma pergunta que o fizeram.

Tratava-se de um aluno, perguntando-lhe se ele recomendava que a classe fosse à ocupação que os sujeitos de camisa estampada estavam nos chamando. Imediatamente o garoto ouviu um “Não!” e dos mais fortes. Sem o aval, travou-se então uma briga entre todos, um grita de cá o outro acolá, e todos contra o professor.

Creio ter ouvido em meio a tantas vozes, a mesma menina que sugeriu a aborto, ultrapassar a vulgaridade do seu decote com a voz gritada, referindo-se ao professor:

– Cala a boca seu fascista de merda! O Lula fez algo pelo país, e você faz o que?

Após 15 minutos o pessoal da União Nacional dos Estudantes – este é o significado da sigla – deixou a classe, entregando-nos adesivos pequenos com escritos que variavam entre “Quem mandou matar Marielle”, “Polícia racista” etc, e uma programação dos eventos vindouros, inclusive a ocupação. Como nada tinha eu dito na ocasião, fui o único não covarde a procurar o professor depois da aula e perguntar-lhe se sentia-se bem. Olhando para mim, após as perguntas que lhe fiz, disse-me abotoando a camisa e ajeitando os óculos:

– Estou bem, contudo. Triste é ver os que defendem as minorias diversas não respeitarem a menor minoria, a minoria do indivíduo: a minoria de um só. Reparei que você não disse nada e digo que você deve falar.

– Mas eu não sabia o que dizer, retruquei. De onde o senhor tira essas ideias?

– Eu lhe direi, mas é um segredo nosso, porque se disserem que disse este nome, me demitirão.

– Pois bem, diga.

– Eu sou aluno do filósofo Olavo de Carvalho, estude-o, tome este livro e leia os artigos que ele escreveu. Mas não diga, pelo amor de Deus que eu te dei esta obra e que eu te disse isso. Nunca!

10 de março de 20…

Demorei para aqui voltar, não por desprezo, mas por disciplina. Comecei a ler o livro “proibido” que o professor me deu e não consegui parar. Compartilhei a informação apenas com um de meus colegas e cometi um de meus maiores erros. Disse-me ele que amanhã dirá na frente de toda a sala, na aula de sociologia quando estivermos estudando sobre o comunismo que nunca existiu, que eu leio livro de um “reacionário” e “terraplanista”.

Não me importo, continuarei lendo. Volto rapidamente a escrever pois novamente algo anormal voltou a acontecer no colégio. Ao tocar do sinal que indicava o final da primeira aula do segundo turno, entrou em nossa sala o professor de geografia, com a mesma camisa que os estudantes de dias atrás vestiam.

A única diferença era a cor: ao invés de azul era vermelha. Trajava ele também uma boina, com uma foice e um martelo, e um dos adesivos que os jovens tinham dado escrito “Lula Livre”. Já sabia eu sumariamente os significados de todo aquele traje, pois dava para ler aquele sujeito hoje dos pés à cabeça e se o espremesse, eu conseguira nada mais do que discurso militante, progressista e petista. (Para mim agora estas palavras já não são vazias), apreendi-as esta madrugada com uma aula do tal professor Olavo.

A primeira coisa que escreveu no quadro foi: “o preço de não se interessar por política é ser governado por um fascista e por um astrólogo”. No final da aula que nada nos foi ensinado, além de jargões, saiu de sala dizendo:

– Ei Bolsonaro, vai tomar no c*! Foro de São Paulo é Fake News da direita!

Preciso ir, o Olavo deve saber o que é o Foro de São Paulo. Amanhã talvez voltarei.

11 de março de 20…

Fui descoberto! O que se dizia meu amigo contou a todos de minha nova influência intelectual. Logo no início da aula, o sujeito abriu a minha mochila, tomou-me o livro que ontem adquiri, O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota, e colocou sob a mesa, imediatamente chamando a professora.

Foi então que a senhora me olhou e disse:

– Esse astrólogo não tem autoridade de entrar em minha aula, jogue esta merda fora daqui. Ele não tem nenhum trabalho científico. Na minha aula não vai entrar.

Eu já despido de todo o medo e receio de desaprovação, mandei-a ficar quieta, dizendo que aquele livro deveria estar em outro lugar, afinal de contas aquilo era uma desonra à obra de tão grande intelectual como o professor Olavo.

– Um palavrão desse velho vale mais que um semestre de aula que você possa dar – disse eu, antes de ser educadamente retirado às vaias da sala de aula, e antes também de ouvir um “cala a boca” de minha professora cuja autoridade é incontestável.

Proibido de pegar a mochila e o livro que nela estava, fui ao sarau sobre os autores negros. Foi então que colorizando a literatura de preto, os racistas ali presentes passaram horas discursando sobre o tema. A linha que começou em Machado terminou em Marighela e o “Manual do guerrilheiro urbano” teve à disposição – precisamente – 45 minutos para ser discutido, enquanto “Memórias Póstumas de Brás Cubas” ou “Triste fim de Policarpo Quaresma” só não foram mais desprezados porque receberam juntos a honra de 5 minutos.

