Imagem: © Julian Anderson / eyevine

Eric Hobsbawm e a matança justificada em nome do paraíso pós-apocalíptico

Já abordei em alguns textos a questão da relação entre ideologias políticas e pensamento messiânico ou apocalíptico, fenômeno que fora magistralmente estudado e explicado por Eric Voegelin. Para quem estiver adentrando a literatura sobre o assunto agora, recomendo a leitura do excelente Missa Negra de John Gray.

O pensamento messiânico das ideologias totalitárias costuma se apresentar da seguinte maneira: um endeusamento radical do futuro, transformando o presente em campo de ação para o estabelecimento desse futuro paradisíaco pós-apocalíptico, sendo que o emprego de quaisquer meios para atingir este fim estão automaticamente justificados em nome do bem maior a ser realizado nesse futuro, inclusive o extermínio de quantos milhões for necessário. É a realização maior, ainda que pueril de tão radical, do lema “os fins justificam os meios”.

Também é preciso deixar bastante delimitado que a matança perpetrada por regimes revolucionários não é consequência aleatória do mesmo, mas sim seu corolário. No percurso rumo ao mundo melhor pós-apocalíptico é indispensável que TODOS os opositores à revolução (reacionários, “inimigos da pátria”, “traidores da classe” etc.) sejam perseguidos, encarcerados, escravizados e/ou exterminados. Isso não é uma efeito colateral fortuito e temos exemplos históricos mais que suficientes para sustentar esse fato.

Esse aspecto dessas doutrinas é mais um que torna evidente a natureza revolucionária de ideologias como nazismo e comunismo. Muito se discute sobre a localização do nazismo no espectro político, quando seu conteúdo ideológico responde por si mesmo. Tanto Hitler quanto Trotski, Lênin e Stalin pretendiam criar um novo homem. É evidente que para isso é necessário: a) uma inversão radical, total e completa na ordem da realidade (Voegelin) e b) a eliminação sistemática de quem impeça ou se coloque em posição de impedir isso: judeus, kulaks, burgueses etc. Visto desse ângulo, perseguir por motivos raciais ou classistas é quase que indiferente, a questão reduz-se a um mero detalhe ideológico insignificante com tantos outros detalhes que unem as duas ideologias citadas, irmãs univitelinas que escolheram caminhos distintos que levam ao mesmo lugar.

Abaixo segue trecho de famigerada entrevista com o aclamadíssimo historiador marxista Eric Hobsbawn, livro de cabeceira da historiografia marxista e presença garantida em concursos públicos, ENEM etc., onde o mesmo admite que se o comunismo tivesse “dado certo” teria valido a pena assassinar 20 milhões de pessoas. O que impede que se matem outros 20 milhões em uma nova tentativa?

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André Assi Barreto

André Assi Barreto

Bacharel, licenciado e mestre em filosofia pela Universidade de São Paulo. Licenciado em História. Professor de Filosofia e História das redes pública e privada da cidade de São Paulo. Pesquisador da área de Filosofia (Filosofia Moderna - Dercartes, Hume e Kant - e Filosofia Contemporânea - Eric Voegelin e Hannah Arendt) e aluno do professor Olavo de Carvalho. Trabalha, ainda, com a revisão de textos, assessoria editorial, tradução e palestras. Coautor de “Saul Alinsky e a anatomia do mal” (ed. Armada, 2018).

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