Aproveitando também que o tema era, sobretudo, a literatura, perguntei para organizador que nas horas livres deveria ter como passatempo o hábito de invadir casas (posto que usava um novo modelo de camiseta, esta do MST) o que era literatura.

A reposta deu voltas e estacionou na proposição:

– A boa literatura, serve para conscientizar nóis. Você tem que ler as vanguardas, os modernistas e tem que louvar isso aí. Num lê esse mano Shakespeare não, ele era um racista e machista.

No final de tudo isso, mais uma hora passei ouvindo os motivos pelos quais as palavras eram racistas e sobre o racismo estrutural. Mas não seria racismo se os brancos deixassem de usar palavras “negras” – como eles disseram – Pelo fato de serem “de negros”? Isso não me responderam, acabou-se tudo em batalha de rima.

2 de abril de 20…

Justifico minha ausência em uma nova circunstância: agora sou aluno do curso online de filosofia. Passo meus dias estudando isto, devo ler muita literatura universal para integrar-me na alta cultura e formar meu imaginário. Estou certamente me tornando gente.

Agora, quanto ao colégio… já não ouço mais certas aulas. Ontem, na aula de língua portuguesa, a professora disse-me que o melhor da literatura brasileira era Chico Buarque.

Com cheiro de maconha, o professor de filosofia disse não conhecer Gustavo Corção e Chesterton. A doutora em história que nos dava aula, confessou não conhecer José Bonifácio.

Lendo quieto em minha mesa um livro sobre o feminismo, de cabeça baixa, fui surpreendido quando uma mão tatuada levantou a capa belíssima feita pela Vide Editorial. Ao ver o título, a professora que sequer pronunciava corretamente o nome de Gramsci e chamava teologia da libertação de “teoria da libertação” repetidas vezes, propôs um debate sobre o feminismo.

Findo o debate contentado escrevo estas páginas. O debate não se iniciou, pois quando perguntei o nome de uma única autora feminista, não me responderam e chamaram-me de machista. O único argumento que me especularam se tratava da conquista que o movimento feminista consolidou de as mulheres terem o direito de usar calça jeans.

Quando olhei para quem comigo debatia tive a surpresa: usava um dos mais curtos shorts que já vi em minha vida. Nada disse eu. A defensora do direito de abortar ao meu lado certamente respeitava e honrava a única conquista feminista: a promiscuidade justificada.

 Enfim, amanhã a aula será sobre a ditadura militar.

3 de abril de 20…

Levantei-me hoje mais cedo, tomei a edição da “Nova era e a Revolução Cultural” e alguns outros apontamentos do professor Olavo sobre política. Preparado, fui à escola aguardando a aula sobre a ditadura militar.

Carreguei a bolsa com outras cinco obras, algumas de ficção, visto que chegaria mais cedo ao colégio poderia terminar de ler O feijão e o sonho lá mesmo. Chegando, procurando um bom ambiente (leia-se sem odor de maconha, bitucas de cigarro ou camisinha) para ler, passei pela sala dos professores e ouvi o diálogo matinal dos grandes doutores:

– Hoje darei uma aula sobre o Comunismo.

– Mas você nunca leu Marx, nem Engels.

– E daí? Não precisa. É só dizer que nunca existiu.

– Falarei hoje do Fascista que é o Bolsonaro.

– Passarei um exercício para que as meninas conheçam o próprio corpo e também trouxe alguns panfletos sobre o aborto.

Entrou nesse momento um estagiário. Que ouvindo a conversa quis se manifestar, mas logo foi interrompido por um dos letrados que disse:

– Aqui a gente é tudo feminista, marxista e progressista. Tome – disse entregando um papel para o novato – este papel é para que você aprenda os jargões para quando alguém se referir àquele que não pode existir entre nóis que somos professores e filósofos de verdade.

Atrevi-me a olhar o papel que grafava, sob o título “assassinato ao guru do governo”, uma lista de alguns nomes, ou apelidos para se referir ao professor Olavo. Dentro os quais estavam: “reacionário”, “muçulmano disfarçado”, “um fascista ocidental radicalmente islamofóbico” ou até “antissemita”. Com essa bela receita de assassinato me deparei, e no rodapé do folheto louvavam também o PayPal.

Certo que nem para a aula fiquei, voltei para casa, ao belo som do True Outspeak.

Vida ao filósofo.

4 de abril de 20… A especialidade dos comunistas é o assassinato, quando não matam pela fome ou por fuzilamento, a arma mais eficaz é empobrecer o sujeito e censurá-lo. A presença do professor Olavo no mundo pode hoje por muitos ser considerada um erro, todavia difícil é desocupar, ou melhor, ocupar um lugar tão importante e restaurador. 

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Yuri Ruiz

Yuri Ruiz

Um jovem conservador, antifeminista, antimarxista e cristão.

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